terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A Loucura de Deus


Juan Aguilera (2010). A Loucura de Deus. Lisboa: Saída de Emergência.

Não esperava muito deste livro. Peguei nele na banca da SdE no Festival Bang! um pouco por obrigação, já que há muito pouco no seu corrente alinhamento editorial que me estimule. A sinopse pareceu-me intrigante, por isso, why not? Poucos dias depois, dei por terminada uma leitura que me surpreendeu. Aguilera conjura aventura com sabor medievalista, numa história onde o sábio medieval Raymon Lull se vê envolvido numa demanda pelas terras do Preste-João, esse mítico reino cristão nas ásias. É a busca pela imortalidade que leva um mercenário aragonês, ao serviço do império bizantino, a procurar o mítico reino, com ajuda do sábio.

Parte do livro mergulha-nos nos tempos violentos da longa queda do império romano do oriente. São histórias de batalhas e intrigas, onde o turco é o inimigo, mas entre os aliados reina a violência e desconfiança. Mas à medida que a história se desenrola, o romance segue por caminhos decidiamente de ficção científica. A demanda do reino mítico leva os aventureiros a uma cidade oculta na ásia, onde a herança científica grega não se perdeu. Evoluíram a um nível tecnológico próximo do do século XIX, e socialmente muito mais além. É um mundo utópico, ameaçado por um temível horror que se oculta no norte. Um horror que Lull interpreta como o demónio em pessoa, mas que se revelará ser uma criatura nascida com o planeta, parte de uma espécie que ocupa planetas capazes de albergar vida, instrumentalizando-a para lutar nas suas guerras internecinas.

Grandes voos para o que parecia ser uma mera fantasia medieval, certo? O livro passa por batalhas sangrentas, cidades futuristas, aeróstatos e profundezas infernais a invocar os círculos de Dante. Uma leitura surpreendente, daquelas que não se descansa até ao virar da última página.