sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Timor entre invasores : 1941-1945


Maria Bretes (1989). Timor entre invasores : 1941-1945. Lisboa: Livros Horizonte.

Nem chega a ser um apêndice nas histórias da II Guerra (quando muito, meia frase), a história do envolvimento da então colónia de Timor no teatro de operações do Pacífico. Diga-se que não é uma história muito abonatória para o nosso lado. À época, Timor era uma colónia esquecida, colonizada por um misto de funcionários públicos descontentes por se sentirem castigados pela colocação e degredados expulsos de Portugal continental por crimes políticos. A economia era residual, e o poder manifestava-se pela manipulação dos interesses dos régulos locais. As forças de defesa mal totalizavam uma companhia mal armada. 

No quadro das operações no Pacífico, Timor foi inicialmente ocupada por forças australianas e holandesas (antes do colapso das índias orientais holandesas). A fraqueza do governo português era evidente e a ocupação deu-se sob a desculpa de auxílio à defesa da colónia. De certa forma, ajudou a precipitar o inevitável, com uma invasão japonesa que expulsou os primeiros ocupantes, e se notabilizou pela forma como mobilizava a população indígena contra os colonos. No meio disto, a ironia profunda de Portugal ser um país neutro no conflito com território ocupado pelos beligerantes, com ordens dadas aos representantes do governo português na colónia de não cooperação com ocupantes, mas também de não resistência. Havia outro caso de perigo, com o território de Macau em risco de ocupação, e uma nítida incapacidade portuguesa de projetar forças, mesmo que simbólicas, para estes territórios. Resistência houve, por parte de forças especiais australianas com auxílio de alguns dos degredados portugueses e timorenses.

A recuperação da colónia deu-se no quadro das condições de cedência da base das Lajes aos americanos. A ocupação deixou marcas, com relatos de massacres de civis timorenses e colonos, e campos de concentração. Maria Bretes traça esta história com recurso a relatos militares australianos, ao relatório que o governador do território fez para Lisboa (um documento selado e secreto, por ser uma historia humilhante para o nacionalismo salazarista, e que se viria a repetir em moldes semelhantes com o fim do Estado da Índia), e outra documentação, onde se inclui o intrigante relato Funo de Cal Brandão, que acompanhou a resistência das forças australianas nas montanhas timorenses.