terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

The Edge of Human: Blade Runner 2


K.W Jeter (2000). The Edge of Human: Blade Runner 2. Nova Iorque: Spectra.

Jeter faz um bom trabalho de continuação dos temas e linhas narrativas de Blade Runner. Do filme, não do livro em que este se baseia. A narrativa segue o estilo cinema noir do filme, com uma história convoluta de conspirações. Deckard, exilado numa cabana na floresta onde tenta prolongar a vida da andróide Rachael, pela qual se apaixonou, é forçado a regressar a Los Angeles para dar caça a mais um replicante. É obrigado a isso pela sobrinha de Eldon Tyrell, a jovem que serviu de modelo aos andróides Rachael, e que nutre um ódio profundo ao tio e a tudo o que representa. Um ódio tão profundo que a leva a colocar em marcha uma tortuosa conspiração que levará à destruição das Tyrell Industries.

Pelo caminho cruzamo-nos com outros personagens do filme, como o inspetor Bryant, Holden, o caçador de replicantes cujo falhanço fez Deckard entrar em jogo e cujo corpo foi reconstruído, sendo talvez ele próprio um andróide, e o humano que serviu de modelo a Roy Batty, tão psicopata como o andróide do filme. Pelo meio de uma narrativa de ação constante, Jeter vai questionando as fronteiras fluídas entre o real e o simulacro, entre o artificial e o natural. O final é algo surpreendente, com Deckard a deixar-se enganar e a fugir para fora do planeta com quem pensa ser a sua adorada andróide Rachael, mas é na verdade a mulher humana que lhe serviu de modelo, herdeira renegada das indústrias Tyrell. Não é uma leitura profunda, nem o pretende ser. Jeter expande o filme seguindo as mesmas lógicas narrativas, sublinhando um pouco mais a fina diferença entre ser andróide e humano no mundo de Blade Runner.