quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Da Monarquia à República


José Sardica (2011). Da Monarquia à República: Pequena História Política, Social e Militar. Lisboa: Aletheia.

Por ironias do acaso, estou a escrever esta resenha no dia 5 de outubro, quando se comemora a implantação da república. Nas minhas leituras sobre a história portuguesa do século XX, a conclusão algo incómoda que tiro é que as duas grandes revoluções que marcaram a nossa evolução política e social, o 5 de outubro e o 25 de abril, aconteceram não pela necessidade coletiva de um país que se sabe ser sub-desenvolvido e cujos cidadãos querem que evolua, mas pela inércia generalizada face a regimes que se tornaram tão esclerosados que para a derrocada bastaria um pequeno abalo. Notem, não quero com isto menorizar a importância destes dois momentos de charneira na nossa história, mas note-se que as grandes adesões e aclamações aconteceram depois, e não antes, destes momentos. 

O 5 de outubro mostra bem isso, quando se percebe que bastou um punhado mal armado de revolucionários deixar-se ficar numa zona de Lisboa para o regime cair, com os elementos que supostamente lhe seriam leais a mal levantar um dedo na sua defesa. O regime monárquico estava esgotado, e os próprios monárquicos compreendiam isso, exceto alguns mais ultras, caso de Paiva Couceiro, que graças a isso nos legou alguns dos quasi-acontecimentos mais ridículos da história desses tempos (há um livro de Pulido Valente absolutamente delicioso sobre essas tropelias).

A república também não trouxe estabilidade e depressa se diluiu em lutas internas, o que abriu caminho à outra revolução marcante do século XX português, que implantou a ditadura do estado novo. 

Este curioso livro é uma crónica dos últimos tempos da monarquia, mostrando o desgaste do final do regime constitucional, a quase inevatibilidade da sua mudança, a previsibilidade da revolução (quando os proto-revolucionários andam a passar armas em casas ao lado de comissariados de polícia e ningúem faz nada, percebe-se até que ponto a inércia reinava). Apesar dos clamores sobre o glorioso e nobre passado, na realidade a revolução trouxe um súbito fervor republicano por parte da maioria dos fervorosos súbditos reais, especialmente os praticantes do clássico tudo deve mudar para que se permaneça na mesma. 

A crónica dos momentos da revolução é também detalhada, embora com um olhar mais para as manobras políticas do que um relato factual da situação no terreno. No global, permite-nos conhecer um pouco mais a fundo um dos momentos fundamentais do Portugal moderno.