James Tynion IV, Eryk Donovan (2024). Memetic: The Apocalyptic Trilogy Deluxe Edition
Foi com Memetic que descobri a voz algo quirky de Tynion, que entretanto se tornou argumentista para as majors. Memetic é uma pura aventura de FC apocalíptica, onde um artista liberta no espaço online uma imagem memética de uma preguiça, que irá contaminar a humanidade e provocar a sua aniquilição, sem que haja salvação possível. Para além de divertida, teve o mérito adicional de surgir numa altura em que a cultura dos memes online ainda se estava a desenvolver. Esta edição ainda incluo as igualmente catastróficas Cognitic e Eugenic. Em Cognitic assistimos a uma luta entre entidades meméticas alienígenas conscientes que se incoporaram no cérebro humano ao longo de milénios. Eugenic vai ainda mais longe. Uma vacina desenvolvida para combater uma pandemia global leva, intencionalmente, ao nascimento de bebés deformados que formarão uma nova espécie humana, com os humanos de genética natural condenados à extinção numa aparente utopia futurista. Ideias incisivas que se transformam em histórias intrigantes, são as marcas desta edição.
Roberto Recchioni, Wether Dell'Edera, Gigi Cavenaggo (2024). Batman/Dylan Dog. DC Comics/Bonelli.
O traço de Werther Dell'Edera transforma este divertido crossover DC/Bonelli num trabalho impressionante. Roberto Recchioni estrutura um argumento que cruza na perfeição os mundos ficcionais de Batman e Dylan Dog. O ponto de partida está numa ligação perigosa entre os seus arqui-inimigos Joker e Xabaras, com estes a unir esforços para cruzar o soro de imortalidade de Xabaras com o gás de sorriso mortífero de Joker, na tentativa de criar seres imortais. Desperta aqui uma aventura em que a rede de esgotos londrina é palco de uma luta entre Catwoman, Batman e Killer Croc enquanto Dylan e Groucho despacham zombies sorridentes; o salvar de Catwoman e Groucho, contaminados em vida com o novo soro de imortalidade, numa luta que leva Batman e Dylan às ruínas do laboratório original de Xabaras (uma tremenda vénia ao primeiríssimo Dylan Dog). Tudo termina com Killex, um dos mais perigosos personagems de Dylan Dog, ressuscitado e à solta nas ruas de Gotham. Travar este assassino obrigará a combinar esforços com os personagens místicos da DC e da Bonelli, unindo a clássica Madame Trelkovsky com John Constantine (com Recchioni a mostrar ser fã do Constantine mais clássico, torturado, implacável e aparentemente degenerado) e Jason Blood/Etrigan. Só pela descida aos infernos de Dylan Dog e John Constantine já vale a pena ler este final de um crossover muito bem concebido.
Walt Disney's Donald and Mickey in Metropolis and Faust. Fantagraphics.
É sempre agradável ler, ou reler, estes comics Disney criados por argumentistas e desenhadores italianos. Os argumentos são divertidas variantes sobre histórias bem conhecidas, e diga-se, a homenagem a Metropolis é brilhante, quer em termos narrativos quer gráficos. Se alguma vez se perguntaram como é que a estética do cinema expressionista alemão dos anos 20 do século XX seria com o estilo Disney, não precisam de ir mais longe. Mas o maior deleite destas leituras é a curiosa elegância que os desenhadores italianos transmitem aos simples cartoons Disney, tornam-nos mais sinuosos, fluídos e visualmente ricos. Como disse, é um deleite de leitura.