domingo, 20 de março de 2022

URL

Esta semana, destacamos os novos filmes de Dario Argento e Jean-Pierre Jeunet, as excelentes propostas de manga da Devir, e o projeto Lisboa Continua. Fala-se da possibilidade da Meta largar o espaço europeu, robots desenhadores, e aeronaves autónomas. Ainda se reflete sobre lugares comuns educativos, as disfunções das redes sociais, ou o vazio conceptual das conferências enquanto espetáculo. Outras leituras vos aguardam, nas Capturas da semana. 

Ficção Científica e Cultura Pop


wilwheaton:This is a short story called SIMULATION CUT, by David Brin: Syd Mead, disseram?

Future Media Short Story Review: Brian W. Aldiss’ “Panel Game” (1955): O Science Fiction and other Suspect Ruminations anda com um projeto curioso, relendo ficção científica clássica cuja temática toque no futuro dos media. Desta vez, trazem-nos uma visão sobre interferência televisiva na vida real, de certa forma a antever aquilo que hoje chamamos de reality shows. Aposto que quando Aldiss escreveu sobre pessoas cuja vida era transmitida em programas de televisão, nunca imaginaria que tal se iria tornar real.

Comissário Ricciardi - Primeiros Inquéritos (Maurizio de Giovanni): Porque nem todo o fumetti da Bonelli se resume a Tex e Dylan Dog, a Seita trouxe para os leitores portugueses esta curiosa proposta de leitura.

Shudder Picks Up New Dario Argento Film Dark Glasses: Um novo filme de Dario Argento? Só quero saber quando estreia no cinema. Sei o que me espera, um misto entre horror e giallo, filmado de forma inquietante.

'BigBug': el director de 'Delicatessen' lleva a Netflix una ácida sátira sobre nuestra relación con las máquinas: De Jeunet, também sabemos o que esperar. Cenários distópicos, entre decadência e tecnologia, personagens obsessivos, e um intenso sentido estético. Vai para o Netflix, esperemos que também chegue ao cinema.

EPCOT as seen in a 1979 issue of Future Life: Quando o futuro era tão brilhante, que se tinha de usar óculos de sol.

A ciência de "O Clã do Urso das Cavernas": Um olhar para um dos clássicos da ficção científica francófona, que nos remete ao passado distante. E que, é também um excecional exemplo de análise, investigação e conjetura informada. Ou seja, aquilo que a ficção científica tem de melhor.

Editora Devir anuncia 5 novos lançamentos: Ai meu deus, a minha carteira! Monster de Naoki Urasawa? E, Venus in the Blind Spot de Junji Ito? Ito, finalmente editado em Portugal? Shut up and take my money!

Somehow, Futurama Is Coming Back Again: E, será que precisamos? No frenesi comercial da cultura pop, recuperar a nostalgia de séries curtas não é tão boa ideia quanto parece. Porque a finitude também é de apreciar. A longevidade extrema de algumas séries (televisivas, literárias), leva ao desinteresse e à estagnação. Valorizamos séries como Futurama ou Firefly precisamente por serem curtas, contidas, abrindo possibilidades que nunca foram exploradas. Quando se regressa, com novas temporadas, a sensação que fica é morna, de desconexão entre a novidade da continuação e o prazer que se tinha na visão original.


Robert McCall concept art for Star Trek: The Motion Picture: Onde a Ficção Científica clássica ficou algo weird.

A ficção científica explica: Da ligação entre ficção científica e visões políticas, porque ao ajudar-nos a imaginar o inimaginável, é inevitável que o género espelhe visões sociais.


1961… Supercar! by x-ray delta one: Estéticas retro.

TERMINATION SHOCK, Neal Stephenson: Warren Ellis a analisar o mais recente romance de um autor que eu, francamente, já perdi a paciência para o ler. Aqueles épicos de 700 ou mais páginas, sempre com ideias interessantes mas tanta palha pelo meio que cansa. No entanto, Ellis apreciou a leitura, é indicativo que talvez valha a pena experimentar. Ah, e Ellis está de volta, a publicar em força nas suas plataformas de sempre, depois do acometimento de cancel culture que sofreu. 

Fronteiras do Além: Uma análise à edição brasileira que colige obras de Jayme Cortez, ilustrador português que se tornou um nome de referência na banda desenhada brasileira.

Ian Kennedy: Clássicos da FC britânica.

4791) A falsa profundidade: Refletir sobre o poder das palavras para simular o profundo, quando na verdade este não existe.

Na internet publicam-se uns textozinhos de FC de vez em quando: Uma recolha de textos de ficção científica, vindos de locais algo inesperados.

"LISBOA CONTINUA - Conversas sobre a cidade": Começou durante os confinamentos, mas esta série de entrevistas a personalidades culturais que têm em comum o amor à cidade, continua.

Tecnologia


Mad Scientist Forces AI to Make Horrific Pictures Out of BuzzFeed Headlines: Bem, apps e colabs para gerar imagens a partir de inputs de texto estão a proliferar. Esta ideia, pegando nos títulos clickbait como prompts para o algoritmo, é internet ao cubo - uma forma de expressão artística exclusivamente online que se alimenta do pior do texto digital.

Meta may be forced to shutter Facebook, Instagram in EU: Não é uma ameaça, mas uma observação contida nos relatórios financeiros, e que mostra a dificuldade de assegurar o estrito cumprimento do RGPD em plataformas transatlânticas. Resta perceber por onde é que isto seguirá. Desaparecerão estes serviços do espaço europeu (e outros similares, uma vez que o problema se aplica a qualquer rede cujos servidores não residam em espaço europeu)? Haverá adaptações legais ou técnicas? E, já agora, conhecem outras redes sociais de sucesso que transportem os dados para servidores fora do espaço europeu? Isto não afeta apenas o Facebook e Instagram.

"Podemos vivir sin Facebook": Francia y Alemania abren la puerta a Meta tras su advertencia a la UE: Tendo em conta que o mercado europeu é apetecível, é de duvidar que a Meta realmente cumpra esta ameaça. Mas podemos sempre sonhar. Como seria viver numa UE sem as redes sociais "tradicionais"? Bem, é exatamente isso que se vive na China, embora por razões políticas. Não há Facebook, mas há redes sociais chinesas. Seria interessante ver uma eventual fragmentação das redes sociais globais em direção a redes locais/regionais. E, se quiserem usar redes livres, abertas, locais mas interoperáveis com globais, que respeitam os vossos dados pessoais, mudem-se para a Mastodon.

Areobrowser, una web para ver cómodamente las imágenes que los vehículos de la NASA mandan desde Marte en tu navegador: A superfície marciana, quase em direto, com um enorme banco de imagens que pode ser explorado de muitas formas. Pessoalmente, vou mergulhar nos mapas 3D.

PlottyBot: A DrawBot That Plots a Lot: Um interessante e versátil projeto de robot desenhador, open source.

The metaverse is a new word for an old idea: Sobre o fascínio com mundos não reais, que antecede a era digital.

Ley Europea de Chips: un gran plan de 43.000 millones de euros para acabar con la dependencia de Asia y EEUU: Um investimento de fôlego e de longo prazo, são precisos anos para construir uma fábrica de semicondutores. À parte o eventual comentário sobre provável futilidade destas medidas, o que é de notar é a tendência de relocalização industrial. Durante décadas, o credo industrialista-liberal postulava as virtudes da deslocalização da manufatura para países de mão de obra mais barata, contanto com redes de transportes bem oleadas para manter os fluxos de bens nos processos de produção e consumo. Entre a covid e os congestionamentos do tráfego marítimo mundial, que levaram a faltas de bens e matérias primas, conjugado com pressões geopolíticas, essa ideia está a mudar, e a visão recentra-se no local em vez do global.

Artist uses AI to perfectly fake 70s science fiction pulp covers – artwork and titles: Estas imagens estariam muito bem em sites dedicados à iconografia da ficção científica clássica. Revelam treino cuidado do algoritmo. 

Coming soon to Windows 11: More reminders that your PC doesn’t meet the requirements: Confesso que a pergunta que faço é se quereria mesmo ter um sistema operativo que esteja constantemente a avisar-me que deveria trocar para um computador mais recente. Dá vontade de instalar linux, não dá?

Digital Warfare Tech at Sea Helping U.S. Foes Evade Sanctions: A prática do GPS spoofing como forma de contornar as regras marítimas.

Samsung's New Galaxy Tab S8 Ultra Is a Giant iPad Pro Rival: Creio que a Samsung é dos raros fabricantes que compreende o real potencial do tablet enquanto dispositivo de computação, o elemento que pode destronar o portátil enquanto principal meio usado pela maioria das pessoas. Se bem que para que isso se concretize, é preciso haver mais oferta de tablets de qualidade, com capacidade para mais do que mero consumo de informação, e uma evolução do Android enquanto sistema operativo.

Robot See, Robot Do: Uma técnica que permite a robots aprender por observação direta das atividades humanas.

Great, DARPA Just Flew a Black Hawk Helicopter With Nobody In It: O projeto de kit de autonomia adaptável a aeronaves da DARPA está a dar frutos, como o recente voo de um UH-60 em modo autónomo demonstrou.

The Creation of the Arcade Game Centipede: A revista do IEEE está a dedicar uma série à criação dos jogos clássicos. Desta vez, olhando para o Centipede, que marcou uma mudança de paradigma - este foi o jogo que marcou a viragem de ir para além dos temas de ação militar no desenvolvimento de jogos.

The Real World Strikes Back: Um projeto de... robots desenhadores DIY? Pois claro, é um gozo enorme construir e programar estes dispositivos.

Northrop Grumman and DARPA Will Develop AI Assistant For The UH-60 Black Hawk: Esta aeronave está no centro de projetos da DARPA, está visto. Desta vez, trata-se do desenvolvimento de sistemas de apoio à pilotagem, para minorar a carga cognitiva sobre as tripulações.

Modernidade


Photos of the Day: Musk's Mega-Moon Rocket Is About to be Whole Again in Texas: Há que dizer que a SpaceX recuperou alguma da magia da exploração espacial, em parte graças a uma estratégia de marketing que inclui ativamente um forte sentido estético.

Appreciating the Performative Quality of Computer Generated Art: Arte generativa enquanto performance, como obra que não se limita à imagem fixa e representa, através da execução do código, uma interação com o tempo, uma experiência ligada a um momento.

When We Compare Schools To Factories, We’re Ignoring History: A história da educação tem destas coisas, não se ajusta a pressupostos fáceis. A ideia da escola como fábrica vem dos Toffler, se não me engano, como forma de ligar a estrutura educativa clássica às lógicas de uma sociedade industrial que os Toffler, corretamente, intuíram estar a evoluir para outras dimensões. Mas, destilando a frase feita para chamar a atenção, as lógicas organizativas das escolas existem não para perpetuar supostos modelos socio-económicos, mas por necessidade de gerir espaços, tempos e pessoas.

These Animals Are Feasting on the Ruins of an Extinct World: Talvez a notícia científica mais apaixonante que li nos últimos meses, pela forma como a natureza faz algo que parece diretamente saído de um romance fantástico. Colónias de esponjas habitam uma zona desolada no atlântico norte, criado um rico ecossistema. Vivem consumindo os restos dos antigos organismos extremófilos que se alimentavam num antigo vulcão submarino. As prosperidade desta colónia de esponjas, centenárias e capazes de se mover, criou um oásis para outras espécies. Reparem: um oásis fervilhante de vida, que se sustenta alimentando-se dos restos de um mundo extinto. Fascinante, a fazer lembrar histórias sobre sobreviventes que vivem entre as ruínas de antigas civilizações.

Is This the End of the Cannonball Run?: Afinal, aqueles filmes algo cheesy dos anos 80 sobre corridas à margem da lei têm uma base real - condutores que tentam bater o recorde de condução costa a costa americana.

Nefertiti’s bust: Uma história das desventuras deste ícone da arte do antigo Egipto, com a observação que uma das razões para ter sobrevivido é o não ser um objeto importante à sua época. Algo que hoje admiramos, foi no seu tempo um mero auxiliar de trabalho em atelier de escultura.

Vladimir Putin Is a Product of Modernity: Uma daquelas conclusões arrepiantes, que nos faz sentir no lado perdedor da História: "In fact, while we do not know what the 21st century will look like, it is reasonable to assume that it will far more closely resemble Putin’s vision of Darwinian geopolitical struggle than the kind of harmonious, “rules based” globalization that many in the West have hoped for". 

Researchers warn that social media may be ‘fundamentally at odds’ with science: Já tinhamos notado. E há uma razão para isso - a forma como os algoritmos privilegiam a controvérsia para garantir atenção dos utilizadores, a grande moeda das redes sociais. Mas notem, os algoritmos não são automatizados. São desenvolvidos e implementados, a partir de decisões tomadas por gestores. Culpar o algoritmo pelos enviesamentos e ambiente tóxico das redes sociais é atirar areia para os olhos, desviar a atenção de quem realmente lucra e enriquece com esta toxicidade.

What Was the TED Talk?​: Uma excelente análise crítica do estilo infotainment das TED Talks, que apesar da fanfarra e aparato, se têm revelado vazias de conteúdo e incapazes de cumprir a função que se propõem, mudar mentalidades e o mundo. Não signifca que não se discutam ideias interessantes, mas o foco nas políticas do espetáculo não as traz ao mundo real.

4793) Como viver em segurança? (12.2.2022): Sobre sentimentos de segurança, e como nas comunidades mais pesadas, a pertença ao grupo faz toda a diferença.

Why the West’s Diplomacy With Russia Keeps Failing: Um artigo especialmente incisivo sobre a ineficácia diplomática face à situação ucraniana (e outras onde a diplomacia ocidental lida com autocratas). No seu cerne, a ideia que os autocratas não jogam pelas mesmas regras do mundo ocidental, e sabem que se vão safar com isso, por causa dos interesses económicos. Se, como o artigo observa, os ventos de guerra russos sobre a Ucrânia levassem à suspensão das importações de gás russo para a Europa (não vai acontecer, a Alemanha é demasiado dependente disso); à expulsão dos filhos dos altos funcionários do regime que frequentam escolas de elite na Suíça e Estados Unidos; na expropriação das luxuosas propriedades que estes altos funcionários russos detém em Londres, ou dos seus iates no Mónaco ou Grécia... se calhar a situação política acalmava. Mas, como observa bem o artigo, os europeus estão dependentes da energia russa (e não desdenham o dinheiro dos oligarcas), enquanto os americanos estão preocupados em conter a China. Ou seja, nada de bom para os ucranianos.