quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Dylan Dog: La lama, la luna e l'orco; Anna per sempre; L'uccisore

Roberto Recchioni, Nicola Mari (2020). Dylan Dog n. 403: La lama, la luna e l'orco. Milão: Sergio Bnelli Editore.

Adensa-se a revisão de Recchioni a Dylan Dog. Nesta aventura, Londres é assolada por um serial killer que elimina as suas vítimas de forma bizarra, como se fossem piadas foleiras escritas a sangue. Após escapar a um reconto rápido de Jack lo Squartatore, com uma jovem louca convencida que é o lendário assassin0 e um duelo frente à sua efígie no Madame Tussauds, que acabará por arder, Dylan cruza-se com um homem que se se chama de ogre a si próprio, que tem um segredo criminoso. Mas não será este o assassino que a polícia procura, apesar do seu crime.  Entretanto, em sonhos, Dylan enfrentará uma feiticeira lunar, que o quer castigar por ser um matador de monstros. Num detalhe discreto, tudo parece apontar para um homem com aspeto de Grocuho Marx como um dos potenciais assassinos. Como Recchioni está a fazer uma viagem pelas raízes de Dylan Dog, o cruzamento nesta aventura termina com a aparição de Anna Never, que dará o mote à próxima aventura.

Roberto Recchioni, Sergio Gerasi (2020) Dylan Dog #404: Anna per sempre. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Na sua viagem de redescoberta e redefinição de Dylan Dog, Recchioni leva-nos a uma das mais incongruentes histórias de amor do Old Boy, quando se apaixonou por uma fantasma. Mas a reconstrução de Recchioni não segue os caminhos do romantismo gótico original. Ana, a mulher que nunca existiu, e Dylan estão condenados a fazer-se mal, muito por culpa do seu alcoolismo alastrante. Tudo se sucede em sonhos que evoluem para pesadelos verdadeiramente monstruosos, sem distinção entre sonho e realidade. Tudo culmina com a hospitalização de Dylan por tentativa de suicídio, onde na solidão hospitalar Recchioni faz a ligação entre Mater Morbi, a sua grande contribuição para a mitografia dylaniati, e o clássico Anna Never de Sclavi, revelando que o espírito de Anna afinal era uma projecção da mãe de todas as doenças, ela própria fascinada por Dylan. Para a enfrentar, Dylan percebe que tem de assumir a sua doença, e entra no caminho de combate ao seu alcoolismo.


Um dos prazeres desta série são as referências inteligentes ao corpus cultural do terror, e Recchioni não só sabe disso como peja os argumentos de piscadelas de olho inteligentes. Sclavi era diferente, urdia histórias que eram elas próprias referências ao horror clássico. Recchioni usa as referências mais como enriquecimento do personagem e dos seus cenários (e ainda bem, não se quer uma eterna repetição de Sclavi). Neste episódio, há um detalhe que faz sorrir os fãs. Quando Anna questiona Dylan sobre a sua profissão, comenta que não deve haver muitos outros a fazer o mesmo que ele. Bem, não, observa Dylan, há um tipo perto de Liverpool a fazer isto, um cínico bastardo alcoolatra. A diferença é que Dylan não é cínico. A vénia a John Constantine é óbvia. 

Roberto Recchioni, Giorgio Pontrelli (2020). Dylan Dog #405: L'uccisore. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Nesta recriação de Dylan Dog, Recchioni usa uma tática curiosa. Encerra cada aventura com um prenúncio da próxima, que despacha rapidamente no início seguinte. Desta forma, faz o que intitula de viagem pela história do personagem, enquanto se foca na sua reconstrução. L'uccisore inicia com Dylan a mostrar-se justiceiro fora da lei, ao eliminar um lord britânico responsável por uma app para telemóveis que levava subliminarmente os seus utilizadores a cometer atos de violência. E depressa segue com a história de fundo, a caça ao assassino em série de humor macabro que, como Dylan intui, imita piadas clássicas com sangue. E depara-se com a primeira pista - as mortes são piadas macabras com as frases de Groucho Marx. O eterno companheiro de Dylan começa a manifestar-se, e ainda não se percebe se será um vilão, ou voltará a ser o fiel amigo do indagatore dell'incubo.