quinta-feira, 25 de julho de 2024

Um Mundo Novo


Wendell Wilkie (1944). Um Mundo Novo. Lisboa: Editorial Século.

Após perder as eleições presidenciais americanas de 1940 para Roosevelt, Wendell Wilkie foi enviado por este numa volta ao mundo, visitando alguns dos pontos quentes da II Guerra. As impressões do político americano sobre esse périplo estão reunidas neste livro. É interessante por ser um documento que captura visões da II Guerra, enquanto ela acontecia.

Wilkie inicia a sua viagem no norte de África, num Egipto onde Montgomery está a começar a travar Rommell. Segue-se a neutra Turquia, soberbamente elogiada pelo seu progressismo. Na visita à União Soviética percebe-se claramente que Wilkie foi conduzido como convidado de honra a conhecer aquilo que os seus anfitriões queriam que ele conhecesse, padrão que se repete na China nacionalista. Faz sentido, as percepções deste político fazem-se a partir do contacto com as realidades artificiais das visitas guiadas e das conversas com os líderes e seus acólitos. Este livro não relata experiências de viagem no terreno, mas sim as de um político de alto nível que foi recebido diplomaticamente, conhecendo aquilo que os seus anfitriões queriam que conhecesse.

Não deixa de ser um relato interessante, dando-nos uma visão global da guerra em 1942. Lido estes anos todos, houve dois pormenores que me surpreendenram. Por um lado, uma visão muito clara de uma nova ordem global pós-conflito, onde os antigos impérios coloniais seriam desfeitos, uma condição/consequência do envolvimento americano e das suas ideias de autodeterminação dos povos, indo contra a visão dos restantes Aliados que viam no pós-guerra um regresso à tradicional ordem global. Por outro lado, uma visão que nos é curiosamente contemporânea, de um mundo global onde a geografia se contrai sob o efeito dos transportes aéreos, e onde as culturas tradicionais chocam com a modernidade, aqui numa perspetiva de evolução, de preservação da herança mas em abandono do antigo para valorizar o progresso. Wilkie sublinha muito o papel capacitador da educação para o desenvolvimento das regiões do planeta que eram vistas como pasto para rapacidades coloniais, apontando a qualificação dos povos como o caminho para o desenvolviento livre de imposições coloniais.

Este livro foi um curioso achado na Feira da Ladra, um daqueles bons acasos de alfarrabista. Para curiosos com a história da II Guerra, é interessante ler uma visão contemporânea da época, escrita e editada (até mesmo por cá, a edição é de 1944) num tempo em que a guerra ainda se vivia, e era de desfecho incerto.