segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Against The Machine


Lee Siegel (2008). Against The Machine. Nova Iorque: Spiegel & Grau

É inegável que o advento da internet alterou radicalmente quase todas as vertentes da nossa sociedade. São alterações revolucionárias, que desestabilizam paradigmas instituídos e arrasam instituições tradicionais. As nossas vidas modificaram-se irremediavelmente. Se para melhor ou pior, isso é assunto aberto a discussão.

Against The Machine tem a virtude de fugir ao deslumbramento com as maravilhas do mundo digital. Aponta-nos riscos de isolamento, despersonalização, comercialização da sociedade, degradação cultural e derrocada de indústrias estabelecidas. São argumentos válidos, mas escritos por alguém que nitidamente se ressente do impacto da internet. Faz uma crítica pertinente aos deslumbramentos cegos que contém a possibilidade de nos conduzir a abismos éticos, económicos ou sociais. Infelizmente, o tom do livro vai decaindo de crítica válida à sociedade da informação para uma voz de resmungo perante a ameaça aos valores tradicionais, à antiga ordem estabelecida, às instituições que dominaram o panorama cultural durante boa parte do século XX. Isso nota-se particularmente no tom vitriólico que utiliza para descrever a cultura de remix, a blogoesfera ou a wikipedia como o inverso do conceito de inteligência colectiva.

Siegel não nega as vantagens da internet, mas claramente preferiria que esta fosse mais como uma tranquila biblioteca, onde a informação fosse produzida por fontes institucionais e transmitida numa possível versão moderna dos meios de comunicação tradicionais. As hordes ululantes que gritam a sua opinião que fiquem de fora, para não conspurcar a beleza do sistema. Como em tudo na vida, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Siegel tem razão no que respeita à despersonalização do ser humano face ao ecrã, ao restringir das visões sociais sob os ditames cada vez mais comerciais da web, nas questões de validade intelectual sobre o crowdsourcing e produção de informação online, na importância da edição como forma de filtragem de informação pertinente. Ter uma opinião contrária face à tendência generalizada de adoração cega da sociedade da web é importante, nem que seja como aviso à navegação.

Infelizmente os argumentos válidos perdem-se no tom de quase total desprezo que Siegel utiliza para descrever os novos modos de cultura potenciados pelo digital. Refilar no meu tempo é que era e gabar os méritos das torres de marfim não nos ajuda a fazer sentido e a tornar pertinente a imensa explosão de potencial e criatividade que a internet provocou. Publicado em 2008, é intrigante ver como em 2012 alguns dos problemas que pareceram tão gravosos - como o de uma enciclopédia criada por todos os que nela quiserem colaborar, se resolveram através de uma dinâmica de auto-organização que mostra o resultado do livre esforço individual integrado num sistema colectivo.