quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Comics: Frontline Combat; Providence Compendium; Typhoid Mary


Harvey Kurtzman, et al (2021). The EC Archives: Frontline Combat Volume 3. Milwaukie: Dark Horse Comics.

Rever estas histórias é recordar um período de ouro dos comics. Não pelas histórias em si, são bastante banais, como se esperaria de revistas de consumo popular. Olham para a guerra pela vertente de enaltecimento do heroicismo, do patriotismo. Nada contra, claro, há que olhar para elas com a lente da perspetiva histórica, estamos a falar de arte pop para consumo de massas dos anos 50. Mas não merecem ser esquecidas, pelo seu elevado nível gráfico. A EC Comics legou para o futuro o trabalho de ilustradores geniais, as suas publicações sempre foram sinónimo de qualidade visual. Nesta colectânea dedicada a Frontline Combat, podemos recordar o traço de Alex Toth, John Severin, Joe Kubert, e o sempre incrível detalhe de Wally Wood. 

Alan Moore, Jacen Burrows (2021). Providence Compendium. Avatar Press.

Se não me falha a memória, este foi uma dos últimos trabalhos de Alan Moore antes de se reformar como escritor de argumentos para comics. E é um portento, com ambição extrema, e talvez impossível de concretizar por outro que não este argumentista. Providence faz o aparentemente impossível, liga os pontos entre toda a obra de H. P Lovecraft, tocando nalguns dos seus seguidores, influências e autores similares (até ao próprio Neonomicon de Moore). Apesar dos contos lovecraftianos partilharem um universo comum, o Mythos de Cthulhu, com ideias e geografias comuns, não foram criados como uma obra coerente e interligada. Moore trata disso, através de um personagem, jovem jornalista e aspirante a escritor que, após o suicídio do seu amante, visita a Nova Inglaterra em busca dos rumores de uma América oculta e profunda. E depara-se, em sucessão, com a multiplicidade de personagens criadas por Lovecraft, enterrando-se progressivamente numa teia profunda que o leva, num crescendo de horror, ao suicídio. Mas não é esse o fim da história, Moore ainda torna em ficção a influência do discreto e decadente escritor de Providence, que tinha tudo para ficar esquecido mas acabou por se tornar incontornável. Algo que Moore leva a uma conclusão lógica no absurdo do terror, com a realidade a ser absorvida pelas ficções de horror cósmico e incompreensível de Lovecraft. Uma obra cheia de referências, quer a Lovecraft, quer aos seus seguidores (o personagem que nos guia neste mergulho no horror é uma óbvia vénia a Robert Bloch), até Jorge Luis Borges faz uma aparição. Um trabalho de génio, com a métrica e precisão que só Alan Moore é capaz, mergulhando a fundo nos mitos da ficção de um autor inesperadamente marcante na literatura de terror.


Ann Nocenti, John Romita Jr. (2003). Daredevil Legends, Vol. 4: Typhoid Mary. Nova Iorque: Marvel Comics.

Diretamente do final dos anos 80 do século XX, algo muito aparente no estilo visual, uma das mais duras inimigas de Daredevil. Typhoid Mary é uma vilã de personalidade dupla, tanto pode ser a inocente e manipulável Mary, como a violenta, sem limites e com alguns poderes telequinésicos Typhoid. Na sequência da reconstrução do personagem por Frank Miller, com Matt Murdock a sobreviver à conspiração de Kingpin para o destruir, Typhoid Mary entra em jogo. A sua missão? Uma segunda tentativa de destruir Daredevil, um novo ataque em duas frentes. O herói terá de enfrentar a vilã, e o homem questiona as suas escolhas graças à influência da outra personalidade. Tudo num estilo muito anos 80, que se revê com algum sorriso de nostalgia.