Stephen Kershaw (2010). A Brief Guide To Classical Civilization. Londres: Robinson Publishing.
Grécia e Roma são os dois grandes pólos do eixo cultural que estrutura a civilização ocidental. O que somos, hoje, devemos em grande medida à herança cultural, política e social destes dois pólos. Seria injusto considerá-los exclusivos, as nossas identidades culturais europeias e ocidentais construíram-se também com outras influências. Mas a segurar tudo isso, estão os ideários culturais que herdámos da Grécia, as ideias de beleza, democracia, apreço à cultuea, filosofia, e, em essência, questionar o mundo; bem como o peso da estrutura romana, das leis, da infraestrutura, e no nosso caso, da própria língua que falamos.
São os dois grandes faróis do ocidente, mas seria incorreto considerá-los modelos de virtude absoluta (mas há quem o faça, geralmente moralistas modernos que se incomodam com o facto de outros não partilharem das suas formas de ver o mundo). É algo irónico ler sobre estas civilizações e perceber que as olharmos com as lentes que a sua herança cultural nos legou, ficaríamos chocados com as suas imperfeições. Violência institucional, dogmatismo religioso, corrupção e populismos, economias assentes no esclavagismo, xenofobias, inexistência de direitos das mulheres, tudo isso caracterizou estas sociedades. É sempre bom observar que a democracia grega era, do nosso ponto de vista, uma plutocracia, ou que a romanização que faz parte do ADN foi em essência um processo de colonização violenta. E, no entanto, conseguiram legar-nos o lado elevado dos seus valores.
Este livro tenta o complexo, transmitir-nos a evolução destes dois mundos. Inicia na civilização minóica, o ponto inicial da antiguidade clássica, e leva-nos ao auge cultural da Grécia clássica. Curiosamente, passa ao lado de Alexandre, o foco do livro é a Europa e não o oriente. Mostra-nos em seguida a mais hegemónica Roma, com as suas caracteristicas próprias bem vincadas, apesar de serem seduzidos pela influência cultural grega.
O final do livro ressoa. A páginas tantas, Kershaw fala-nos da Eneida, o poema épico de puro nacionalismo romano, onde Vergílio se apropria da Ilíada para mostrar que os romanos são os herdeiros da idade heróica grega. O poema termina com linhas que nos falam da eternidade romana, de um poder que nunca se desvanece. Vivemos quase dois milénios após a queda do império. O povo e a entidade política extinguiram-se. Mas a sua herança subsiste na nossa identidade cultural. Sob esse ponto de vista, somos todos romanos, e a luz do império nunca se extinguiu.