quarta-feira, 17 de julho de 2019

The Calculating Stars



Mary Robinette Kowal (2018). The Calculating Stars. Nova Iorque: TOR.


Confesso, a curiosidade ficou desperta ao saber que este livro tinha ganho o prémio Nebula deste ano. Isso, e a premissa, que me pareceu imperdível: no rescaldo de um meteorito que arrasou a costa leste americana nos anos 50, a humanidade percebe que não tem outra alternativa, a sua sobrevivência está na colonização do sistema solar.

Esta premissa tem o seu quê de história alternativa, recriando as corridas espaciais da história real sob um prisma pré-apocalíptico, de esforço global (tirando, claro, as rivalidades ideológicas da guerra fria). O impacto fez mais do que arrasar a costa leste americana. Provocou um desequilíbrio nos padrões climáticos que trará a curto prazo um irreversível aquecimento global. Apesar de isso não ser compreensível pela maioria da população, que não se sente ameaçada pela subida da temperatura média nalguns graus (pois, se toparam a crítica à nossa contemporânea passividade face ao aquecimento global,é porque é bem visível), o futuro da humanidade passa por sair do planeta. E, para isso, os desenvolvimentos das tecnologias de exploração espacial têm de ser acelerados.

Por fascinante que seja este cenário, não passa disso mesmo, de um pano de fundo. A verdadeira história deste romance não é a marcha da humanidade rumo à órbita. São as lutas de uma mulher brilhante, em busca da igualdade. Tudo o que ela quer é ser astronauta. Reúne todas as condições. Ex-piloto das forças auxiliares que levavam aeronaves à frente de combate na II guerra, é uma matemática brilhante. Trabalha como computador, um aceno realista de Kowal quer à história da computação, quer à da exploração espacial. Computadores são aqueles que eram empregues nos complexos cálculos necessários para avançar a tecnologia espacial, nos tempos em que as máquinas a que hoje chamamos de computadores estavam a dar os primeiros passos. Um trabalho rigoroso e meticuloso, que era sempre entregue a mulheres.

Mesmo após uma catástrofe quase terminal, num contexto de sobrevivência através da cooperação global, esta América dos anos 50 é tão hostil a todos os que não sejam homens brancos como a real o era. É essa a verdadeira história do romance, um olhar sobre a luta emancipatória de minorias, sempre a lutar pela igualdade perante uma sociedade controlada por homens que as tentam travar em todos os passos.

Há um certo lado de romance cor de rosa neste livro. A mulher astronauta acabará por triunfar, vencendo as adversidades, mantendo o seu lado feminino, acompanhada por um marido que encarna o homem ideal dos romances cor de rosa. Este toque ingénuo estrutura todo o livro.

Percebe se porque é que venceu os Nebula. É um romance light de FC social, em si uma vertente importante do género. Pensemos, por exemplo, no trabalho de LeGuin. Mas Kowal não é nenhuma LeGuin. A sua FC social é fortemente linear e ingénua. Agrada aos #metoos, ou aos progressistas mais superficiais. Para os fãs de FC hard, fica o cenário de fundo, de história alternativa com muitos acenos à história da era especial (um pormenor que apreciei: a primeira estação espacial chama-se Lunetta, um aceno aos projetos marcianos de VonBraun). Não sendo um livro espantoso, dei por mim a não ser capaz de parar de o ler. Por vezes, também precisamos de histórias ingénuas, que nos recordem o quanto ainda temos de progredir.