quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Comics: Disney Frankenstein; James Bond; Re-Entry


Bruno Enna, Fabio Celoni (2019). Disney Frankenstein. Milwaukie: Dark Horse Comics

Uma revisitação infantil do clássico de Mary Shelly, que não o segue à letra, claro. Mas segue-o no estilo. Digamos que Donald segue as pisdas de um Frankenstein como criador de vida não natural, mas aquele que cria é um símbolo de bondade. O que é um excelente aceno à obra original, tecnicamente, a criatura de Frankenstein, na obra original, não é nenhuma encarnação do mal). Esta história tem uma brilhante iconografia em que Fabio Celoni mistura o estilo cartoon da Disney com traços góticos e românticos. Uma homenagem ao imaginário e ao gosto pela banda desenhada infantil, a partir de uma das obras mais marcantes da literatura global.


Warren Ellis, Jason Masters (2020). James Bond: The Complete Warren Ellis Omnibus. Dynamite.

Nos últimos anos, Warren Ellis tem sido aquele argumentista de eleição quando as editoras querem relançar séries ou personagens clássicos. O desafio tem sido similar, quer com Castlevania (série muito apreciada da Netflix), Moon Knight ou o recente The Wildstorm para a DC. Ellis renova as personagens, no seu estilo muito próprio, criando novas bases e premissas que depois irão ser as linhas guias para continuidade por outros criadores. A sua versão de James Bond é um exemplo disso. Em Vargr e Eidolon, Ellis revê o personagem para o século XXI, mais a partir dos livros originais de Fleming do que da mais conhecida versão cinematográfica. Crime e conspirações entre agências secretas são a base destas novas aventuras, onde Ellis puxa muito pelo estilo narrativo de ação cinematográfica.


Kelly Thompson, Carmen Carnero (2019). Captain Marvel, Vol. 1: Re-Entry. Nova Iorque: Marvel Comics.

Devemos a Kelly Sue deConnick a corrente estrutura desta personagem da Marvel. A argumentista cruzou afirmação feminina com space opera numa temporada muito interessante, onde esta heroína clássica vai para o espaço, com a sua nave e o seu gato chamado Chewie (fãs de FC percebem a piada). Era uma visão refrescante, a valorizar uma personagem feminina - em parte, sabemos que esta abertura da Marvel às visões mais progressistas é essencialmente a editora a procurar novos mercados e a manter-se relevante para o século XXI. Mas não deixa de ser uma muito interessante evolução da estética Marvel, apesar dos coros de protesto dos fanboys mais rebarbados, que ficam apopléticos sempre que as suas sacrossantas personagens se desviam um bocadinho da norma que acham ser a fundamental. Algo que só demonstra conservadorismo bafiento, tacanhez, e profundo desconhecimento dos comics, que sempre se notabilizaram pela forma como os seus personagens evoluem ao sabor do espírito dos tempos. Acreditem, não admiraríamos agora ícones como Superman, Captain America, ou Batman, entre tantos outros, se não tivessem evoluído ao longo dos tempos. Nem que seja porque a ficção popular envelhece mal, o que era empolgante e intrigante há 30, 40 ou 60 anos hoje ou é ilegível ou cringeworthy, na esmagadora maioria.

Infelizmente, Kelly Thompson não é nenhuma deConnick. A luminosidade otimista de uma super-heroína profundamente humana e com um sentido de humor muito afiado está lá. Mas as linhas narrativas são mais tradicionais, uma clássica história onde terá de enfrentar um supervilão misógino. Tem a sua piada, mas não tem o horizonte expandido da versão boss of space.