quinta-feira, 22 de abril de 2021

Fleet Elements

 

Walter Jon Williams (2020). Fleet Elements. Nova Iorque: Harper Voyager.

Este livro sofre com o clássico síndrome de meio de trilogia, agudizado por ser o sétimo de uma série que vai claramente para duas trilogias. Mas não deverá dar origem a uma terceira, este Fleet Elements mostra que o universo ficcional está a esgotar-se. Ou melhor, algumas das premissas invariáveis deste universo já deram o que tinham a dar, e as histórias tornam-se repetitivas. Há um caminho que Williams de vez em quando vislumbra, mas não segue.

Um dos pilares desta série é o imobilismo, um sentimento injustificado que cruza o conservadorismo com o atavismo. É o resultado de milénios de um império galáctico estável, regido com mão de ferro pelos seus fundadores, que era mais do que meros colonialistas. Eram  uma espécie convicta de ter encontrado a verdade absoluta e o sistema perfeito, e lançou-se numa jihad espacial não para conquistas, mas para reformular as diferentes espécies alienígenas que encontrou à sua imagem e semelhança moral (porque a física seria impossível). 

Agora que esses líderes se extinguiram, a sociedade que construíram - injusta, assente em clientelismos e elites, que pune desvios à norma moral com tortura pública e morte) mantém-se, apesar de mostrar rachaduras e conflitos internos que são o que Williams explora. Mas todos se passam dentro do seio do conservadorismo, e esse é o elemento que me está a irritar na série: sem a mão pesada dos líderes, a sociedade não colapsa, mantém-se numa instável estabilidade em que as instituições tremem, há guerras, mas a sociedade continua a acreditar piamente nos pressupostos que a oprimem. Talvez, seja uma metáfora da identificação do oprimido com os opressores, em que mesmo livres da opressão direta, os oprimidos perderam a noção da liberdade?

O livro em si vai avançando a história, desta vez com a reação dos humanos, uma das muitas espécies inteligentes do império, ao risco de quase extermínio e perda de poder no âmbito das intrigas palacianas de uma elite que vê o império apenas como meio de enriquecer. Os humanos conseguem recuperar forças e recursos, e numa batalha pírrica, derrotar as poderosas forças imperiais, num jogo mortífero onde o maior poder de fogo imperial é derrotado pela visão estratégica conservadora. A história também parece resolver a eterna tensão amorosa entre os seus dois principais personagens, embora no final reverta a situação de um modo particularmente rudimentar. Ainda nos introduz uma nova potencial linha narrativa, com vestígios de uma civilização exterminada nos primeiros séculos da expansão do poder imperial, o que faz notar que os ancestrais do império não eram infalíveis e nem todos se deixaram subjugar aos seus ideais. Este é o  elemento mais interessante do livro, e esperemos que seja desenvolvido no próximo volume da série.

Fleet Elements é um livro sem o fôlego dos anteriores, segue o seu caminho, previsível. Percebe-se que existe apenas para avançar a história, sem grandes rasgos de interesse. Pior, uma vez que a série vai longa, somos mimados com inúmeros infodumps sobre o historial dos personagens, destinados a situar eventuais novos leitores.