sexta-feira, 30 de agosto de 2024

A Memória e o Vazio


Lívia Borges (2024). A Memória e o Vazio. Vagos: Editorial Divergência.

Lívia Borges já nos havia mostrado as suas capacidades enquanto escritora de ficção científica com o romance distópico Futuro. Este A Memória e o Vazio solidifica essa capacidade, com uma história sólida e bem estruturada, passada entre os homens e as estrelas.

No futuro que este livro nos mostra, a humanidade encontra-se à beira de uma crise energética. O hidrogénio explorado no espaço de que o planeta depende para as suas necessidades está a esgotar-se, e a principal empresa de extração prepara uma missão arriscadas: sair do sistema solar e procurar extrair hidrogénio nas fronteiras de um buraco negro.

Para isso, escolhe uma equipe de mineiros espaciais muito veteranos, que já se encontravam aposentados. Em parte, porque são os técnicos mais experientes, contando com muitas missões de captura de hidrogénio bem sucedidas, mas a principal razão prende-se com o cientista da equipa ser filho do investigador que começou a gizar a ciência da captura de hidrogénio na órbita de buracos negros.

A equipa é experiente, mas tem um longo historial entre si, e muitas tensões, especialmente entre o comandante e o cientista. Fantasmas do passado e atritos traumáticos, que se tornam prementes numa missão que durará anos no espaço profundo.

Apesar dos problemas, a equipe é coesa, e a missão um sucesso. Resta regressar, hibernar para tornar mais suportável a longa viagem. E aqui o livro termina de forma ambígua, com a intervenção de uma outra personagem, a IA que controla a nave. Mais não conto, têm mesmo de ler, e afianço-vos que o final do livro é mesmo inesperado e ambíguo.

Romance de ficção científica sólido, dentro do campo da Hard SF, A Memória e o Vazio é uma excelente proposta no reduzido panorama da Ficção Científica portuguesa.