Eurico da Fonseca (1999). O Terceiro Milénio. Lisboa: Livros do Brasil.
Tenho um gosto peculiar por livros antigos de futurismo. Não olho para eles com aquele olhar condescente, de ah, o quanto eles se enganaram naqueles tempos do passado em que se atreviam a especular sobre o futuro. Prefiro lê-los de forma comparativa, percebendo o que ainda hoje nos preocupa, aquilo que ficou irremediavelmente datado, e, também, aquelas esperanças futuras que ainda hoje nos soam a sonho.
Eurico da Fonseca é bem conhecido dos leitores de FC portugueses por ser o prolífico tradutor de várias coleções clássicas (e, dizem os entendidos, não especialmente bom tradutor). Neste livro, segue por outros caminhos, puxando das suas especializações em astronáutica para procurar falar sobre o novo milénio que, no final dos anos 90, estava ao virar da esquina.
É interessante comparar este futuro provável visto do final do século XX com as preocupações que temos hoje. A questão ambiental, que para nós é emergência grave, é aqui ainda pouco aflorada. As preocupações futuristas focavam-se mais no crescimento populacional excessivo, pressão sobre recursos naturais e economia.
O livro ganha vida ao falar de espaço, com detalhadas apresentações de propostas e projetos de exploração espacial, bem como de tecnologias em desenvolvimento. O deprimente, lendo este livro 24 anos depois da sua publicação, é que muitos dos projetos não passaram disso, e ainda continuamos longe de tecnologias que nos permitam ir aos planetas do sistema solar, bem como passar mais além. Esses sonhos, continuam a ser uma esperança longe de ser realizada.
Lendo uma curta biografia do autor na wikipedia, não posso deixar de registar a ironia de ter falecido precisamente na viragem do século que procurou antever neste livro.