domingo, 25 de setembro de 2022

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Esta semana, destaca-se ficção científica brasileira, as várias formas de censura a Rushdie, e o dicionário histórico de Ficção Científica. Olha-se para a forma como a inteligência artificial interpreta as obras de arte num museu, para o andróide da Xiaomi (robot, não telemóvel), e o efeito gerado por GAN no TikTok. Fala-se da queda de Kabul, dos brinquedos na história, e dos elétricos de Lisboa. 

Ficção Científica e Cultura Pop

Tuco Amalfi, “The Lovers,” 1979: Se não incluísse a data, poderiam dizer que era uma imagem criada por inteligência artificial.

“Purgatórios Futuristas”, um conto de Fausto Fawcett: O Sci-Fi Tropical faz um excelente trabalho de arquivismo da literatura de Ficção Científica brasileira, dando a conhecer ao público lusófono alguns autores menos conhecidos. Neste, temos um mergulho numa estética cyberpunk contaminada pela poesia.

The best books on Longtermism, recommended by Will MacAsk: Sugestão de leituras com livros que nos levam a pensar no longo prazo, nas suas dimensões morais e técnicas.

Why Does Everything On Netflix Look Like That?: Como não sou consumidor de Netflix (hey, ou tenho tempo para ler, ou para televisão, é claro que a escolha é óbvia), não tenho a noção exata do que significa uma estética Netflix, mas não surpreende que os ditames técnicos do serviço levem a escolhas visuais que se tornam uma estética comum.

Retelling the Bard: Shakespeare in Recent SFF: A influência intemporal do clássico autor inglês, explorada por romances dos novos autores de ficção científica e fantasia.

Salman Rushdie and the Cult of Offense: Uma visão preocupante, que se tem vindo a instalar no mainstream cultural, a ideia que um criador tem de ser comedido, e evitar publicar trabalhos que sejam vistos como ofensivos, mesmo que os ofendidos sejam torcionários obscurantistas que não hesitariam a passar a fio de espada os liberais que tanto se preocuparam com os seus sentimentos.

The History of Pulp Fiction: Apesar de sucinta, esta é uma história muito abrangente da ficção pulp, forma de entretenimento literário que, no passado, ocupou o espaço mediático que hoje pertence à televisão. Uma história que se mantém viva na memória dos leitores de ficção científica, porque os fãs sérios do género procuram sempre ir às suas raízes. Mas a recordar também que houve outros géneros narrativos no pulp, do western ao romance, aventuras na selva, ou algo totalmente extinto hoje como histórias empolgantes de combate aéreo.

Future Media Short Story Review: John Brunner’s “Fair” (1956): Se há autor que compreendia bem os efeitos dos media na consciência das pessoas, era o autor do sublime A Stand on Zanzibar. Aqui, a tecnologia imersiva era a televisão, mas as tendências descritas, a alienação e a facilidade de influência de modos de pensar, são transversais.

Situação Crítica: BD Portuguesa: Uma lista de sugestões do melhor que a BD portuguesa tem para oferecer, se bem que criada com uma sensibilidade mais mainstream, precisamente para divulgar o que se faz para leitores mais habituados à literatura.

New BB series! "Updating the Historical Dictionary of Science Fiction": Para os mais curiosos, este recurso rastreia o ponto de origem de ideias, palavras e expressões específicas à ficção científica. A sua utilidade não se esgota na curiosidade de saber quando foram usadas pela primeira vez expressões como "warp drive" ou "murderbot", ajuda-nos a perceber a evolução das ideias no género, e contém as referências literárias originais.

Aviation in the Year 2000: É sempre divertido rever estas antigas gravuras. Mas antes que se encarnicem a analisar as supostas falhas preditivas, é de sublinhar que foram concebidas como desenhos humorísticos.

Os Quadradinhos de Müller, 52-82: Um livro que olha para o outro lado da Banda Desenhada, para o trabalho e papel do editor.

As The Debate Over AI Rages, Artists Are Already Using It To Illustrate Entire Comics: Mas não fiquem à espera de encontrar, para já, grandes obras. Estas tecnologias estão em fase experimental, e os criadores estão a testar ideias e vertentes de atuação.

Grant Morrison, LUDA: Promete, o primeiro romance de Grant Morrison, ser um voo profundo pelo seu imaginário de bizarria surreal escatológica.

Your Ever-lovin' Swamp Thing: Antes das adaptações de heróis da DC se terem tornado pesadas, majestáticas e grimdark, houve uns antecedentes curiosos. Adoro os Batman de Joel Schumacher, são odes perfeitas ao camp. E depois temos isto, uma bizarra adaptação low budget de um dos mais portentosos e complexos personagens DC, que é mesmo muito má. E, por isso, muito divertida.

The Sandman E11 A Dream of a Thousand Cats, Calliope Official Images: Como sou um netflixcluído, nem tenho paciência para torrentes, só posso lamentar não estar a ver a adaptação de um dos mais portentosos momentos do arco narrativo de The Sandman, uma história simultaneamente cruel e inocente, sobre os reais sonhos dos gatinhos fofos.

Tecnologia

“Encore at the End of Time,” by Rodney Matthews: Música cósmica.

Electric Vehicles Are Way, Way More Energy-Efficient Than Internal Combustion Vehicles: Resumo de estudo comparativo, que analisou a eficiência de diversos tipos de motorização. O elétrico é aquele onde há menos perdas de energia.

What does an AI make of what it sees in a contemporary art museum?: Uma experiência curiosa, que usou algoritmos para reconhecer as obras de arte de um museu de arte contemporânea. Os resultados são o que se poderia esperar, as imagens são categorizadas como objetos comerciais, muito longe da nossa experiência de contemplação artística, com os também expectáveis erros. Há que apreciar o comentário "the list of results looked like an Ikea shopping cart".

The Best Free AI Art Generators, Ranked: Apesar da explosão destas ferramentas, não há muitas aplicações que permitam um acesso simples. Parte das desta lista são antigas, implementações do clássico Deep Dream, ou blocos Colab que são potentes, mas muito lentos a gerar resultados. O topo da lista é, sem grande surpresa, ocupado pela Midjourney, Wombo Dream e Starry AI, que são de facto as apps gratuitas (bem, semi-gratuitas) que permitem gerar imagens a partir de prompts.

TikTok now offers a very basic text-to-image AI generator directly in the app: E o TikTok junta-se às ferramentas de criação usando inteligência artificial. Não é uma implementação particularmente potente (até porque os custos de processamento são elevados), mas intui-se um futuro próximo em que os utilizadores desta rede possam criar vídeos com cenários gerados unicamente pelos prompts que definem.

how and why machines are getting into art: É discutível esta ideia, que as máquinas produzem arte. Mas que se estão a tornar intrigantes ferramentas cheias de potencial, isso é óbvio.

Xiaomi’s CyberOne robot shows us what to expect from Tesla’s promised Optimus bot: Se esperam um andróide elegante, funcional e ágil, não será o CyberOne, e isso é assumido pela Xiaomi, que o está a usar como estratégia de marketing. Já o eventual robot da Tesla será tudo aquilo que o da Xiaomi já é (a menos que tomem de assalto o talento da Boston Dynamics e estejam anos a avançar a tecnologia), mas como vem de Elon Musk, o discurso será de inovação brilhante e revolucionária.

This is what’s keeping electric planes from taking off: Em resumo, peso e potência. Para já, não há baterias com capacidade suficiente para aeronaves de porte médio, mas a investigação aprofunda-se.

Google Scientists Create AI That Can Generate Videos From One Frame: Mais uma técnica promissora, que permite gerar pequenos vídeos a partir de uma única imagem.

PRIMEIRAS 1000 HORAS DE VOO DA ESQUADRA 991: A primeira unidade da Força Aérea Portuguesa totalmente dedicada à operação de UAVs (que, no acrónimo português de Sistemas Aéreos Não Tripulados, tem qualquer coisa de santificado). As aeronaves são tecnologia portuguesa, com plataformas desenvolvidas pela Uavision.

NASA's Moon Mission This Month Will Shoot a Probe Containing Life into Deep Space: É apenas uma experiência com fermento, mas deixa no ar umas ideias sonhadoras com semear vida nos corpos celestes.

Modernidade

Pamela Lee: Tempos internacionais.

I Smuggled My Laptop Past the Taliban So I Could Write This Story: Recordar que em agosto de 2021, a história que chocava o mundo era a derrocada do Afeganistão nas mãos do obscurantismo taliban, com o governo ocidentalizado a mostrar-se demasiado corrupto e frágil para se aguentar sozinho, sem o apoio americano e da NATO. Para aqueles que, em vinte anos, se tinham habituado à ideia de viver num país melhor, sem o sufoco do obscurantismo religioso, esta derrocada foi particularmente trágica. Esta história, a de uma mulher que por ser jornalista, não tinha outra escolha que não o exílio, é uma das muitas pequenas tragédias que, somadas, formam a grande tragédia do povo afegão.

Os últimos dias em Cabul. Aterrorizados, cruzámos a fronteira. Não podíamos ficar: Um testemunho em português de um casal afegão, que conseguiu exilar-se em Lisboa.

How Extremist Gun Culture Co-Opted the Rosary: Os extremismos religiosos não se cingem ao mundo muçulmano. Os cristãos também têm a sua dose de alucinados, crentes na veracidade absoluta da bíblia, ultramontanos nos costumes, e repletos de fantasias de espalhar a boa nova e a bondade divina na ponta das espingardas automáticas. O rosário foi apropriado por estes extremistas como símbolo do seu fanatismo.

Décadas antes de la llegada de Colón, ya había cristal veneciano dando vueltas por América. Esta es su historia: Um daqueles detalhes históricos fascinantes, que mostra a complexidade e extensão das redes comerciais. 

Is Bleak the New Look for a TikTok Childhood?: Estas trends são muito fugazes, mas é divertido ver a apropriação da iconografia infantil, tradicionalmente luminosa, por uma estética depressiva. Porquê? Porque internet, eis porquê.

Fuck Puritanism: Uma análise sóbria, mas incisiva, dos excessos das culturas progressistas. Não da ideia de progressismo em si, mas da atitude assumida pelos mais rigorosos zelotas woke, muito lestos a condenar, achincalhar e cancelar todos aqueles que não se enquadram nos seus restritos pontos de vista. É puro extremismo, com a profunda ironia de ser praticado por pessoas que se afirmam progressistas, mas se revelam intolerantes para com qualquer ideia que ultrapasse as suas crenças. E que não hesitam em descarregar a sua verborreia sobre outros progressistas, só porque as suas visões diferem da cartilha que consideram a correta. A sanha em procurar ter sempre razão, em reclamar supremacia moral, em recusar reconhecer que liberdade implica também respeitar outras formas de estar na vida (não significa que não possam ser discutidas), tem o condão de criar anticorpos sociais às ideias de progresso. E, outra ironia sublime: o zelo dos extremismos progressistas é em tudo semelhante ao do dos ultraconservadores. Ambos partilham a necessidade de queimar na fogueira aqueles que lhes desagradam.

The Odds of Getting COVID From Your Housemate Are ‘About a Coin Flip’: Esta é uma das características curiosas da covid, a forma quase aleatória com que infeta. A minha experiência pessoal ecoa estes dados (como não poderia deixar de ser, claro). Depois de anos a lidar com crianças e a ter imensos contactos de risco (rapidamente passei da ansiedade à despreocupação, na minha profissão é habitual), finalmente vacinado, fui infetado na sequência de uma reunião informal num espaço amplo, num contacto com alguma distância. Mais ninguém dessa reunião foi infetado, nem o coabitante da pessoa que me transmitiu o vírus. Demorei uns dias a testar-me, tudo indicava que tinha apanhado um resfriado, algo a que sou bastante atreito nos princípios do verão (e nem sabia que tinha estado em contacto com alguém doente com covid). Durante esses dias, estive em reuniões contínuas em salas fechadas, com todos os intervenientes sem máscara. Quando me testei e vi os inesperados dois riscos, pensei que tinha causado, sem saber, um surto. Mas ninguém foi infetado... o que é um crédito para a capacidade das vacinas nos protegerem, e também um indício desta curiosa aleatoriedade das infecções. Que, como o artigo mostra, depende de muitos fatores.

The TikTok Music Phenomenon: Na fila de embarque para o avião numa recente viagem que fiz, fui surpreendo por uma criança com aspeto de estar a sul de seis anos a cantarolar "Oh no. Oh no. Oh no no no no no"... o que é signo seguro que o petiz passa mesmo muito tempo a ver vídeos no TikTok. A forma como usa o som, parte itegrante dos vídeos, é uma das características da rede. E, confesso, já dei por mim a descobrir ou redescobrir sonoridades surpreendentemente interessantes. Se estiverem para aí virados, busquem uma playlist Spotify chamada Internet Hits, que tem a dupla vantagem de nos levar a ouvir toda a música e não apenas o clip de poucos segundos (ok, verdade seja dita que na maioria dos sons, isto não é uma boa experiência), e levar a perceber a origem dos sons virais. E, com isso, encontrar algumas boas bandas desconhecidas.

The mystery toys puzzling scientists: O desafio de perceber se um dado artefacto arqueológico representa algo utilitário, místico/religioso, ou era um brinquedo para crianças. Porque o brincar é uma das características que nos acompanha desde a noite dos tempos.

Why we can no longer afford to ignore the case for climate adaptation: Bem, essencialmente porque já estamos a viver num tempo em que as consequências das alterações climáticas se estão a fazer sentir. Ou seja, temos mesmo que adaptar os nossos espaços físicos a uma nova realidade.

Avocadoes foiled by largest megalithic complex in Spain: Uma descoberta esplêndida, de monumentos megalíticos, e muito perto da nossa fronteira.

How the idea of a “transgender contagion” went viral—and caused untold harm: Um clássico uso de desinformação, o usar estudos cientificos mal concebidos ou falsos para sustentar uma posição fortemente conservadora. 

The best books on The Great Divergence, recommended by Davis Kedrosky: Porque é que a Europa se tornou dominante em termos tecnológicos, culturais e económicos, enquanto outras regiões do planeta com condições similares não o fizeram? Estes cinco livros estudam as formas do que se veio a chamar a grande divergência.

Os elétricos mais icónicos de Lisboa: Deixemos o 28 para os turistas, pode ser? E usemos os outros elétricos.