Tiziano Sclavi, Gustavo Trigo, Carlo Ambrosini (2022). Dylan Dog: Inferni. Milão: Sergio Bonelli Editore.
Os infernos de Sclavi são sempre inesperados. Em La Belezza Del Demonio, o inferno é a Terra, à qual uma bela demónia é condenada a viver durante duzentos anos, após uma invocação demasiado bem sucedida. Um piscar de olhos no inferno, uma eternidade na Terra, e uma história onde a alma esquecida de um homem executado serve de fio condutor à libertação da criatura dos infernos aprisionada numa vida humana.
Já em Inferni, o inferno é uma imensa repartição burocrática onde trabalham almas penadas e criaturas que invocam Bosch, com adereços modernos no lugar da cabeça. Ou o inferno poderá ser outros infernos, alguns que se assemelham às visões de pesadelo da mitologia cristã, outros sendo quase paraísos - porque o inferno é o outro lado, o que nos espera para lá da morte, como nos mostram os mitos da antiguidade, e tanto pode ser um lugar de ranger de dentes como uma calma vila suburbana onde velhos casais ainda apaixonados vivem uma velhice eterna. Em Inferni, Sclavi mergulha no surreal, numa história onde a previsibilidade da repartição, onde todos os dossiers contém toda a informação sobre o que aconteceu e vai acontecer, é quebrada por um erro informático no dossier de Dylan Dog, que se vê envolvido nas tentativas de uma antiga amiga em contactar o espírito do marido.
Infernos que quebram as iconografias da mitologia cristã que define a ideia que deles temos. Sclavi aposta no surreal, no tocante, no espaço além da realidade. E, também, na aleatoriedade, em descidas a infernos inesperados. Esta recente edição em capa dura faz regressar duas histórias clássicas de Dylan Dog, em grande formato e coloridas.