terça-feira, 25 de agosto de 2020

Comics: Voyage to the Deep; The Big Fall; Pandemica.


Sam Glanzman (2015). Voyage to the Deep.

Curiosidades da cultura pop do passado, e que mostram o caminho para os géneros que apreciamos hoje em dia. Nos anos 50, havia comics temáticos sobre submarinos futuristas. Herdeiros do Nautilus de Verne, com histórias de aventuras submersas. Voyage to the Deep seguia as aventuras do submarino Proteus, cuja tecnologia lhe permitia mudar de forma e com isso vencer os monstros marinhos com que se cruzava. A sua tripulação estava em luta contínua contra os planos de um inimigo nunca referido. Se bem que, sendo um comic dos anos 50, não é difícil ler "União Soviética" sempre que os personagens referem the enemy. Os esquemas são sempre apocalípticos, cataclismas capazes de aniquilar o planeta mas que se traduzem sempre por catástrofes na América. Esquemas sempre travados com um torpedo nuclear bem aplicado. Hey, anos 50, certo? Por detrás da ilustração está Sam Glanzman, um nome secundário da era clássica dos comics, que ficou conhecido pelas suas histórias semi-autobiográficas sobre a guerra naval no Pacífico.


Dan Jurgens. Mike DeCarlo (2019). Booster Gold: The Big Fall. Nova Iorque: DC Comics.

Sempre vi Booster Gold como um personagem secundário, eterno sidekick nas histórias da Liga da Justiça. Mas já teve direito ao seu título mensal, e o conceito base que lhe deu origem é intrigante, uma pouco subtil crítica ao capitalismo e sociedade do espetáculo dentro dos limites conceptuais e estéticos dos comics. Vindo do futuro, onde a sua ambição e sede de dinheiro o tornaram num zé-ninguém, Booster rouba tecnologias que lhe conferem poderes para vir ao seu passado, nosso presente. Aproveitando-se do que sabe sobre o nosso futuro, apesar de haver uma grande lacuna nos registos do final do século XX, Booster cultiva a imagem de herói e famoso, procurando sempre maximizar a exposição publicitária e o marketing da sua imagem. No entanto, apesar de ser claramente interesseiro, não é ganancioso, e tenta mesmo ser um herói, enquanto combate as ameaças contínuas trazidas pelo seu arqui-inimigo, um senador americano que também é líder de uma organização criminosa. Apesar da sua constante preocupação em ficar bem na fotografia e ganhar uns trocos com isso. Não será uma crítica corrosiva à vacuidade da cultura de celebridades, mas dentro do mainstream dos comics, tem o seu quê de subversivo.


Jonathan Maberry, Alex Sanchez (2020). Pandemica. San Diego: IDW.

A premissa do livro é interessante: uma série de epidemias devasta o mundo, mas há algo de comum às suas vítimas - são poucas as brancas. Não são viroses naturais, mas sim armas biológicas de vírus geneticamente manipulados para atacar etnias, uma conspiração de supremacistas brancos que querem purificar o planeta. Mas a execução da história é desastrosa. Não se percebe bem o que se passa nela, há muitas cenas de ação com um grupo de cientistas e ex-agentes que tenta travar a conspiração, e uma bebé africana contaminada com todas as doenças e que por isso mesmo poderá ser a chave para o desenvolvimento de curas. Este livro é um daqueles exemplos de como uma excelente ideia pode ser anulada por um argumento medíocre.