quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
Turned On: Science, Sex and Robots
Kate Devlin (2018). Turned On: Science, Sex and Robots. Londres: Bloomsbury Sigma.
Bem, se pegarem neste livro em busca de visões mecânicas libidinosas, desenganem-se. Este livro leva o tema da intersecção entre robots e sexualidade muito a sério. Começa por desmontar a ideia de robots com fins sexuais. Fala-se nisso, mas não se faz, não porque não haja vontade, mas porque a tecnologia ainda não evoluiu o suficiente. O que se faz são bonecas (e também bonecos, não são só homens a mexer nisto) com elevado nível de realismo, alguns mecanismos e nalguns casos, implementações de IA para dar um simulacro de personalidade. Mas, mesmo aqui, o que realmente se produz fica muito aquém do imaginado, ou vendido pelos departamentos de marketing das empresas que manufaturam sex dolls.
A autora vai bem ao fundo no tema (oops, não resisto a duplos sentido). Se a tecnologia é a porta de entrada, o que realmente lhe interessa são os porquês, as razões que nos levam conceber a ideia de relações com máquinas. E aí, as coisas tornam-se interessantes. À partida, robots sexuais podem parecer a epítome das fantasias masculinas: um corpo ideal de voluptuosas formas femininas, que se liga quando se quer e se desliga quando a necessidade biológica fica satisfeita. Na verdade, as razões são muito mais complexas do que a extrapolação de estereótipos. Não que estes estejam ausentes deste campo, é impossível não lhes fugir, nem que seja pelos personagens coloridos que abundam nesta área e que a autora retrata com vários níveis de ironia.
Incapacidade de formar relações, geriatria, ultrapassar questões psicológicas profundas, substitutos sexuais para pessoas com deficiência, são alguns dos campos em que a sexualização das máquinas nos pode ser útil. Soa arrepiante, fica sempre no ar a ideia que iremos preferir a máquina ao ser humano, mas a investigação que a autora cita mostra o oposto. Haverá sempre uma minoria que vê na máquina sexualizada o seu ideal erótico, mas para outros, será um apoio à personalidade.
E é de notar que nisto de taras e manias, a aplicação da regra 34 antecede em muito a internet. A mitologia grega já nos deu os primeiros indícios do fascínio erótico com formas inanimadas. Curiosamente, o mito prende-se com uma mulher que, desgostosa com a perda do seu amado, dá usos a uma estátua dele. Dildos e outros auxiliares eróticos têm um longo historial, a sua ligação digital é apenas a tendência mais recente. Fundamentalmente, este é um livro sóbrio, que foge aos estereótipos. Analisa um tema polémico misturando relato jornalístico e análise académica.