Kathe Koja (1991). The Cipher. Nova Iorque: Dell
Um livro desapontador, que poderia ser um excelente conto. É, na sua essência, uma história de terror sobre o vazio e a descida para a loucura que se apropria de quem está próximo desse vazio. Mas há limites para aquilo que se consegue fazer com uma premissa que envolve um pedaço de nada inescrutável, e a autora ultrapassa-os numa obra que se torna monótona e repetitiva.
A obra gira à volta do vazio, simbolizado por um buraco negro de misterioso nada que aparece num recanto de um apartamento e faz reagir duas personagens caricaturais: um poeta falhado empobrecido e a sua namorada, desesperante femme fatale esquelética. É a obsessão mórbida desta mulher pelo buraco negro que coloca em marcha um desfile obsessivo de artistas falhados que se imaginam na crista da onda, sempre em busca de novas sensações. O que está no seu interior nunca nos é revelado, apenas intuído como algo que é catalisado pelo poeta e que é visto de forma diferente por cada espectador.
Felizmente o interior do vazio nunca nos é revelado, uma interrogação imaginária que se mantém como um dos pontos de interesse deste livro. O outro prende-se com a linguagem narrativa, num coloquialismo visceral reminiscente da literatura gonzo.