quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

The Far Reaches

Seis contos com um tema comum, a distância na exploração do espaço. Alguns autores seguem o caminho da vastidão do espaço-tempo, outros preferem os fossos sociais e civilizacionais. Seis contos de excelente ficção científica, que se atrevem a olhar para o longínquo.

James S.A. Corey (2023). How It Unfolds. Amazon Originals.

Usando uma tecnologia de fabricação lumínica (é melhor não aprofundar muito a ideia), a humanidade espalha-se pelas estrelas, de uma forma inédita. Os corpos e memórias de um grupo de voluntários são digitalizados, para serem reincorporados como cópias, décadas, séculos ou milénios depois, noutros planetas. Um esforço de propagação que garante sucessos, novas sociedades e mundos, mas também falhas. Um método recursivo, dado que uma das missões destes exploradores é, também, a de se transmitirem após materialização. O que significa que num futuros distante um grupo destes clones inicia o processo de colonização de um planeta que se revela ser a Terra, em tantos milénios do futuro que já não restam vestígios de ter sido o berço da humanidade. Este é o pano de fundo de uma história de amor não correspondido, que se renova a cada iteração das cópias dos colonos, mas essa parte da narrativa é bastante tediosa.


Veronica Roth (2023). Void. Amazon Originals.

Há uma curiosa dicotomia nesta história, entre os passageiros de uma nave espacial que liga as diversas colónias humanas, e os seus tripulantes. As distâncias e efeitos relativísticos levam a que a vida a bordo se meça em anos, enquanto no exterior passam séculos. É este o palco para um policial clássico no espaço, com o assassínio de um passageiro idoso que regressa à Terra. às mãos da mulher que, décadas antes, enganou com promessas de amor eterno mas abandonou, quando fez a viagem de ida ao planeta distante. Para o homem, passou-se uma vida. Para a mulher, alguns anos de tristeza, que alimentam o ato de vingança.

Rebecca Roanhorse (2023). Falling Bodies. Amazon Originals.

Um jovem aparentemente anónimo regressa à estação que orbita uma Terra devastada por um conflito com alienígenas. Seres que, por ironia, respeitam e admiram a cultura terrestre, e tentam inclusive adotar crianças terrestres para os educar na sua civilização. Nas vésperas de um acordo de anexação, o jovem terá de equilibrar os seus instintos como humano com a sua herança de terrestre adotado e criado por um poderoso político alienígena.


Ann Leckie (2023). The Long Game. Amazon Originals.

Podemos sempre contar com Leckie para nos levar ao interior do que seriam mentes alienígenas. O conto é enganadoramente simples - numa colónia distante, os humanos cuidam da vida inteligente nativa, mais por questões de boa imagem empresarial e relações públicas do que real respeito pelos alienígenas. Estes, similares aos nossos polvos mas de vidas muito curtas, começam a perceber que podem ir mais longe, e aprender com os humanos a transcender os limites das suas vidas, construindo uma civilização.


Nnedi Okorafor (2023). Just Out of Jupiter's Reach. Amazon Originals.

O rico imaginário afro-futurista de Okorafor leva-nos a um futuro mais próximo, onde as primeiras missões humanas a explorar o sistema solar se fazem em naves espaciais inteligentes bio-construídas, em simbiose com os seus tripulantes. Infelizmente, cada nave apenas reconhece um tripulante, e as suas missões decorrem em isolamento, até ao dia em que está programado um encontro na órbita de Júpiter entre as naves e os tripulantes. Descobrimos aí as tensões e motivações de um punhado de humanos nas estrelas. Com as suas preocupações de FC social, Okorafor centra-se mais nos sentimentos dos personagens e nas questões sociais do que nos lados técnicos, invocando exóticos mundos biotecnológicos vindos da influência enriquecedora das estéticas não europeias.


John Scalzi (2023). Slow Time Between the Stars. Amazon Originals.

Num conto absolutamente brilhante, Scalzi imagina o que faria uma inteligência artificial autónoma enviada para as estrelas para perpetuar a espécie humana. Construída como um repositório de ciência e tecnologia, bem como da cultura humana, criada como entidade inteligente autónoma, a sua missão transcende os limites temporais humanos - procurar planetas habitáveis e estabelecer lá futuras colónias. Mas, com a autonomia vem a capacidade de reflexão, e a IA, por entre a vastidão do espaço, numa missão que demora milhões de anos, acaba por se ver como a guardiã da memória da humanidade. Decide não a recriar, mas sim procurar eventuais civilizações alienígenas avançadas, para lhes oferecer o nosso legado.