E.R. Truitt (2015). Medieval Robots: Mechanism, Magic, Nature, and Art. Filadélfia: University of Pennsylvania Press.
Robótica e Idade Média não são dois conceitos que estejamos habituados a ver inteligados. Este livro muda isso, mostrando-nos como na Idade Média foram férteis os ideários que conduziram à robótica de hoje. Claro, não falamos aqui dos robots complexos que nos estimulam a imaginação e revolucionam a sociedade. A visão medieva era diferente, combinava mito e saber artesanal.
Este livro cruza diversas vertentes. Uma é eminentemente mítica e mística, com uma análise à literatura medieva que nos mostra muitas referências a seres artificiais e artefactos mecânicos maravilhosos. Textos que se encontram em obras religiosas ou no imenso manancial de gestas cavaleirescas, que descrevem maravilhas mecânicas, das quais o trono mecânico de Bizâncio é o mais icónico.
Para mostrar que há uma raiz nos mitos e fantasias, Truitt vira-se para a história da ciência, recordando-nos da tradição de criação de elaborados mecanismos que nos vem da antiguidade clássica, dos tratados mecânicos que preservaram o saber grego e romano, e o ampliaram, no mundo árabe. Fala-nos do costume oriental de criar elaborados autómatos cujo movimento simulava vida, para maravilhar os visitantes das cortes como símbolos da sabedoria, costume esse também adotado pela nobreza europeia como forma de mostrar a sua riqueza, como relatos de elaboradas decorações do que hoje consideramos animatrónica nos palácios.
Mitos, cruzados com a evolução do saber científifico e tecnológico, que acabam por ter a sua maior expressão num objeto que raramente relacionamos com a robótica, mas que está na sua origem direta: o relógio. Primeiro, como expressão e aplicação do saber mecânico no estabelecimento de métodos de registo da passagem do tempo, mas também como artefacto de maravilha, com o desenvolvimento de dioramas animados progressivamente mais elaborados, que representavam cenas das tradições locais ou mitos religiosos. Algo que hoje ainda nos deslumbra, nos famosos relógios mecânicos que para além de registar a passagem do tempo, nos maravilham com os seus autómatos, condenados a repetir os mesmos gestos mecanizados a cada marco temporal.
A história não termina aqui, os mecanismos de relojoaria encontraram a sua máxima expressão nos autómatos do século XVII e XVIII, onde a sofisiticação evoluiu até tocar nos rudimentos do que hoje designamos por programação. Se os cartões perfurados do tear de Jacqard são considerados os antecessores do computador programável, que dizer dos autómatos de Jacquet e Drosz, com intricados mecanismos que permitiam programar diferentes ações? Mas estas, são outras histórias. Truitt detém-se na idade média, nos seus mitos, visões de maravilha, mas também na forma como o saber mecânico evoluiu nesses tempos.
Visita ao The Robot Museum, a razão que me levou a tirar dois dias em Madrid, já estava com vontade de conhecer este espaço há algum tempo (mas, pandemia, não deu mais cedo). O espaço em si não é grande coisa, essencialmente uma loja média num centro comercial madrileno. Já o acervo, é incrível! A coleção inclui réplicas à escala real de robots icónicos (pensem Robbie, pensem Lost in Space), uma coleção enorme de robots Aibo, com várias versões antigas funcionais, brinquedos mecânicos japoneses, robots Pepper e ASIMO, entre muitos outros artefatos representativos da história da robótica, das suas visões na cultura popular. Só lhes faltava uma turtle bot papertiana, e um Anprino (piada, claro, mas de bom grado enviaria um dos meus para este museu). Um museu que precisava de um espaço maior e mais condigno à sua excelente coleção.
See Elias Chatzoudis Use Copic Markers on Red Sonja: Age Of Chaos #1: Se os meios digitais se tornaram a principal ferramenta de desenho para comics, formas mais tradicionais não deixam de ter o seu lugar, como mostra o trabalho de ilustração de capas para Red Sonja usando marcadores.
"É místico" ou "Quando as duas sequelas dos Watchmen acabaram na mesma semana!": Ou então, apenas coincidência. Não vi ainda a série Watchmen, mas segui atentamente Doomsday Clock, e fiquei surpreendido pelo seu final. O que prometia ser uma tentativa de integrar algumas das personagens do universo Watchmen (em si, reescritas por Alan Moore de personagens da Charlton Comics adquiridas pela DC) na continuidade DC acabou por se revelar uma elegia ao Super-Homem. De facto, o capítulo final é essencialmente uma desculpa para meter em pé uma daquelas two-page spreads de super-heróis à pancada com super-vilões. Daquelas em que todos, até os mais refundidos, aparecem. Salva-se o trabalho gráfico de Gary Frank, que emulou na perfeição o estilo de Dave Gibbons, desenhador do Watchmen original.
O tio e a génese da arte de Regina Pessoa: Um olhar clínico por Nelson Zagalo à estética da curta, mas muito significativa, obra da animadora Regina Pessoa. Quatro obras em vinte anos, todas excecionais exemplos do melhor que se faz na animação, e o seu mais recente, "O Tio Tomás: A Contabilidade dos Dias", está na shortlist de nomeação para os óscares. O filme é soberbo, e pode ser visto online, graças à National Film Board do Canadá.
End of an era for book publisher Penguin: Aquele momento em que nos apercebemos que a Penguin, a quintessencial editora britânica, é agora uma editora totalmente alemã. O mesmo padrão se aplica às restantes casas editoriais tradicionais inglesas, agora subsidiárias de editoras alemãs ou francesas. Entre o detalhar dos jogos financeiros, algumas histórias curiosas. O que tornou a Penguin numa força cultural foi a vontade do seu editor em acreditar que havia mercado para literatura a preços acessíveis. Algo em que os seus concorrentes não acreditaram, mas felizmente vingou, criando um boom editorial e, talvez o mais importante, editando livros baratos (mas de alta qualidade literária) para as massas. Uma pequena ironia: não deixei de sorrir ao ler o desprezo que George Orwell tinha pela Penguin. É que a minha edição de Animal Farm é... isso, adivinharam, um paperpack Penguin.
21 referencias, guiños y easter-eggs escondidos en 'Star Wars: El ascenso de Skywalker' para exprimirla al máximo: Ainda não vi o mais recente Star Wars quando escrevo estas linhas, e sou o tipo de cinéfilo que não se chateia com spoilers. Aliás, até acho essa questão muito estúpida. O que faz um filme, ou um livro ou série, não é meramente a história que é contada. É isso, e tudo resto, técnica narrativa, gramática visual, capacidade poética. É por isso que revemos filmes mesmo depois das suas histórias nos terem sido reveladas. E por muito boa que seja a história, se tudo o resto falhar (má direção de atores, incapacidade do realizador de usar a gramática visual do cinema, maus efeitos visuais), não são as vontades de ver como a história termina que salvam o filme. Fundamentalmente, a questão dos spoilers é um falso problema vindo do marketing excessivo do cinema, que entre outras virtudes amargas nos tem trazido o ressuscitar de velhas sagas, por serem máquinas de lucro fácil. Star Wars é dos melhores exemplos disso. Posto isto, estes easter eggs são fantásticos, e o artigo está cheio de Spoilers. E vale bem a pena ser lido.
Science Fiction’s Wonderful Mistakes: Um excelente desmistificar das falácias conceptuais associadas à ficção científica, das quais o seu suposto carácter preditiva é o mais óbvio. Seguido de um elogio ao experimentalismo narrativo e temático dos autores dos anos 60 e 70.
Marvel Comics #1000: Rever a edição milenar da Marvel, que recordou a longa história dos seus personagens numa edição em que cada prancha contou com o trabalho de uma equipa dedicada de argumentista, ilustrador e colorista.
How Kendall Jenner Became the Patron Saint of Alternative Literature: Esperem, o quê? Li bem, uma personalidade de reality shows a servir de veículo de promoção literária? Suspeito que os seguidores dela apenas comprem livros para serem vistos com eles, e não realmente lê-los. Se bem que, em bom rigor, vender livros é o que alimenta os editores.
Will The Joker Do For Bruce Wayne What Brian Bendis Did For Superman? (Batman #85 Spoilers): A temporada de Tom King à frente de Batman foi magistral, marcante e genial pela forma discreta como redefiniu o personagem. Sempre com uma capacidade narrativa com uma assertividade e ritmo incrível. Agora que terminou, as rédeas da série passam para James Tynion IV, que depois de algumas intrigantes séries na Image começou a escrever para as majors. E começa em força, com o regresso de um personagem marcante eliminado por Scott Snyder na sua temporada. Estou curioso para ver como The Joker regressa ao universo DC.
When Robots Can Decide Whether You Live or Die: Conversa sobre a ética de capacitar robots autónomos militares com a capacidade de reagir automaticamente a alvos humanos. Será boa ideia automatizar a decisão de abater combatentes inimigos por armas autónomas? Suspeito que esta decisão já tenha sido tomada nos laboratórios de investigação militar.
Can the Internet Survive Climate Change?: É sempre bom recordar que o mundo digital depende de energia, e isso tem custos e riscos. O crescente uso de energia dos data centers, serviços cloud, streaming e servidores web é, em si, um factor causador de problemas ambientais. Por outro lado, a infraestrutura digital é vulnerável às disrupções crescentes trazidas pelas alterações climáticas. Como mitigar esse problema? Um passo seria diminuir a pegada de carbono das páginas web.
Madrid prohibirá los móviles en el colegio a partir del curso 2020-2021: À primeira vista, pareceu-me uma daquelas medidas tipo enfiar a cabeça na areia, relegando a Escola firmemente para o passado e demintindo-a de qualquer interferência da tecnologia dos dias de hoje. Após leitura, percebi que se trata de uma simples medida de proibição de uso indiscriminado de telemóveis em sala de aula, excetuando usos educacionais, não uma proibição tout court que obriga as crianças a largar os seus dispositivos à entrada da escola. Na verdade, uma situação que faz sentido, criando uma estrutura legal para gestão dos problemas que possam surgir em usos indevidos do telemóvel. Não é diferente do que temos por cá. Não é que o telemóvel não tenha de todo lugar na sala de aula, bem pelo contrário (existem inúmeras aplicações pedagógicas, da pesquisa de conteúdos à modelação 3D), mas é preciso gerir a forma como se usa. Posições de negação completa são um contra-senso, que traem visões exclusivamente instrucionistas da educação, e recusa em explorar diferentas vertentes de aprender e ensinar.
Robot Educativi: gli insegnanti non servono più?: Ignorem o título provocador, porque na verdade o artiga mostra de forma sintética como robots potenciam diversos aspetos da aprendizagem, entre competências técnicas, científicas e cognitivas. Mas sem professores para lançarem desafios e acompanhar aprendizagens, nada feito.
Twitter bans animated PNG files after online attackers targeted users with epilepsy: Se existir uma brecha de segurança, alguém a vai explorar, como mostra esta história sobre um incrivelmente específico ciberataque. Usar imagens em PNG animadas concebidas para causar ataques em pessoas com fotossensibilidade, partilhadas com seguidores de uma associação de epiléticos.
Christmas Carols for Artificial Intelligences: Treina-se um algoritmo com canções de natal, e ele sai-se com isto: "On Christmas Day,/A true and holy Deity,/Went down to earth,/With human flesh for sacrifice". Ainda fica mais estranha.
Rethinking privacy in the age of psychological targeting: É, em essência, o modelo de negócio das redes sociais. Recolher dados pessoais, traçar perfis de utilizadores, agregar esse mar de dados em padrões, usados para publicidade eficaz. É usar dados para assentar a publicidade em perfis psicológicos, e de formas que são invasivas da privacidade pessoal.
Chinese Farmers: Criminals Are Using Drones to Infect Our Pigs: Intrigante. Usar drones para lançar elementos contaminados sobre explorações pecuárias, e posteriormente vender a carne contaminada. Novas tecnologias, novas formas de se ser criminoso.
The dream of a global internet is edging towards destruction: Cinco modelos do que é a Internet, a emergir globalmente e a criar clivagens cada vez mais profundas. O libertário sem restrições de Silicon Valley, o protetor excessivo da propriedade intelectual do sistema legal americano, a visão europeia de liberdade mas com legislação protetora de privacidade e outras garantias, o controle total de informação e hipervigilância chinês, e o parasitismo russo que se aproveita do fluxo livre de informação para espalhar desinformação e hackear sociedades. Se a Internet foi concebida como um modelo aberto, começa a estar de facto balcanizada. Na Europa, sentimos isso quando clicamos num site que não está para ser dar ao trabalho de respeitar o RGPD e usa geolocalização para nos bloquear o acesso. Em zonas do mundo onde reina o autoritarismo das ditaduras, vive-se mesmo com uma Internet limitada. O caso chinês é o grande exemplo disso. O sonho bem intencionado dos criadores da Web não está a sobreviver ao contacto com as forças políticas e económicas tradicionais.
Finding a good read among billions of choices: Como decidir o que ler no meio do dilúvio de informação? Este algoritmo de Inteligência Artificial está a ser treinado para ajudar a recomendar leituras. Não por categorias, como os que alimentam os sistemas de recomendação das lojas online, mas por conteúdo.
The Long, Dark History of Russia’s Murder, Inc.: Uma história dos mortíferos serviços secretos russos, ainda hoje notórios por não hesitarem em usar os métodos clássicos de assassinato público para eliminar aqueles que estão no lado errado de Putin. Há que apreciar a história de um núcleo de assassinos russos sediado nos Alpes franceses, cuja base de operações lhes permite atuar em toda a Europa. Parece enredo de filme de espionagem, mas é a realidade negra da política interna e externa russa.
Every Sample from Paul’s Boutique by the Beastie Boys: Um trabalho brilhante de arquivismo musical. E não surpreende, a estética dos Beastie Boys era mesmo uma de samplagem e remistura de inúmeras frases musicais criadas por diferentes músicos. Pura colagem musical, reflexo sonoro de uma estética visual do modernismo. E, como observa o Jason Kottke, algo impossível de fazer nos dias de hoje, pelo interminável labirinto de direitos de autor que estes criadores teriam de navegar para poder usar de forma autorizada os inúmeros samples.
POPE VS. POPE: HOW FRANCIS AND BENEDICT’S SIMMERING CONFLICT COULD SPLIT THE CATHOLIC CHURCH: Duas visões em conflito, um cisma mal disfarçado na igreja. O conservadorismo rígido do antigo Papa, que após abdicar não se resignou ao anonimato, e na visão liberal e progressista do novo Papa. Uma visão aberta que irrita muitos setores da Igreja, habituados ao conforto das suas velhas maneiras. Tem o seu quê de guerra civil entre religiosos.
Remix: Um projeto artístico que ousa repensar a arquitectura urbana. Infelizmente, estes projetos raramente passam do conceito.
Sky Pirates: Uma história bizarra da I Guerra, quando um Zeppelin capturou um barco no mar do Norte. O único momento na história militar em que um veículo aéreo capturou um naval.
Common Misconceptions People Hate Hearing Repeated As Fact: Comecemos com Einstein, na verdade, foi um brilhante aluno a matemática. A partir daí é sempre a decair. Algumas daquelas histórias que toda a gente acha que são verdadeiras, mas não são.
Capturing the Architect of the Holocaust: É sempre importante recordar a história da captura de criminosos de guerra nazis, revendo um período muito negro da história mundial.
“The Expanse” Season 4: New Worlds, New Dangers Beyond the Ring Gate [OFFICIAL TRAILER]: Confesso que a nova temporada da série Expanse parte de um livro que foi dos que menos gostei. Mas…é Expanse! Das melhores séries literárias de ficção científica atuais, e também das melhores séries do género em televisão. Sim, melhor que The Orville ou Star Trek Discovery. Resta a paciência de fã, aguentar até dia 13 de Dezembro para regressar a este fabuloso mundo ficcional.
Modern literature and technology: O texto é um belíssimo ensaio curto sobre a forma como a literatura foi modificada e reagiu à influência dos meios tecnológicos. Do surgir do conto como forma literária em reação à massificação da imprensa no final do século XIX às experiências narrativas com textos cortados dos anos 60 (reação à sociedade do espectáculo e à fragmentação dos media audiovisuais então incipientes) e ao hipertexto dos anos 90 (hello internet, e sim, leram bem, anos 90). Ou a forma como soube antever potenciais e efeitos das tecnologias. Aqui, Drácula de Bram Stoker é dos mais sublimes exemplos. Todos recordam o livro pelo vampiro gótico, poucos observam a forma como foi escrito. A história não é narrada, é uma sucessão de documentos - cartas, telegramas, excertos de diários, transcrições de registos fonográficos, fragmentos que convergem numa narrativa linear. Desde a minha primeira leitura desse romance que esse lado insuspeitamente experimental me seduziu, mais do que a figura trágica do vampiro. Mas para além da relação entre literatura e tecnologia, vale a pena ler o artigo só pelos primeiros parágrafos, que desmontam de forma concisa e sublime os medos que manifestamos perante o efeito de novas tecnologias: "Every technological breakthrough tends to be accompanied by anxious announcements of its catastrophic effect on literature. TV or tablet computers or smart phones threaten the book’s cultural authority, shatter the attention or destroy reading. (...) It is true that new communication technologies often produce new frameworks that adjust the ways in which literature appears: the page, the screen, the website, the file window. The innovation of the printed book itself is a good example, a technology considered dangerous by many elites when it first appeared for its ease of reproduction and dissemination".
wtxch: Suehiro Maruo: E estarão vós, leitores, preparados para a estética de Maruo? Esta é das suas obras mais suaves.
FC portuguesa? Existe?: Sim, mas… por muito que o Candeias e a Cristina discutam, levantando pontos válidos e interessantes, há alguns fatores estruturais externos ao género que impedem o seu desenvolvimento. Somos um país desinteressado na ciência e tecnologia, ou pelo menos com um nível de discussão pública sobre estes temas que vá além do deslumbre com gadgets ou novidades (s é por isto que o Bit2geek é um projeto muito importante, porque obriga a elevar o discurso sobre estes temas), e raramente olha para os impactos profundos que têm na sociedade e individualidade; a FC enquanto género é mal vista, o estigma cultural parece inexcisável, ao contrário do policial, outro género visto como menor mas aceite pela academia e intelectuais (há exceções a esta visão, mas ainda não as suficientes para ultrapassar o estigma); Apesar da evolução positiva na aquisição de hábitos de leitura pela população em geral (a Rede de Bibliotecas Escolares tem feito aqui um enorme trabalho de anos, invisível para quem não esteja nas escolas), a leitura não é um meio primordial, e os nichos podem não ser suficientes para permitir um mercado - algo que se agudiza, num ciclo de retroalimentação, quando os potenciais leitores lêem fluentemente noutras línguas e já leram e compraram aqueles livros que gostariam de ver editados em português. Recordo há uns anos ter falado com uma professora dinamarquesa, também geek (introduziu-me ao conceito de fantasy schools, escolas onde o role-play é central no desenvolvimento do currículo, e sim, isso implica escolas temáticas, dos potterheads aos vikings), e ter ficado surpreendido quando me contou que lá, era raro as editoras traduzirem autores. Simplesmente, disse-me, não havia mercado. Como lêem fluentemente em inglês, compram a edição inglesa ou americana. As editoras dinamarquesas editam os autores dinamarqueses. O que num país com arreigados hábitos de leitura não é problemático. Eu ainda falaria do preço dos livros.
*The manuscript of the first page in the novel “Crash,” by J G…: Não é dos meus livros favoritos de Ballard (oscilo entre o Highrise, Hello America ou Atrocity Exhibition, esse tour de force de literatura experimental), mas o fetishismo automobilizado de Crash é marcante.
Superhero or Supervillain? Technology’s Role Changes Comic Books: A imagem dos artistas a trabalhar sobre estiradores está cada vez mais no passado. O impacto do digital na banda desenhada faz-se sentir nos próprios meios em que é produzida, com o uso de tablets e ferramentas de desenho digital e edição de imagem, sem que muitas vezes o leitor se aperceba disso.
Tecnologia
The Lasers of Discontent: Lasers como armas de protesto, e contramedida face às tecnologias de vigilância.
In 2029, the Internet Will Make Us Act Like Medieval Peasants: De facto, as plataformas têm uma certa tendência a trancar-nos como senhores feudais. Mas a parágrafos tantos, o artigo aponta para uma versão contemporânea da frase clássica de Clarke sobre tecnologias avançadas serem indistinguíveis de magia: "Thanks to ubiquitous smartphones and cellular data, the internet has developed into a kind of supernatural layer set atop everyday life, an easily accessible realm of fearsome power, feverish visions, and apocalyptic spiritual battle". De certa forma, é assim que interagimos com tecnologias que não compreendemos.
Bundling and Unbundling: Será que as ondas disruptivas da tech economy são assim tão positivas e úteis? Grande parte funciona pegando em modelos tradicionais de negócio, retiram-lhes funcionalidades, passam parte do trabalho e encargos para os clientes ou trabalhadores, e ainda posicionam serviços simplificados como um luxo.
Laser (MIA): Se quiserem experimentar um dos primeiros jogos de computador desenvolvidos em Portugal, podem vir aqui descarregar. Precisam de um emulador de ZX Spectrum. Cortesia do blog Planeta Sinclair, que se dedica à preservação dos antigos jogos para este computador clássico.
mTiny robot review: Screen-free coding for kids: Cruzei-me com esta adição da mBot ao campo dos robots para aprender programação na Maker Faire Rome, um de dois projetos que lá estavam a mostrar com novos robots para educação. Achei-o interessante, curiosa a forma como tangibilizaram o interface de programação. Suspeito que por cá não ganhe adeptos, por não ser produto Clementoni (há uma ligação muito próxima entre esta marca de brinquedos e trabalhos muito interessantes de introdução de robótica a públicos pré-alfabetizados, talvez por falta de disponibilidade de equipamentos de outras marcas no mercado, muitas vezes este tipo de projetos é limitado pela disponibilidade de equipamentos off the shelf) (fun fact: a Clementoni tinha um stand na Maker Faire Rome, mas não na área de Educação, estavam numa zona dedicada à inteligência artificial. Confesso que não consigo ver a ligação entre os brinquedos da empresa e IA, mas enfim) .
Uma Breve História dos Videojogos Portugueses: O início: Se forem pacientes, ainda poderão encontrar nalgumas livrarias o excelente História dos Videojogos em Portugal de Nelson Zagalo, que traçou a evolução dos jogos de computador enquanto indústria desde as primeiras experiências nos anos 80 aos dias de hoje, em que se tornou uma indústria. Se não, este video do Cineblog é uma excelente introdução ao tema. E há que adorar a forma como termina, com o lendário jogo erótico português que nunca ninguém soube quem foi o criador.
Security robots are mobile surveillance devices, not human replacements: E é por isso que são vendidos, uma vez que são ineficazes em reais problemas de segurança. Mas não é uma questão de vídeo vigilância, é vigilância de radiofrequência - capturar dados de dispositivos móveis e traçar perfis a partir deles. Algo de muito valioso para quem gere espaços comerciais.
How the Dumb Design of a WWII Plane Led to the Macintosh: A origem do cuidado que hoje temos no design de interfaces de interação humana nasceu com acidentes aéreos provocados por mau design de elementos do cockpit, que provocavam confusão nos momentos mais cruciais.
Modernidade
Venice Underwater: The Highest Tide in 50 Years: Imagens do fenómeno Acqua Alta, que inundou Veneza. Algo que, com os efeitos já irreversíveis do aquecimento global, se vai tornar o normal e não o excecional.
Your Favorite Futurist Is Wrong: Sim, normalmente estão. Os futuristas não são oráculos, raramente predizem realmente o que o futuro traz (e se o fazem, é por acidente). O que não quer dizer que devam ser descartados. As suas extrapolações ajudam-nos a compreender as tendências que moldam o tempo presente.
The Dismal Art: Economics Seems To Have Detached From Reality. So Why Does Anyone Listen?: A economia, enquanto disciplina, torneia e determina as decisões políticas económicas que afetam a vida de todos. No entanto, a relação entre a ciência económica e o que realmente se passa na economia parece ser cada vez mais distante. Como, por exemplo, na visão monetarista clássica e aquilo que os bancos realmente fazem para gerar dinheiro.
The Afghan DJs hired and abandoned by the US military: Uma história tocante, sobre afegãos que ousaram levantar a cabeça contra os talibans, e que agora estão ameaçados por causa da forma descuidada como os americanos se retiraram do Afeganistão.
Is It Time Gauguin Got Canceled?: Não há aqui grandes surpresas. Qualquer conhecedor de história de arte sabe que Gauguin foi viver a vida simples no pacífico sul, essencialmente perseguindo liberdades sexuais. O que hoje se chama de turismo sexual, com menores. Diga-se que visões sexualizantes predatórias sobre culturas vistas como inferiores à europeia, em que o exotismo apimenta a objetificação feminina, é muito transversal ao mundo da arte em várias épocas. Pensemos no orientalismo, talvez o caso mais óbvio de visões sexualizantes e colonialismo. De facto, o comportamento de Gauguin é hoje considerado criminoso, e sempre foi eticamente reprovável. O problema é que é uma figura de charneira na história da arte. Deveremos esquecer as suas obras? Pessoalmente penso que não, mas também não deveremos deixar de sublinhar que as suas ações são indesculpáveis. No entanto, este tipo de discussões tem tendência para cair nos extremos.