Um curioso achado de alfarrabista. Este livro é um relato de eventos que mal dão um parágrafo na história da II Guerra, bem como na de Portugal - a ocupação japonesa da colónia portuguesa de Timor, hoje o independente Timor Leste. Uma história mal conhecida, que este livro conta em ordem cronológica, detalhando as experiências do seu autor.
Convém sublinhar que este livro é produto do seu tempo. Parte do tom de revolta e indignação perante a invasão japonesa tem raiz xenófoba, num tom de "como se atrevem estes amarelos a dominar os brancos". A população nativa é considerada súbdita benévola, amante respeitosa do jugo luso e desejosa de regressar à autoridade portuguesa. Não esperemos daqui uma análise crítica, é um mero relato e quem o faz está embrenhado na estrutura colonial.
Como relato, é valioso. Detalha a ocupação japonesa violando a neutralidade portuguesa, no fundo uma invasão territorial perante um governo sem meios militares para o defender, nem autorização política para o fazer, revoltas nativas contra portugueses, e as ações de guerrilha australiana que interviram na ilha, com auxílio de voluntários portugueses e timorenses.
Não é uma leitura confortável, entre o tom (compreensível, sublinhe-se) de elogio colonial e os relatos de atrocidades militares cometidas contra as populações (com destaque dado aos cometidos sobre os colonos). Percebe-se que é um capítulo mau da história portuguesa do século XX, cuja política de neutralidade algo ambígua mas a pender decisivamente para o lado aliado se viu posta em causa numa remota e distante colónia. E. no fundo, um prenúncio do que viria a acontecer ao restante império colonial, apesar das transmutações em territórios ultramarinos.