domingo, 29 de janeiro de 2023

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Esta semana, o destaque vai para listas de boas leituras, a mão animatrónica da Família Addams, e o aproveitamento kubrickiano do trailer para um filme sobre a Barbie. Olha-se para a extinção dos animais de estimação robóticos, a certeira aposta de longo prazo de Zuckerberg no Metaverso, e o homem que queria namorar um chatbot. Reflete-se sobre novos sindicalismos, más memórias da guerra colonial e os danos causados pela atração pelos nómadas digitais. 

Ficção Científica e Cultura Pop

[no title]: Cyber clássico.

4893) Leituras 2022 - 2 (15.12.2022): Boas sugestões, entre as leituras destacadas do ano 2022 de Braulio Tavares.

Bestiário Tradicional Português – Nuno Matos Valente e Natacha Costa Pereira: Um olhar ilustrado para os monstros e criaturas do medo nas tradições culturais portuguesas.

A Closer Look at the Fully Animatronic Version of the Hand From Netflix’s Wednesday: Se na série se optou por uma mão real, graças à magia do chroma, também não era impossível recriar a mão da Família Addams com animatrónica.

The Barbie Trailer Goes Full Kubrick and We're Here For It: A cultura pop no seu mais kitsch auto-referencial. O trailer funciona, e teria a sua piada que um filme financiado pela Mattel sobre a Barbie fosse de ironia subversiva. Mas sem ilusões, se o filme for irónico, isso apenas irá refletir as decisões tomadas em reuniões empresariais, que sabem bem em que mercados apostar. Não tenhamos ilusões, hoje em dia a subversão cultural é um nicho de mercado e estratégia de marketing.

Tor Tried to Hide AI Art on a Book Cover, and It Is a Mess: Para quê pagar a ilustradores, se podemos mandar o estagiário pegar no Midjourney? Ou nem isso, ir à procura de imagens de stock.

EL SANTO Y LOS MISTERIOS DEL VUDÚ | Jesús Palacios: O agente secreto da televisão mais famoso dos anos 60, também teve aventuras a roçar o fantástico.

10 Strangest Sci-Fi Dystopias: As distopias são uma moda persistente na ficção científica, reflexo de um certo mal estar que sentimos perante a sociedade em que vivemos.

Nova, Nova, Nova, Nova! – Carlos Silva: Análise a um novo livro deste autor, que vejo como uma das mais promissoras vozes da nova ficção científica portuguesa (junto com o Mário Coelho).

Making All Those Gears Spin: Engineering in Science Fiction and Fantasy Roundtable: Uma discussão sobre a forma como a engenharia é representada na literatura de ficção científica. Que, apesar de toda a importância que coloca na ciência e tecnologia, é muitas vezes muito inocente na forma como representa o lado engenharia.

Six Classic Books That Live Up to Their Reputation: Porquê ler os clássicos? Porque são de facto excepcionais obras literárias. Esta lista da Atlantic olha para livros clássicos que são, enfim, clássicos, mas também para os contemporâneos.

The story of how cancelled sci-fi show UFO led to hit series Space: 1999: Sim, sou da geração que não perdia um episódio de Espaço: 1999, gloriosamente a preto e branco na pequena televisão lá de casa.

O Grão-Duque #1-#3: Diria que a série se resume em duas palavras: Romain Hugault. Este ilustrador francês é um apaixonado da aviação, e especialista em representar aeronaves clássicas na banda desenhada. Sempre, consistente, na excelência gráfica.

What we bought: Our favorite books of 2022: Sugestões de leitura, à volta das novidades literárias do ano passado.

4895) Leituras 2022 -- 3: Mais boas sugestões, entre os livros que encantaram este colunista em 2022.

Las películas románticas navideñas invaden las plataformas de streaming. Y es mentira que nadie las ve: arrasan en audiencia: Ah, esse fenómeno cultural que são os filmes de natal chapa 5. Os da Hallmark são tão absurdos que se tornam uma estética própria. E o surpreendente, é que são uma fórmula de sucesso.

Tecnologia

Re-Animator by Atom.D Stuart Gordon: Da hubris científica.

Try ‘Riffusion,’ an AI model that composes music by visualizing it: Um projeto intrigante, que cruza Stable Diffusion com geração de som.

Twitter is blocking links to Mastodon: Está a ser fabuloso, assistir a esta implosão do Twitter às mãos de um bilionário demente. Há que apreciar particularmente a postura de defesa absoluta da liberdade de expressão, que restaura as contas de trolls e nazis, mas suspende jornalistas, ou bloqueia acesso a sites alternativos à rede social. É uma boa experiência para se perder as ilusões sobre a suposta competência sobre-humana de Musk (e restante classe de bilionários).

Retrotechtacular: A 1960s Look at the 21st Century Home: Recordar as visões de futuro do passado, e perceber que se as tecnologias antevistas não foram aquelas que adotámos, a visão da tendência essencial, a progressiva mediação da nossa vida pela tecnologia, foi certeira.

New AI model allows you to make 3D models with just some text prompts: Oh my! A Luma AI a fazer coisas ainda mais fabulosas do que aplicar os NeRFs ao 3D. Já estou na lista de espera.

Generative AI is changing everything. But what’s left when the hype is gone?: É a pergunta que não se faz, prefere-se o deslumbre fascinado ou assustado com as capacidades da geração de conteúdos por IA, mas não se reflete sobre as suas aplicações e limitações. Como, por exemplo, este: " By design, a text-to-image model churns out new images in the likeness of billions of images that already exist. Perhaps machine learning will only ever produce images that imitate what it’s been exposed to in the past".

Why Doesn’t Every American Have a Robot Dog?: A ascensão e queda do robot a imitar animais de estimação como brinquedo. Em parte, pelo fator normalização. Bolas, isto da robótica na educação só veio tirar a magia às crianças: "That brings me to the final problem: Robots are not magical to children anymore. They’re like school, or the evening news. Outside the toy aisle, they have gotten far more advanced and STEM-y, and arguably more sinister. Famously, these robot dogs can do backflips and dance routines for our amusement, and others of them can carry guns and act like cops. This has meant that even children can no longer live in an innocent state of awe when confronted with something that acts, in some ways, as if it is alive. They are forced to punch through the curtain and face reality. Tragically, the freakish-looking (skinless and fleshless) metal dogs of the 2010s and 2020s have now inspired educational robot-dog toys that are so ugly and are designed to help children learn to code." Bem, o Petoy não é nada feio, creio.

Mastodon users embrace columnist's funny error about a fictitious "John Mastodon": Ah, uma rara viralização nas comunidades que formam o mastodon, a brincar com um erro tipográfico.

Yesterday’s Future is Brighter Today: As demoscenes costumam ser brilhantes, espetáculos gráficos e sonoros encapsulados num mínimo de linhas de código. São uma onda muito retro, que sobrevive precisamente pelo enorme desafio de programação criativa que representam. 

More covers for the Spanish computer magazine MicroHobby: Estéticas retrofuturistas da computação.

Qué fue de ‘Turbo’, el singular botón que tenían casi todos los PC en la década de los 90: Um clássico, que supostamente permitia acelerar a velocidade do processador. Confesso, recordo-me deste botão (ou seja, ando a caminho da obsolescência).

Image-Generating AI Can Texture An Entire 3D Scene In Blender: Um espetacular uso de stable diffusion, que nos mostra caminhos muito mais interessantes de uso destas tecnologias do que aqueles que são discutidos nos fóruns (a discussão é arte/não é arte, ou sobre a apropriação indevida do trabalho de criadores). Automatizar um dos mais chatos processos de modelação 3D é excelente.

275 – | Weeknotes: Spot on, nesta observação do Jaymo. Pessoalmente, sou enormemente critico das novas versões do metaverso, porque não estou a ver nada de realmente novo perante o que já foi feito nas anteriores épocas de hype da realidade virtual. Mas o Jaymo mostrou a falha na minha lógica: “For millennials the internet they grew up on was forums, livejournal, early social networks like MySpace etc. Thats what we think the ‘internet’ is, when we actually mean the web. For these kids growing up now, being on the Internet means 3D/virtual worlds, they never touch a website". É uma falha geracional, pertenço a uma geração para quem a internet é essencialmente textual e imagética. Mas para a corrente geração de crianças, a internet já é um metaverso 3D, muito longe das visões corporate, substanciada em ambientes de jogo e interação (pensem Minecraft, Roblox ou outros jogos online multiutilizador). E nisto, tenho de dar a mão à palmatória, Zuckerberg tem razão, os metaversos 3D serão a internet do futuro, porque serão os ambientes em que os jovens utilizadores de hoje estão a crescer. Talvez a aposta dele não lhe corra bem, a distância entre a visão insossa que desenvolve na Meta e aquilo a que o seu futuro público-alvo está habituada é abismal (tentem lá convencer malta que cresceu no Roblox que é fixe fazer folhas de cálculo em realidade virtual...). Mas está a fazer duas coisas fundamentais: a acelerar o desenvolvimento das tecnologias de realidade virtual, e a gerar hype, despertando a curiosidade mainstream para uma tecnologia que, até agora, tem sido de nicho.

Who gains and loses from the new AI?: Algumas percepções intrigantes sobre as potenciais consequências da inteligência artificial generativa. A começar pela geração de texto, que se nos parece convincente, é porque a grande maioria dos textos que lemos ou produzimos no dia a dia são de baixa qualidade. As observações sobre o futuro dos criadores são atemorizantes, a ideia de que para um futuro criador de sucesso ser capaz de competir com os algoritmos tenha de ser um extrovertido, constantemente a afirmar a sua presença, preocupa, porque a energia para auto-promoção geralmente diminui a qualidade criativa.

How to spot AI-generated text: Para aqueles professores que têm medo que os seus alunos passem a usar inteligência artificial generativa para atalhar os trabalhos escritos, há opções para deteção da origem do texto.

A Roomba recorded a woman on the toilet. How did screenshots end up on Facebook?: Um recordar que o uso de eletrodomésticos inteligentes pode ser um enorme risco para a privacidade dos utilizadores. Nunca sabemos exatamente que informações estão a recolher sobre os padrões de uso e espaços privados.

OpenAI releases Point-E, an AI that generates 3D models: E aqui começa o dilúvio da IA generativa em 3D. Apesar dos primeiros resultados não serem particularmente impressionantes nas suas produções - para além, claro, da espetacularidade de escrever uma frase e gerar modelos 3D. 

Becoming a chatbot: my life as a real estate AI’s human backup: O elo humano no sistema artificial, ou, como equacionar uma carreira como assistente para intervir quando o sistema automático se depara com imprevistos, ou complexidade inesperada. Há que rir com o utente do sistema que estava tão convencido que estava a falar com uma mulher, que lhe propôs uma relação extraconjugal.

Modernidade

[no title]: Está em muito boa forma, para quem dorme sob o oceano.

Is TikTok A Threat To Music?: Pelo menos, ao modelo comercial contemporâneo da indústria musical. Uma das características da app é a forma como podemos usar a música em apoio aos vídeos. E, confesso, tenho descoberto por lá sons inesperados. Coisa que nos media mais mainstream, só consigo ouvindo as rádios mais de nicho.

Solidariedade, fiasco ou ameaça real para o sindicalismo de esquerda?: A ideia de um sindicato ligado ao Chega lê-se como uma piada triste e pateta. Um sindicato criado pelos elementos mais fascizantes da sociedade, seria sempre um sindicato a postos para defender as vontades dos patrões e não os direitos dos trabalhadores. Um sindicato para os que gostam de trabalhar e não de ter empregos (é o eufemismo que, nos anúncios de emprego, distingue um empregador que vai exigir tudo e pagar o menos possível, daqueles que têm práticas mais alinhadas com o bom senso). A tristeza é saber que muitos alinhariam nisto, o gado chegano porque prefere as banalidades vituperadas pelo querido líder a ter de pensar pela sua cabeça, e outros como forma de ganhar protagonismo e poder. Se for em frente, poderá exercer um efeito de distorção. O preocupante, é ver que os cheganos estão apenas a imitar os congéneres espanhóis, e a recriar a história, os movimentos fascistas do século XX também tiveram este tipo de associações.

The ‘Perpetual Broths’ That Simmer For Decades: O segredo do sabor, é deixar ao lume durante décadas. Tradições culinárias que persistem, apesar do nosso foco sanitário.

Top 11 RAF fighter aircraft of World War II ranked by number of ‘kills’: Há aqui umas surpresas, nesta lista de aeronaves clássicas de caça. Já se esperava o sucesso do Spitfire, mas quem diria que o obsoleto Gladiator fosse tão mortífero?

How Tall Is Too Tall?: Os avanços em materiais e técnicas de construção estão a avançar os limites de até onde se pode crescer em arranha-céus. Mas há outros limites, éticos, urbanísticos e sociais. É curioso descobrir que os arranha-céus mais altos se destinam a servir de residência aos ultra-ricos, encerrando no seu interior todos os serviços com enorme discrição. Para que os multimilionários não tenham de se incomodar com a cacofonia das ruas e interagir com os comuns mortais (exceto aqueles que servem para os servir, claro).

Guerra Colonial: o julgamento que não houve*: Recordar um episódio paradoxal de censura militar em plenos tempos de liberdade pós-revolucionária, porque mesmo em liberdade, as instituições militares se sentiram ameaçadas e ofendidas pelas referências a um dos episódios mais vergonhosos da guerra colonial. No centro, o editor da Ulmeiro, que se atreveu a publicar um livro sobre o massacre de Wyriamu, em pleno pós-25 de abril, e foi por isso processado pelo estado maior das forças armadas.

Como a Música ao Vivo se Rendeu à Estratégia do Enfartamento: Uma visão muito crítica sobre a excessiva comercialização da cultura musical. E, de facto, das melhores descrições do suplício que são os festivais que li.

Tower of Pisa leaning even less: É curioso ler que as medidas para manter a Torre de Pisa estão a provocar o endireitar do icónico monumento. Mas não temam, turistas assustados com a perspetiva de não conseguir fazer a clássica selfie a segurar a torre, é capaz de demorar alguns séculos a ficar vertical.

When A Portuguese Island Tried To Create A Village For Digital Nomads: Sobre as reais consequências das apostas nos nómadas digitais, que têm o condão de fazer subir os preços dos arrendamentos e gentrificar negativamente as regiões onde estes se instalam. É uma estratégia prejudicial para quem vive e trabalha localmente, e se Lisboa é um case study de como o foco nestas vertentes contribui para o esvaziamento da cidade, o artigo olha para o impacto duma iniciativa de atração de nómadas digitais na sociedade madeirense. Há que admirar a displicência de uma ministra, entrevistada para este artigo, que deixa perplexo o jornalista ao demonstrar mais interesse e entusiasmo na atração de nómadas digitais do que no bem estar dos cidadãos que supostamente serve e representa. 

A Timeline of the Evolution of Western Art Movements: Curta e incisiva, focada nos momentos mais decisivos. Mas falta algo sobre a arte digital.

The Topologist’s Map of the World: O mundo político, sob uma perspetiva topológica. O que conta não é a extensão do território, mas sim o número de diferentes fronteiras.