quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Teaching Machines: The History of Personalized Learning


Audrey Walters (2021). Teaching Machines: The History of Personalized Learning. Cambridge: MIT Press.

Confesso que me senti um pouco defraudado ao longo desta leitura. Esperava uma história das várias vertentes do uso de tecnologia na aprendizagem, entre software e hardware. Mas o foco do livro é mais estreito, contando-nos a história das máquinas de aprendizagem, dispositivos (analógicos, convém sublinhar) inicalmente desenvolvidos por Sydney Pressey nos anos 20, e posteriormente por B.F. Skinner (se o nome vos é familiar, é esta figura que os Simpsons parodiam com a personagem do diretor Skinner). 

Estas máquinas eram essencialmente dispositivos analógicos de feedback automatizado para tarefas rotinadas. E é aí que reside o mais interessante neste livro, o mostrar-nos a filosofia de aprendizagem que está por detrás deste tipo de equipamentos, bem como as percepções sociais sobre educação que os sustentam. O método é sempre o de reduzir as aprendizagens a unidades essenciais, que o aluno tem de completar para ser bem sucedido. É uma forma redutora e mecanicista de encarar a aprendizagem, apesar de, claro, também ser um método com utilidade. Isto da aprendizagem não se deixa domar por visões unicistas, e quando alguém apregoa que encontrou a chave do sucesso educativo com base numa vertente, geralmente está a fazê-lo ignorando as outras vertentes possíveis.

O papel de Skinner aqui é especialmente inquietante, percebendo-se o seu princípio de condicionamento operativo aplicado aos sistemas educativos como algo essencialmente repressivo, negador de liberdades e diversidade individual.

Estas máquinas falharam, em parte pelas suas limitações tecnológicas, em parte por serem redutoras, e também por serem um tédio para os pobres alunos. A extrema mecanização educativa costuma ser contraproducente, e não é muito fácil convencer administradores escolares a comprar equipamentos cujo uso se esgota depressa. O que não significa que estas máquinas tenham sido um ramo decaído das tecnologias educativas. Bem pelo contrário, com mostra a autora, no seu capítulo final onde liga a história desta tecnologia esquecida com o panorama geral das aplicações tecnológicas educativas.

O legado destas máquinas de aprendizagem está vivo e de boa saúde, quer na tecnologia educativa, quer na sociedade digital. Muitos dos modernos sistemas de aprendizagem seguem os princípios de divisão do conhecimento em pequenas parcelas incrementais, e reforço positivo das aprendizagens. Nem o trabalho de Seymour Papert, que tem uma base conceptual totalmente oposta, o construcionismo, escapa na sua aplicação a este tipo de determinismo, primeiro na linguagem logo e agora no ambiente Scratch (embora a autora não refira que se a base de aprendizagem papertiana era, necessariamente, fragmentada, a abertura do que se faz com as ferramentas que inspirou é incomparavelmente maior ao mecanicismo da esmagadora maioria do software educativo, demasiado do qual se centra na ideia de treinar competências). Em termos sociais mais abrangentes, o behaviourismo skinneriano, com todo o seu cinismo e visão redutora do humanismo, é o que sustenta a corrente economia digital. A competição pela atenção, o constante reforço positivo dos utilizadores através de likes e outros mecanismos, que se torna aditivo e tem como objetivo último maximizar os lucros da empresa, não trazendo nada de enriqueceder à pessoa, são decalcados dos métodos de Skinner. E todos já vimos como a tirania dos likes está a correr bem, em termos psicológicos do indivíduo e na progressiva fragmentação social trazida por bolhas de informação cada vez mais extremadas.