Spring Festival: Happiness, Anger, Love, Sorrow, Joy: Um conto muito intrigante de FC chinesa por Xia Jia, traduzido por Ken Liu. A tradição milenar potenciada pela automatização digital, realidade virtual e algoritmos, contada em pequenas vinhetas de especulação. Um casal antevê a vida futura do seu recém-nascido numa milenar celebração tradicional onde a simulação tecnológica traça todo o caminho da vida da criança. Um cidadão anónimo, desgostoso com a propensão comunitária para reality shows participativos, descobre-se o foco das câmaras de um reality show por cortesia de um vizinho. Uma jovem rapariga em busca de esposo rende-se aos algoritmos de predição de uma empresa de encontros, que vão progressivamente traçando os futuros possíveis com os homens candidatos a esposo até acertar no amor perfeito e eterno. Uma avó centenária comemora o seu aniversário na presença virtual da sua larga família, até que sente a mão de uma bisneta que num tempo onde a telepresença é habitual se atreve a fazer-lhe uma visita física. Conto interessante, que no fundo analisa o impacto das tecnologias nas culturas e mentalidades tradicionais.
Patterns of a Murmuration, in Billions of Data Points: Um aparente acidente que vitima milhares de participantes num comício é o ponto de partida para uma investigação em busca de potenciais culpados. Em evidência está um complexo sistema de inteligência artifical, panopticon sentiente atomizado em milhares de locais e dependente de uma vasta rede de sensores. Criada como arma na luta sem quartel entre duas facções políticas, percebe que está acima disso e dá passos que a aproximam perigosamente de uma autonomia letal. Conto de Jy Yang, a brincar muito bem com os conceitos positivos e negativos da inteligência artificial.
Giants: hard SF de estilo clássico num conto de Peter Watts onde uma nave de exploração espacial se depara com um forte obstáculo na sua viagem pelas estrelas. A trajectória planeada passaria por um banal sistema solar só que ao aproximar-se da zona a inteligência artificial apercebe-se que algo está errado. As órbitas planetárias rigorosas previstas pelos dados de observação revelam-se erradas, e os corpos celestes soltos por algum cataclisma estelar derivam em órbias erráticas. A única forma da nave ultrapassar este imprevisto é atravessar os limites exteriores da estrela, mas ao fazê-lo é atacada por possíveis criaturas alienígenas, plasma eléctrico que exibe comportamentos autónomos e, talvez, inteligência. Tudo está nas mãos de uma IA de personalidade restrita e dois tripulantes, um de consciência integrada com os sistemas e outro que representa uma facção que se revoltou contra a intrusão da inteligência artificial e foi posta em sono criogénico para acalmar a revolta. A nave em si é um asteróide oco, contendo zonas fabris, laboratórios e zonas verdes, com recursos naturais capazes de sustentar a tripulação durante um longo périplo pelas estrelas, controlada por uma inteligência artificial conceptualmente limitada pelos seus criadores, que não queriam correr o risco dela se tornar auto-consciente.