quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Children of Time


Adrian Tchaikovsky (2015). Children of Time. Londres: Pan MacMillan.

A humanidade está a espalhar-se pelas estrelas, e ambiciona algo mais: terraformar outros planetas e fazer evoluir formas de vida inteligente. Mas enquanto a avançada  civilização terrestre se expande, começa a ameaçar colapsar devido às tensões internas entre facções polarizadas. Orbitando um planeta distante, uma cientista contempla o dealbar do seu maior triunfo - um planeta terraformado, que irá contaminar com um vírus desenhado em laboratório capaz de ao longo de gerações, elevar espécies símias à inteligência. Mas, no momento crucial, é apanhada por uma revolta ao nível civilizacional, que quase extinguirá a humanidade. Resta a cientista, orbitando um planeta onde decorre uma experiência falhada, a hibernar enquanto parte da sua consciência integra uma inteligência artificial que monitoriza a evolução planetária.

Séculos depois,  a humanidade recupera a Terra, mas o legado da cisão civilizacional está a tonar o planeta inabitável. Os últimos sobreviventes abrigam-se em naves geracionais e seguem em direção aos antigos entrepostos coloniais, buscando um novo lar que assegure a sobrevivência da humanidade. Eventualmente, chegam ao planeta terraformado. Há outros, mas nenhum o foi até se tornar habitável. Mas este encerra um grande problema: já é habitado por especies inteligentes, quase incompreensíveis, animais alienígenas que, contaminados pelo vírus experimental, evoluíram e geraram a sua civilização.

Mas estes alienígenas não são humanóides. No ambiente do planeta, foram os insetos que evoluíram até ganhar vários níveis de consciência. Há um pouco de tudo, desde àcaros domesticáveis a mentes-enxame de formigas que funcionam como engenhos computacionais. A espécie mais avançada são as aranhas, que evoluíram para construir uma civilização tecnológica assente na bioquímica, assegurando a sua superioridade sobre um planeta onde, nos céus, a consciência digitalizada da cientista que os criou os observa e ainda irá guiar no combate àquela que poderá ser uma ameaça existencial: o regresso dos humanos, desesperados por um novo lar.

E mais não digo. Exceto que, se apreciarem ficção científica como literatura de ideias, que cria histórias a partir de especulação com ciência, vão ficar bem surpreendidos com este livro. A estrutura narrativa é bastante banal, uma humanidade que quase colapsa em lutas internas, e sobreviventes que se aproximam da extinção entre as estrelas, dispostos a tudo para sobreviver. É no outro lado da narrativa, na evolução da civilização alienígena, que o livro desabrocha. Para lá do toque de humor na ideia dos humanos falhados como semeadores da vida inteligente, a forma como é estruturada e descrita a evolução de vida inteligente guiada por vírus que aceleram os processos de seleção natural. O conceito de biotecnologia como base tecnológica de uma civilização de insetos inteligentes que consegue chegar ao espaço. Literalmente, com tecnologias vivas, onde pequenas criaturas dispensáveis desempenham o papel dos componentes mecânicos e eletrónicos.

Se a ideia de uma humanidade à beira da extinção forçada ao combate contra aranhas inteligentes parece saída de um filme de terror, o final do livro traz uma surpresa final, mostrando que, peculiarmente, as aranhas conseguem ser mais humanas que os humanos no reconhecimento das vantagens da cooperação interespécies.