Outra grande surpresa que o ciclo de cinema dedicado pela Cinemateca a António de Macedo foi a qualidade sonora dos seus filmes. Mais do que música a acompanhar a imagem e a sublinhar a narrativa, a banda sonora dos filmes que vi adquiria carácter próprio, oscilando entre o experimental e o reminiscente de época. É raro na sala de cinema ouvir sonoridades contemporâneas que se afastam da convenção do que é musicalmente acessível.
As influências e colaboração com alguns dos nomes mais importantes da vanguarda musical portuguesa, bem como o trabalho quase científico de adaptação de música de vanguarda a cinema de estilo próprio feito por António Sousa Dias transformam os filmes de Macedo em intricados panoramas aurais. É este, talvez, um dos aspectos fundamentais da sua obra: uma ideia de cinema como obra de arte total através da conjugação de elementos como o desempenho dos actores, a banda sonora, o argumento com os seus textos e sub-textos, a luminosidade, o trabalho de enquadramento e movimento de câmara.