A Cold Yellow Moon: Confesso que foi muito penoso ler este conto até ao fim. Insisti na tentativa de compreensão deste texto desconexo pelos vislumbres steampunk de uma expedição à lua nas primeiras décadas do século XX com naves de metal reluzente e robots electro-mecânicos semi-conscientes. Todo o conto é uma salganhada que mistura elementos de Lovecraft, Robert W. Chambers (The King In Yellow), Clark Ashton Smith, Charles Fort e outros elementos do fantástico do dealbar do século XX. Na tentativa de empanturrar as páginas com tanta referência os autores perdem a noção do essencial, do contar uma história coerente, e as páginas arrastam-se em parágrafos incompreensíveis. É pena. A premissa é intrigante, com uma mensagem radiofónica alienígena que une o governo americano, a universidade de Miskatonic e Nikola Tesla no lançamento de uma missão lunar. Na lua, as inteligências mecânicas e humanas são cooptadas por um segredo amarelo que ao revelar-se semeará o caos e destruição na Terra. Enfim, boas ideias, mas escritas de forma atroz por Joe Pulver e Edward Morris para a Lovecraft eZine.
Soulcatcher: Um mergulho de exotismo alienígena é o que nos espera neste implacável conto de James Patrick Kelly. História de vingança, confronta duas espécies alienígenas num duelo de desejo e cupidez escrito com uma leveza que embala o leitor.
Bee Futures: Um hino neoliberal saído da revista Nature. Num futuro próximo, a guerra entre ambientalistas e agricultores que cultivam alimentos geneticamente modificados faz-se com recurso a mosquitos nano-robots que aniquilam abelhas polinizadoras com lasers de alta potência. Enfrentando a pressão dos supermercados que exigem bens alimentares a preços baixos e as hecatombes regulares de eco-terrorismo, os agricultores rendem-se às plantações de biocombustível ou flores. Anos depois, biocombustíveis não faltam. Nem flores. Mas a comida escasseia. Não é difícil perceber qual o lado escolhido pelo autor na discussão sobre utilização da modificação genética na agricultura. Choca ler esta visão tão simplista e moralista, como se esta questão se resumisse a um imperativo económico. É um sinal dos tempos contemporâneos. Na era neoliberal até a ficção científica deve exortar ao lucro como objectivo final do esforço humano.