Jean-David Morvan, Nesmo (2011). Univerne T01: Paname. Toulon: Soleil.
Álbum de estética deslumbrante, revê a influência de Verne sobre uma lente de ucronia steampunk. A história inicia-se no rescaldo da comuna de Paris, onde numa tentativa de fuga aquele que viria a ser o editor de Júlio Verne morre ao fugir de soldados napoleónicos. Sem este homem, a obra de um dos pais da FC nunca vê a luz do dia, mas o poder da sua imaginação é tão grande que a realidade se metamorfoseia. Assim nasce o mundo de Univerne, um delírio steampunk de metalurgia e dirigíveis onde a belle époque com toques de Robida colide com o retrofuturismo de sabor novecentista. A história parece ser vasta, com este primeiro volume a apresentar-nos uma personagem curiosa, mulher jornalista num mundo machista e conservador que após entrevistar a aprisionada mulher de Verne se torna o alvo de cyborgs a vapor que a atacam para recuperar uma disquete cheia de segredos. Para a proteger há um cientista secretamente foragido da ilha Licoln e um jornalista atrevido que ao tentar galantear a jovem se vê arrastado para um turbilhão de aventuras. Mas a jovem também conta com a protecção de misteriosos andróides mecânicos.
No panorama mais vasto Verne reuniu na ilha perdida de Lincoln um conjunto de cientistas e homens esclarecidos para criar uma utopia social e científica. Sentido-se ameaçadas, as nações do mundo unem-se para, sob liderança francesa, arrasar a ilha e destruir quaisquer vestígios do progressismo verniano. É nesse rescaldo que somos lançados à história, numa Paris imperial triunfante, visão de barroquismo steampunk que, ao celebrar a sua exposição mundial, permite ao leitor um périplo pela arquitectura fantasista desta ucronia.
Partindo de um conceito interessante, e com uma história com o seu quê de previsível, o que deslumbra neste álbum é o excelente trabalho de ilustração, directamente inspirado nos estilos da arte nova, retro-futurismo novecentista de Albert Robida e estética steampunk. As vistas da Paris ucrónica são de tirar o fôlego.
Fred Perry (2013). Steam Wars. San Antonio: Antarctic Press.
Uma intrigante e divertida variante do influente clássico da FC cinematográfica. A Guerra nas Estrelas é recriada em modo steampunk, com dirigíveis espaciais, cavaleiros quânticos, comboios de combate e mais tecnologia a vapor do que o recomendável. As aventuras do filme original são recriadas com base numa perseguição a uma princesa rebelde que leva numa sacola o segredo do império - um tipo de carvão capaz de fazer levar os seus engenhos voadores a vapor a ultrapassar velocidades super-lumínicas. O que se segue é uma avalanche de aventuras e perseguição por storm troopers com um ar decididamente florentino do século XV mas ainda a sofrer do seu síndrome de falta de pontaria. Visualmente é interessante, desenhado num estilo simplista que deve muito ao manga e que é apanágio desta editora, mas sem esquecer as largas e intricadas visões de tecnologia permitidas pelo estilo steam. Disponíveis no site da Antarctic Press.