Frederik Pohk (1981). A Guerra dos Mercadores. Lisboa: Europa-América.
Talvez não seja dos livros de Pohl que melhor envelheceu, mas há algo de infelizmente intemporal nesta sátira velada ao consumismo. No mundo ficcional destes livros, a humanidade divide-se entre a Terra e outros planetas do sistema solar, dos quais se destaca a sociedade venusiana, por ser profundamente incompatível com a terrestre. A Terra é mercantilista, a sociedade assenta no dever de consumismo, toda a cultura, sociedade e política está à mercê de agências publicitárias. Toda uma sociedade dedicada ao marketing, a assimilar povos vistos como menos esclarecidos porque preferem a sua cultura ao brilho comercial. Apenas Vénus, que rejeita este modo de vida, apresenta uma oposição alternativa.
O livro foca-se nas peripécias de um publicitário caído em desgraça, que acaba por se ver envolvido numa conspiração venusiana para acabar de vez com o comercialismo terrestre.
As desventuras de um publicitário apanhado nas engrenagens desta sociedade doentia são uma perfeita caricatura dos vícios do século XX: o estímulo ao consumismo, o valor económico como bússola da sociedade, o militarismo interventivo para libertar povos da cegueira de não seguirem a uma ideologia, as intensas trapaças dos indivíduos que vivem no ecossistema do mundo corporativo, a lógica de adição que sustenta o consumismo. O problema, é que ao ler esta sátira datada ao século XX, demasiadas vezes vi os paralelos com os tempos de hoje.