quinta-feira, 18 de maio de 2023

Dead Inside


Chandler Morrison (2015). Dead Inside. Createspace.

De vez em quando, presto atenção às sugestões literárias de booktokers. É uma boa forma de descobrir novidades, ainda um pouco livre da pressão editorial que é normal noutras redes sociais. E, também, uma forma de perceber novas tendências e estéticas nos domínios do fantástico. É curioso ver a divulgação de novos autores vindos de pequenas editoras e independentes. O que não significa que sejam leituras excelentes, em boa parte dos casos, e não vem daí mal disso. 

Este é um desses casos, um livro que pretende ser chocante e visceral, mas pela forma clínica como se compraz na descrição de situações escabrosas, mal consegue passar do voyeurismo grand guignol. Livros que pretendem ser negros mas se desenrolam de forma luminosa raramente atingem o que almejam. O que não signifique que não deixe de ser divertido lê-los, e desfrutar das suas tentativas de perversidade.

A história centra-se no encontro implausível entre um homem e uma mulher. Ele, é necrófilo e aproveita-se da sua posição como vigilante nocturno de um hospital para dar largas aos seus gostos. Ela, médica, tem como hábito o devorar em cru de fetos humanos abortados. A soma destas duas inconsistências é, como não poderia deixar de ser, um mergulho em perversidades, e essencialmente um confronto entre duas personalidades que estão totalmente à parte de normativos sociais. Mas, não passa daqui. 

Comparo este livro com American Psycho de Ellis, onde a descrição clínica de sevícias de psicopara justaposta à vacuidade do estilo de vida yuppie funciona como crítica corrosiva aos excessos do capitalismo. Aqui, é apenas uma história de violência algo gratuita, escrita para deleite com a negritude. Não deixa de ser uma leitura divertida e bem estruturada, mas não consegue ser tão tenebrosa quanto pretende ser.