segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Comics


The Sandman: Overture #01: Inevitavelmente é o destaque da semana, o muito aguardado regresso de Neil Gaiman e do seu Sandman à Vertigo. Será uma mini-série, o que garante que o personagem não será diluído pelas pressões comerciais de um título corrente. Para um confesso fanboy de Gaiman esta primeira edição é um deslumbre. O regresso ao estilo narrativo faz-se sem sentir que já se passaram dezoito anos desde que Gaiman colocou um ponto final através da morte e elegia ao seu personagem. Para evitar confusões e continuidades foge ao óbvio e não nos leva ao mundo do novo Sandman, esse grande universo que ficou por explorar no final da série. Note-se que uma criatura que é uma metáfora encarnada de uma verdade intemporal nunca morre, apenas se modifica e a morte biológica é em si uma metáfora que representa essa mutação. Desde sempre que isto está assumido no personagem. Gaiman opta por nos colocar um pouco antes do início da sua série seminal, com uma aventura que nos mostra o Senhor dos Sonhos imediatamente antes da sua captura pelo bando de ocultistas imitadores de Crowley que dá o mote à série original. Este Overture beneficia do olhar retrospectivo de uma série que cresceu ao longo de setenta e cinco edições. Apesar de se situar antes do início vai buscar inspiração, elementos e estilo narrativo aos momentos mais poéticos da série e não ao seu arranque mais cru. Os conhecedores depressa se situam e reconhecem os momentos-chave referenciados. A elegância literária é a que se espera de um autor como Gaiman e o seu condão de encantar com palavras. Visualmente, os editores tiveram o cuidado necessário com uma série que representa uma enorme responsabilidade gráfica, dado o elevadíssimo nível que a caracterizou. De regresso estão as deliciosas capas de Dave McKean, cujo estilo envelhece como um bom vinho do porto. Para os interiores temos o sempre deslumbrante J. H. Williams, cujo grafismo faz a ponte entre o estilismo dos comics e a plasticidade da pintura. O resultado final não é inovador ou surpreendente. É precisamente o que esperávamos do personagem e dos autores, um toque nostálgico de continuidade parcial numa série já de si fabulosa onde um dos seus maiores pontos de interesse é a finitude assumida.


2000AD #1856: Brass Sun está mais suave do que no primeiro episódio mas Edginton ainda se sai com ideias outré. Desta vez programa de computador vivos e cantadores de códigos cifrados. Quanto um destes programas falece e a sua encarnação humana morre, lamenta o estar a descompilar. É por estes pormenores de Edginton está na minha lista de argumentistas cujo trabalho vale a pena manter debaixo de olho.


Swamp Thing Annual #02: Alan Moore deveria receber direitos de autor por cada nova edição do Monstro do Pântano. Ao fim de 20 anos a sua reinvenção da personagem ainda é o que os argumentistas fazem que pegam no título. Tem variações, é certo, mas no essencial é sempre o mesmo: criatura elementar, parlamento das árvores, espíritos da terra e ameaças à integridade do verde. Este Annual não varia muito do padrão. Desta vez o monstro tem de lutar contra um competidor para o lugar de avatar do verde e é treinado por diferentes facções do parlamento das árvores para vencer. Nada de novo. Destaca-se a surrealidade do verde enquanto mundo virtual onde cada avatar tem o seu local pessoal.


The Shadow: Year One #06: Um aplauso para o estilo gráfico desta revisitação do Sombra. A narrativa não desvia muito do habitual neste personagem. O grafismo limpo, elegante e estilizado foi uma boa surpresa, mesmo que a limpeza visual da ilustração não corresponda ao ambiente tenebroso do personagem.


Wild Blue Yonder #03: Aviões retro. Vida dos céus. Frotas aéreas à caça de piratas do ar e libertários que sobrevivem em porta-aviões voadores. E jetpacks. Divertido e bem ilustrado, Wild Blue Yonder é um mimo para os que gostam de coisas com asas que percorrem os céus. O ritmo narrativo está claramente constrangido pela curta duração da série, o que impede que o grafismo nos mostre a espectacularidade que intui. Fica a sensação que o final será qualquer coisa de grandioso.