domingo, 30 de outubro de 2022

URL

Esta semana, destaca-se os excessos da nostalgia, a edição portuguesa de Primordial, e o poder da obra de Miyazaki. Fala-se dos prémios Ig Nobel, de cirurgia robótica, e projetos artisticos que se intersetam com a hipervigilância. Olha-se para o mundo mental dos cães, estéticas industriais, e o shitposting como técnica pedagógica.

Ficção Científica e Cultura Pop

weirdlandtv : Concept drawings by Ray Harryhausen: Do mestre da cinematografia fantástica clássica.

TRICKERY ON A BUDGET: Special Visual Effects in Low Cost Films: Já se sabe, quando o Matte Shot publica, é um surpreendente dilúvio de imagens que nos mostram efeitos especiais pré-digitais. Desta vez, o foco está em filmes de série B, que apesar das restrições de orçamento, alguns tinham cenários de pintura matte muito bons.

‘Culture Has Lost the Ability to Grasp the Present’: Já perceberam que resmungo muito por aqui o facto da cultura pop com mais impacto estar a basear-se nos gostos nostálgicos de um público quarentão, que devora uma eterna repetição dos ícones da sua adolescência. Não sou o único a pensar assim, como bem mostra este artigo. É algo de transversal, da música a outras artes, e o que intriga é que o eterno regressar às estéticas culturais de outros tempos, quer replicando-as, quer continuando-as em infindas sequelas, quer revisitando-as constantemente, seja tão prevalente. Como o autor do artigo mostra bem, nos anos 70 músicas dos anos 40 eram consideradas irremediavelmente antigas (o que não quer dizer que fossem necessariamente rejeitadas, apenas não constituíam o adn cultural contemporâneo). Hoje, músicas com quarenta anos são ouvidas normalmente. Como se não tivesse havido evolução estética ao longo do tempo. E esta estagnação de gostos não se limita aos quarentões nostálgicos endinheirados que despertam o apetite dos executivos das indústrias culturais. Quando troco ideias com os meus alunos música, eles falam-me de bandas que lhe digo já serem velhas nos tempos em que eu era adolescente.

Tres obras maestras del cine de ciencia ficción que adivinaron el futuro de forma increíblemente precisa: Se Soylent Green e Blade Runner são de facto obras primas, tenho as minhas dúvidas com o futurismo mais limpo e pouco controverso de Minority Report. Mas são todos filmes a ver e rever.

«O Esqueleto», de Camilo Castelo Branco, disponível para download gratuito: Uma excelente notícia, vinda do venerável Projeto Gutenberg.

The Culture War Over Which Star Trek (Or Treks) Are Real: Qual é a série Trekkie mais fiel ao espírito Star Trek original? Confesso que aqui voto em The Orville, que é uma óbvia vénia ao futurismo retro. 

Whose Fantasy Is This?: O sucesso da fantasia, entre a fama trazida pelas séries e cinema, e as suas raízes literárias.

Evento: Fórum Fantástico 2022: É o melhor momento do ano para os fãs do fantástico nas diversas expressões artísticas, e como sempre, tem um programa interessante.

The Decision Rests with You! The Day the Earth Stood Still, Seven Decades Later: Recordar um dos grandes clássicos do cinema de ficção científica, uma remitificação moderna dos mitos fundadores do cristianismo.

Bezos's 'Orbital Reef' Space Station Is Set to Be Hollywood's Newest Star: E será um filme sobre a fuga dos bilionários para o espaço, perante uma Terra que se desfaz sob a pressão da crise climática?

Primordial: Um dos mais interessante livros que li recentemente, uma história alternativa muito surreal da era da exploração espacial, com ilustração divinal.

Well-Known Horror Movies As Vintage Cartoons: É um pouco mais que isso, suspeito que a criadora destas deliciosas vinhetas tenha decidido fazer um spoof do estilo suburbia americana da Archie Comics.

Watching Spirited Away Again, and Again: Como não adorar Miyazaki, conjurador de mundos fantásticos do anime, autor de filmes que são pináculos do cinema de animação, criador de estéticas únicas que partem da raiz japonesa para atingir um patamar global, mas ao mesmo tempo muito pessoal?

Ficção Científica

The Radio Murders: Quando eram alta tecnologia.

Google limita acesso a Google Sheets com "demasiados links": Um recordatório do porquê de não se poder confiar demasiado em serviços online. Sem pré-aviso, mudam políticas, e com isso prejudicam utilizadores.

Form, function, and the giant gulf between drawing a picture and understanding the world: Os geradores de imagens são capazes de produções estonteantes, mas será que compreendem realmente o que estão a representar? Para já, a resposta é negativa, apesar de todo o hype à volta da inteligência artificial.

What’s Old is New Again: GPT-3 Prompt Injection Attack Affects AI: Onde há vontade, arranja-se maneira. Ou como virar o bico ao prego dos algoritmos de geração de texto e imagens.

Hand-Cranked Doodler Made Using a 3D Printer: Adoro máquinas de desenho, e mal tenha tempo irei imprimir e experimentar esta.

This artist is dominating AI-generated art. And he’s not happy about it: Imaginem que são artistas comerciais e de repente começam a ver o espaço online invadido por um dilúvio de imagens que replicam o vosso estilo, geradas por algoritmos. Esta história sublinha um dos problemas levantados pelos geradores de imagens, que tem a ver com o pouco controle sobre as imagens usadas no treino de algoritmos, e as questões de direitos de autor que levantam no caso de se tratarem de artistas vivos (e praticantes). 

Here are the winners of the 2022 Ig Nobel Prizes: A ciência que nos faz rir, e depois nos faz pensar. 

Europa ha recurrido a Amazon para su prototipo de euro digital: todo lo que sabemos hasta ahora de los planes del BCE: Confesso que não vejo como bom prenúncio o facto do BCE ir recorrer a tecnologia americana para estruturar e lançar o euro digital. Apesar disto, é uma iniciativa pertinente, que reflete a cada vez maior digitalização da economia, e uma alternativa credível às altamente especulativas e voláteis criptomoedas.

The Past, Present and Future of Robotic Surgery: Não é tema sobre o qual conheça muito, por isso não me vou alongar em especulações. Mas se a robótica cirúrgica já é um instrumento na sala de operações, ainda faltam muitos passos e, especialmente, fiabilidade, para que se possa tornar autónoma.

Esta web para colorear fotografías demuestra que la IA juega en otro nivel. Y funciona con un par de clics: Um recurso intrigante, que permite colorizar fotos antigas utilizando algoritmos de inteligência artificial.

ISIS Executions and Non-Consensual Porn Are Powering AI Art: Perturbador, mas não surpreendente, e mostra as problemáticas do uso de massivas bases de dados de imagens, cujas origens nem sempre são claras.

Patients immersed in virtual reality during surgery may need less anesthetic: Fiquei com uma leve sensação de deja vu ao ler esta notícia. Já li estudos semelhantes há quinze anos atrás. A realidade virtual tem destas coisas, é uma tecnologia de ciclos, e é curioso ver como cada novo ciclo repete o anterior.

Artist Slammed for Matching Instagram Photos to Open-Camera Footage: O interessante nas reações a este projeto, é demonizarem não o problema, mas o que levanta o véu sobre o problema. Este projeto artístico cruza dados de videovigilância com etiquetas de redes sociais, e mostra os pontos de vista das câmaras de vigilância ao lado das fotos tiradas para redes sociais. As críticas vão para os supostos atentados ao direito de imagem pessoal por parte do autor do projeto, mas na verdade, o verdadeiro problema é a hipervigilância pervasiva, e a facilidade com que se acedem a esses dados. Ou seja, reclama-se do mau uso da imagem, mas esquece-se o enorme problema da falta de privacidade.

Blockchain é mais do que criptomoedas?: Uma excelente análise ao potencial da tecnologia que sustenta as criptomoedas, que se revelou um excelente protocolo de registo digital aplicável a outros campos, para além do financeiro.

Modernidade

1982: Clássicos.

Algorithm decodes what dog brains see: Para todos aqueles que, como eu, adorariam saber o que se passa na mente dos nossos adorados cães, estamos um passo mais próximos de desvendar esses mistérios da consciência canina. Se bem que para quem conhece bem o seu cão, não é difícil adivinhar os seus pensamentos, basta olhar para o seu olhar...

A History Of Encyclopedias: Our Search For Authority And Meaning: Um olhar para a história da enciclopédia, esse símbolo do ardor humano pela categorização do conhecimento.

What Do Dogs Know About Us?: Sobre as curiosas simbioses que se estabelecem entre os cães e os sues tutores, daquelas relações que são difíceis de definir mas óbvias para qualquer um que tenha cães na sua vida.

The Industrial Visions Of Artists Who Lived A Century Ago: Parece incrível, olhar para as fábricas como objetos de beleza estética, nos dias de hoje. Mas no século XX, houve artistas que encontraram beleza nas estruturas utilitárias da indústria.

Ever Noticed All the Maps in Vermeer’s Paintings? Here’s What They Mean: Os mapas não estão lá por acaso, e não são meramente decorativos, funcionando como símbolo das aspirações holandesas.

Did Bill Gunston successfully envision a stealthy superfighter jump-jet – or is it just a load of hot gas?: Há que sorrir com esta análise de um engenheiro aeronáutico aplicada à iconografia de ilustração de aviação dos anos 80.

Antimatter brings shitposting to the classroom: Para arquivar em "há malta que acha que qualquer coisa serve como tecnologia educativa". Ok, há lógica na ideia, que criar memes pode ser integrado como forma de aprendizagem em disciplinas. O meu instinto de professor diz-me que isso desperta o interesse dos alunos durante, para aí, algumas aulas, e depois normaliza e é descartado (e até poderá ser visto por eles como uma apropriação cringe pelos adultos de uma expressão cultural que vêem como sua). Ou seja, não investiria em ações desta empresa de EdTech. Mas, bem, recordo quando surgiu o Pokemon GO, e vi debates sobre o potencial educativo deste jogo para ensinar evolução e biodiversidade.