Adolfo Bioy-Casares (2003). A Invenção de Morel. Lisboa: Antígona.
Este livro delicado consegue aliar aventura, fantástico e ficção científica numa narrativa de surrealismo poético. Um náufrago por vontade própria arriba a uma ilha misteriosa no oceano pacífico, onde se vê rodeado de pessoas que passam por ele como se um fantasma se tratasse. Apaixona-se por uma das mulheres que vive na ilha, um amor impossível pela distância não no espaço mas no tempo. As pessoas, as suas vidas e utensílios que rodeiam o náufrago são elaboradas projecções, uma forma de fotografia multidimensional criada pelo Dr. Morel que dá nome ao livro. Com o objectivo de garantir alguma imortalidade, a ilusão projectada pelas máquinas é completa mas destrói a pessoa representada. Os personagens do livro estão condenados a repetir eternamente, ou até a energia falhar e deixar as máquinas inoperacionais, todos os acontecimentos de uma semana que foi sem o saberem a última das suas vidas.
O efeito é contagioso. Fugitivo à justiça e isolado na ilha, o náufrago acaba por ser capturado pelos enigmáticos dispositivos do Dr. Morel. Morre, mas ficará imortalizado nas projecções e o seu romance impossível repetir-se-á eternamente. Nesta fábula sobre paixão, fantasia misteriosa em paragens exóticas e relação do homem com a tecnologia, os espectadores da caverna de Platão estão condenados a tornar-se sombras que desempenham repetitivamente os seus papeis sem que de tal se apercebam.