quinta-feira, 12 de maio de 2022

Estreme visioni


Officina Infernale, Spugna, Starece (2022). Dylan Dog Color Fest n. 40: Estreme visioni. Milão: Sergio Bonelli Editore.

Dylan Dog é quase sempre publicado a preto e branco, e desenhado num estilo realista muito convencional, que pode oscilar entre a elegância de ilustradores como Fabio Celoni ou o expressionismo de Corrado Roi. Mas, normalmente, a série caracteriza-se por um estilo ilustrativo realista, quase indistiguível entre ilustradores. A Color Fest é já em si uma exceção, por nos trazer histórias a cores concebidas de raiz (e não colorizadas, algumas das histórias clássicas foram reeditadas com colorização e isso não lhes trouxe nada de novo, bem pelo contrário). E, neste número 40, ainda vão mais longe, com um desafio gráfico a ilustradores que se afastam muito do classicismo convencional da Bonelli. São visões extremas sobre o personagem, a nível narrativo, mas especialmente a nível gráfico.

Estreme Visione arranca em alto nível com Made in UK, onde o ilustrador Andrea Mozzato invoca um estilo visual punk, reminiscente de Bill Sienkiewicz e do clássico John Constantine dos anos 90. As vinhetas são de um forte expressionismo que quase se resolve em abstração, e funciona, estas pranchas merecem reedição em papel bem melhor do que o da revista. Segue-se Spugna, com La Casa dello Splatter, um delírio splatterpunk que responde à pergunta que ninguém fez: como seria Dylan Dog se fosse um jogo de computador violento jogado por alienígenas. Starace encerra num nível mais convencional, mas mesmo assim experimental e a puxar à metáfora da BD enquanto palco, com Il Teatro dei Demoni, onde Dylan se descobre a representar a sua vida e aventuras para uma plateia de demónios implacáveis na crítica teatral.

Estreme Visioni é implacável, uma pedrada no charco da série Dylan Dog, uma edição muito atípica e que tive a sorte de apanhar em banca numa viagem recente. Os criadores convidados atreveram-se a mexer a fundo com o personagem, experimentando-o em estéticas mais underground e menos comerciais. Apesar do fortíssimo contraste com a série clássica, estas visões extremas funcionam, são provavelmente do melhor da personagem que foi editado nos últimos tempos.