terça-feira, 5 de novembro de 2019

Un Mundo Robot


Javier Serrano (2018). Un Mundo Robot. Córdova: Guadalmazán.

Este é talvez um dos livros mais exaustivos sobre os potenciais impactos da robótica, automação e inteligência artificial que li. Adota o ponto de vista de que esta transformação tecnológica que se está hoje a começar a fazer sentir vai ter um impacto tremendo na sociedade e mundo do trabalho, seguindo a cartilha de que a automação avançada vai custar empregos irrecuperáveis. E preocupa-se com o mundo que se poderá construir, num futuro próximo em que a economia estará em grande parte automatizada e, para milhões de pessoas, ter um emprego poderá ser uma impossibilidade.

O autor cobre as bases para sustentar os seus argumentos, com uma visão das tecnologias e tendências de IA e robótica, olhando também para a história da mecanização e seu impacto laboral. Torna-se mais interessante quando olha para as consequências sociais disto. Não assume a perspetiva de travar esta nova revolução industrial, até porque a pressente imparável. Traça futuros possíveis, que vão do sonho neoliberal de pobreza generalizada e concentração de riqueza nas mãos de uma elite, àquela visão clássica de utopia pós-escassez, com a humanidade liberta do rigor do trabalho mecanizado, sustentada por mecanismos de rendimento básico assegurado, dedicando-se ao ócio, à arte, às ciências. E, pelo meio, algumas variantes possíveis.

Do livro, retiramos uma visão da necessidade de humanizar a revolução tecnológica. Afirma claramente o óbvio: os impactos sociais da automação, IA e robótica na economia serão sempre uma escolha social e política. As sociedades não podem olhar com nostalgia para os passados e recusar esta revolução. Mas também não podem deslumbrar-se com as maravilhas tecnológicas e deixar de tomar medidas para que a distribuição de riqueza se torne mais equalitária. A preocupação de ter IAs superinteligentes que nos extingam ou domestiquem poderá ser uma eventual probabilidade a longo prazo, mas a curto prazo teremos algo mais arrepiante: o empobrecimento generalizado, a retirada de perspetivas de vida a milhões de pessoas, tornadas descartáveis por um sistema económico que substitui a força laboral humana por algoritmos e robots. Provavelmente, já estaremos a sentir esse impacto. Resta-nos decidir, como sociedade, o que fazer. Seguir a cartilha da maximização do lucro e enriquecimento de uns poucos, que parece ser a narrativa dominante na sociedade contemporânea, ou usar a tecnologia para evoluir enquanto humanidade.