sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Fumetti: Gilgamesh, Immortale; Nathan Never. Doppia Indagine.
Robin Wood, Lucho Olivera (1999). Gilgamesh: Immortale. Eura Editoriale, S.P.A..
Parecia à partida uma boa ideia. O épico de Gilgamesh recontado como space opera, com o herói imortal do épico sumério como ser extra-terrestre que regressa ao seu planeta de origem. Nesta variante do mito Gilgamesh foi um rei sumério que atingiu a imortalidade após auxiliar um alienígena que se despenhou nos desertos da mesopotâmia. A imortalidade é um fardo, não para ele mas para a sua cidade e Giglamesh finge a sua morte para libertar os seus súbditos da estagnação. É uma história de origem, contada como reminiscência de um Gilgamesh mais velho que, no futuro, regressará à Terra e se recorda de onde partiu enquanto atravassa os vazios galácticos.
Boa premissa, mas a narrativa arrasta-se e não se clarifica muito. O destaque vai para o traço do ilustrador argentino Lucho Oliveira, com uma mestria delslumbrante num estilo clássico mais próximo da pintura surrealista e do psicadelismo do que da ilustração de banda desenhada, em si uma marca gráfica de época. Recorda o traço pétreo de Sergio Toppi mesclado com a elegância gráfica de Alex Niño. Este foi um estilo marcante nos anos 70, ainda hoje surpreendente pela mestria do grafismo, e acaba por ser a mais valia do álbum. Apesar disto, esta série de origem argentina teve um longo historial de publicação como fumetti em Itália.
Mirko Perniola, Andrea Cascioli (2013). Nathan Never #266: Doppia Indagine. Milão: Sergio Bonelli Editore S.P.A..
Tinha um certo receio de me meter com este personagem, talvez o único nos fumettis da Bonelli a apostar na ficção científica. A leitura da outra série que gerou, Legs Weaver, tem sido bastante desapontadora porque para além de utilizar a FC como mero adereço cenográfico depressa se perde em comédia patética. Nathan Never não é essencialmente diferente, se bem que o tom de humor seja substituído por uma ambiência de policial hardboiled. A FC é mero adereço, desculpa para desenhar cidades e tecnologias a partir de uma visão obsoleta de futurismo. Retire-se esse elemento e substitua-se por um qualquer outro cenário genérico e quer as histórias quer os personagens não necessitam de alterações. Não que não estejam bem desenvolvidas e não sejam policiais convincentes. Mas de ficção científica têm pouco. Claramente a Bonelli apostou no sobrenatural (Dylan Dog, Gea, Dragonero), Western (o incontornável Tex) e policial. Suspeito que FC italiana em banda desenhada é coisa que não existe.