quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Dylan Dog: L'ultima risata; L'entità; Scrutando Nell'Abisso

 

Roberto Recchioni, Corrado Roi (2020). Dylan Dog #406: L'ultima risata. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Poderá Groucho, que sempre conhecemos como o patético sidekick de Dylan Dog, ser um tremendo vilão nesta nova série? Neste episódio, tudo aponta para que sim. O sósia de Groucho Marx espera Dylan no cerne de um manicómio, como aranha no centro da teia. Cada cela do manicómio traz consigo um novo horror, que Dylan enfrenta com ajuda do seu companheiro Gnaghi. E, pouco antes do confronto final, percebemos que este novo Groucho é um servente de Mater Morbi, parte das suas tentativas de subjugar Dylan. É nesse confronto final que Recchioni arruma o anacronismo de Gnaghi, matando-o às mãos deste diabólico Groucho. Que só é eliminado quando alguém atira a pistola a Dylan para este poder eliminar a criatura. É mais um Groucho que o faz. Confusos? Recchioni deixou pistas para recuperar este personagem incontornável. Ao longo do arco narrativo sobre este Groucho assassino, insinuou que havia um outro imitador desta figura da comédia, que nem tinha sido assassinado nem sido localizado. É com este artifício elegante que Recchioni repõe a normalidade a Dylan Dog. O vestuário regressa ao que conhecemos, a barba pesada desaparece, e Groucho volta a ser o sidekick do Indagatore Dell'Incubo. Mas o episódio é fantástico, entre as assombrações do manicómio e Groucho como palhaço maléfico do crime. Agora resta perceber se este redefinir de Dylan Dog se mantém, e para onde levará os personagens.

Barbara Baraldi, Corrado Roi (2020)  Dylan Dog #407: L'entità. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Depois de um ciclo fantástico, que redefiniu Dylan Dog através de uma viagem de recriação das suas raízes, voltamos ao normal. As modificações vieram para ficar, embora se tenham diluído um pouco. Nesta aventura, Dylan investiga o estranho caso de uma rapariga condenada a ser virgem. Todos aqueles com quem se relaciona têm uma morte violenta. A origem do problema está numa maldição advinda de um rito selvagem do passado. A mãe da rapariga foi uma das sobreviventes de uma expedição malograda no Brasil, que acabou em dupla tragédia, com a aeronave em que seguiam a despenhar-se na selva e os sobreviventes caçados por uma tribo incontactada com tendências canibais. A sacerdotisa da tribo faz um ritual em que implanta um demónio milenar no corpo da mulher. Este, agora, quer passar a possuir a filha. Argumento muito certinho e direto, linear e previsível, numa aventura divertida e, essencialmente, normal, é apenas uma aventura do Old Boy. 

Gigi Simeoni, Marco Soldi (2020).  Dylan Dog #408: Scrutando Nell'Abisso. Milão: Sergio Bonelli Editore.

O que parece ser um policial procedimental, acaba com um expectável toque de sobrenatural. Londres parece estar a ser assolada por um assassino em série, com um alvo muito específico - idosos que passam os dias a observar estaleiros de obras. A pedido da ex-mulher, a inspetora Rania (a revisão de Dylan Dog às mãos de Recchioni arrumou as aproximações entre estas personagens na versão clássica da série), Dylan começa a investigar os casos. Cruza-se com um destes idosos que se entretém a ver obras de construção. Mas este é diferente, arrancou as pálpebras e não consegue parar de ver. Será essa a chave do mistério, e Dylan encontra uma forma de neutralizar um monstro que se esconde nas fímbrias da nossa percepção, naquele momento fugaz em que deixamos de ver por piscar os olhos. Simeoni é um argumentista competente, se bem que pouco inspirado, e leva-nos numa aventura mediana.