sexta-feira, 12 de junho de 2015
Quadradinhos: Sguardi Sul Fumetto Portoghese
Alberto Corradi (2014). Quadradinhos: Sguardi Sul Fumetto Portoghese. Quarto d'Altino: MiMiSol Edizioni.
É daquelas coisas. Passa-se nas livrarias de Óbidos naquela busca de curiosidades e depara-se, muito por acaso, com esta obra especial. Quadradinhos é, em essência, um catálogo de BD portuguesa organizado por Alberto Corradi para o Festival de Banda Desenhada de Treviso, que reúne uma curta mas erudita história da BD em Portugal e histórias curtas representativas das correntes estéticas do género em Portugal. No que toca ao resumo histórico é de sublinhar que é traçado o percurso do género desde as caricaturas de Bordalo Pinheiro aos autores contemporâneos, sem esquecer a BD infantil dos anos 40 e 50 ou o marco que foi a revista Visão nos anos 70.
A selecção dos autores é de luxo, com histórias curtas que dão um panorama abrangente das correntes estéticas da BD portuguesa. O leque vai do experimentalismo visual expressivo ou quase abstracto ao formalismo com marca do punho de autor. Representados estão autores como Nuno Saraiva, João Fazenda, José Vargas, Ana Biscaia com um estilismo espantoso, Francisco Lobo, Afonso Ferreira, Pedro Burgos, Filipe Abranches, Miguel Rocha e o seu grafismo tão próprio, o traço fresco de Joana Afonso, o formalismo expressivo de Jorge Coelho, tão dentro das estéticas dos comics, o grafismo duro e evocativo de colagem visual de André Coelho, a exuberância de Pepedelrey e Rodolfo. Uma longa lista, que apresenta um panorama interessante.
Algo que não se percebe se se ler o prefácio de Marcos Farrajota. O estilismo experimental da Chili Com Carne, legítimo e necessário num campo criativo abrangente, tem a sua representatividade na curadoria mas pelo prefácio parece que é quase inexistente. Nestas situações, de catálogos e mostras, as questões de gosto pessoal não podem influenciar a selecção da amostra. Também sublinho alguns atropelos de tradução, com textos traduzidos do português para italiano e daí para inglês, o que dá pérolas macarrónicas como The Portugal, directamente traduzido do italiano Il Portogallo, mas que não faz qualquer sentido em português. Pequenos pormenores.