Eça de Queirós (1927). O Mandarim. Porto: Livraria Chardron Lello e Irmão.
Regressar ao texto clássico de Eça, pelo puro prazer. Prazer de releitura, de redescobrir a forte acidez irónica deste conto fantástico e maldito. Onde não há bondade, apenas cupidez e desejo de aparentar, de exposição social, de conquista de respeito pelas aparências, da sedução do dinheiro. Conto também de um certo deslumbre orientalista, de gosto pelo imaginário dos distantes orientes. Mas, também, o prazer de folhear um livro-objeto. Tive a sorte de me deparar com uma edição de 1927, surpreendentemente bem conservada. De um papel quase centenário, ainda lustroso ao toque. Com palavras de um português arcaico, que nunca soou aos meus ouvidos de final de século XX, tornando mais exótica a leitura. O prazer de contemplar as ilustrações de Rachel Gameiro, naquele estilo de elegante bom gosto mais a puxar ao fin de siécle do que ao modernismo. E recordar o apontar de dedo final de Eça, recordando-nos que nenhum mandarim chinês restaria vivo se só bastasse um tilintar de campaínha para lhes herdar a fortuna, pois nenhum leitor resistiria à sedução das riquezas e luxos.