segunda-feira, 4 de julho de 2005

Sísifo

Sandro Chia - The Idleness of Sisyphus


Sandro Chia

Quando vivo, este rei de Corinto era famoso pela sua malfadada inteligência, sempre a pensar em novas maneiras de praticar crimes contra os deuses e os homens. Segundo as lendas, Sísifo teria devastado a Àtica até à sua morte às mãos de Teseu. Ou então, denunciara ao deus-rio Asopo que o raptor da sua filha não era outro que Zeus, rei dos deuses. Ou então, crime dos crimes, instruíra os homens nos mistérios dos deuses - crime perigoso e sempre fortemente castigado pelos deuses, pois, como se sabe, do que é que os homens se tornarão capazes quando possuírem os segredos dos deuses?

Em vida, Sísifo era imparável. Maquiavélico antes de Maquiavel, odiado pelos deuses, que pouco podiam fazer excepto esperar a sua morte. Mas até aqui a mente de Sísifo se revelou arguta, pois conseguiu acorrentar Tânato, a morte, deixando vazios os reinos de Hades.

O castigo de Sísifo, assim que os deuses o viram, seguro, nos infernos, foi a eterna condenação a empurrar uma pedra até ao cume de uma montanha. Eterna, porque ao chegar ao cume, o bloco de pedra voltava a cair, e Sísifo era obrigado a recomeçar o seu trabalho. Sem perdão, nem redenção, sem tempo livre para pensar na sua evasão.

No dia a dia, na rotina do trabalho, por vezes penso em Sísifo, e pergunto-me quando deixarei de empurrar a minha pedra.