segunda-feira, 29 de junho de 2015
Comics
Annihilator #06: We're done? Graças aos deuses. Por vezes, no seu afã psicadelista, Grant Morrison espalha-se ao comprido. É o que se sente no final desta série que quer tanto ser mind bending que se estampa muito para além da fronteira do compreensível. O ritmo ensurdecedor onde se sente que cada vinheta grita com o leitor não ajuda. O transvasar de realidades entre ficções criadas por um argumentista com um tumor cerebral terminal é um intrigante ponto de partida, desperdiçado por um pouco invejável histerismo narrativo.
Kaptara #03: Seguindo a já notória tendência de sublimar as personagens e temáticas de desenhos animados de uma infância entre os anos 80 e 90 do século XX num absurdismo visceral e histriónico, Zdarsky mete os seus pouco heróicos personagens no meio de uma aldeia perdida na floresta. Capturados por uma tribo de pequenas criaturas, terão de enfrentar o pior inimigo destas ou perecer sob tortura. A piada, óbvia, está nas criaturinhas, um bando de misóginos obesos e monocromáticos que se recusa a participar da restante sociedade por entender que os media não são representativos dos seus pontos de vista. Atrevem-se a mostrar outros, algo que os revolta. Isso e a sua preferência gastronómica por canibalismo, que exigem ser reconhecida como um direito cultural. Convencidos da supremacia das suas ideias, estas balofas criaturas expulsaram a única fêmea da sua tribo por não estarem para aturar complicações emocionais. Se ainda não perceberam a piada, deixo-vos uma dica: Zdarsky está a ironizar os bonequinhos de pele azul que vivem numa floresta, que deliciaram gerações de crianças. Esses mesmo, os Estrumpfes. Aliás, se repararem nos chapéus percebem mais um pouco do humor ridículo e corrosivo desta série.
Where Monsters Dwell #02: Temível, a forma como Ennis desconstrói a figura clássica do personagem masculino heróico das clássicas aventuras na selva ou em terras perdidas. A incompetência do herói adensa-se a cada volteio narrativo. Com uma floresta primeva como recreio de ideias, este ardiloso argumentista vai ironizando com as convenções do género. Como, por exemplo, faz os seus personagens sobreviver às portentosas dentuças de um T-Rex... atravessando uma aldeia de neandertais que irá aquecer o estômago vazio do monstro. Sempre dentro do tema, Ennis ainda nos dá uma luta entre crocodilos e tubarões gigantes, terminando o episódio com nova incursão nos fétiches psico-sexuais quando os personagens se cruzam com uma tribo de esculturais amazonas da selva. Esta série é uma boa desculpa para misturar os ingredientes do pulp clássico e cozinhar algo de muito divertido.