terça-feira, 4 de outubro de 2022

Tarzan e a Cidade de Ouro


Edgar Rice Burroughs (1973). Tarzan e a Cidade de Ouro. Lisboa: Portugal Press.

Confesso, era uma lacuna, mas nunca tinha lido uma aventura de Tarzan no original, escrita por E. R. Burroughs. Foi uma boa surpresa, um mergulho na pulp fiction de aventuras dos inícios do século XX, quando África era o palco do sonho da aventura pura, com as suas selvas, perigosos animais, exóticas tribos e misteriosas civilizações ocultas no vasto continente. É, também, um olhar sobre esta forma narrativa, sobre a capacidade de um autor há muito desaparecido em escrever de formas que, ainda hoje, são empolgantes e agarram o leitor até ao final do romance. Originalmente publicado em 1933, Tarzan e a Cidade de Ouro é literatura pop, escapista, é certo, mas está muito bem feita.

Nesta aventura, o circunspecto Tarzan vageia pelos desertos da Abissínia, esquivando-se a bandoleiros. Ao salvar uma vítima de um destes grupos, Tarzan acaba por descobrir duas cidades perdidas no meio das montanhas, eternas rivais. Uma é riquíssima, graças a um veio de ouro que permite aos seus habitantes viverem em faustosas arquiteturas douradas. É essa a cidade que Tarzan irá explorar, entrando nela um pouco por acaso, sendo feito prisioneiro. Uma condição que depressa perde, ao mostrar-se inflexível perante a bela rainha da cidade, uma mulher enlouquecida pela sua condição de poderio, cruel, infeliz, e em eterna luta contra as intrigas palacianas. Claro está que o herói irá ver-se envolvido nestas intrigas, enfrentando perigos e desafios cada vez mais violentos.

Esta história toca em todos os pontos deste género de literatura. Temos o superior homem branco, simbiose entre a civilização ocidental e a sabedoria da selva (a descrição física inicial de Tarzan roça o homoerótico). Temos os perigosos bandoleiros árabes. Cidades esquecidas e civilizações misteriosas. Nobres sem escrúpulos que fazem tudo para chegar ao topo do poder. Sacrifícios humanos e rituais violentos. Portentosos leões que terão de ser enfrentados. E, claro, uma sensual femme fatale, que irá tentar o herói. É marca de época, pulp clássico no seu melhor.