Esta semana, os nossos destaques vão para a programação do Amadora BD, os prémios Ataegina e... curtas de Rick and Morty (nem preciso de descrever). Fala-se de inteligência artificial criativa, mísseis hipersónicos e metaversos. Reflete-se sobre assombrações sumérias, cadeias globais de fornecimentos, e da influência discreta mas perene dos Velvet Underground. Outras leituras vos aguardam, nas Capturas da semana.
Ficção Científica e Cultura Pop
Robert McCall: Teremos perdido os sonhos?
As Escolhas do Ano no Fórum Fantástico: As leituras e sugestões da Cristina Alves, vindas do Fórum Fantástico 2021.
O Coração na Boca: Um lançamento da Escorpião Azul, que me parece muito prometedor.
Amadora BD 2021: Programa e convidados: Regressa o mais clássico festival de BD em Portugal, com um programa abrangente e renovação dos espaços de exposição.
Angelo Brea: Por Causas Naturais: Recordo como agradável, embora não perfeita ou excelente, a leitura deste livro de contos de ficção científica de um autor galego. Mas, como observa esta análise, não é uma obra perfeita e está cheia de incoerências.
The Me You Love In The Dark #3 Review: Focused and Intimate: É uma das séries de terror mais interessantes do momento. A premissa centra-se numa artista que vive numa casa assombrada, mas a sua relação com a assombração não é de todo de terror, mas sim de puro romantismo. No entanto, sabendo que é uma série de terror, sabemos que este delicado romantismo sobrenatural irá conduzir a algo terrível. Este sentimento, conjugado com uma narrativa claustrofóbica que subverte as premissas do romance amoroso, torna esta série muito interessante.
O Pescador de Memórias, de Miguel Peres e Majory Yokomizo: Uma novidade editorial imensamente prometedora da Kingpin Books.
Halloween Kills Featurette Talks The History Of Michael's Mask: Um halloween sem Halloween, bem, parece incompleto, e este ano temos mais um filme desta inesperada saga nos cinemas. Fico sempre impressionado com o filme original, um slasher low budget entre o giallo e o sobrenatural, e a forma como capturou a imaginação de gerações de fãs do terror cinematográfico. Bem, claro, como os arrepiantes acordes da música de John Carpenter, aquele minimalismo eletrónico conjuga-se perfeitamente com o tom escuro de uma obra que se tornou ícone da cultura pop.
Rick and Morty Drops New Short "The Great Yokai Battle of Akihabara": A curta anunciada não está disponível por cá, mas o post do Bleeding Cool tem outras, em estilo anime por Takashi Sano ou Kaichi Sato e 8bit pelo incrível Paul Robertson. Os anime são brilhantes; o 8bit? Profundamente insano (e não recomendável se sofrerem de epilepsia).
David Lynch's "Crazy Clown Time" is a wild ride: O que faríamos sem a high weirdness de David Lynch? A cultura global seria menos interessante sem a sua estética obsessiva.
Lloyd Biggle Jr.: Maneira Doida de Lecionar: Um conto que me faz pensar num dos chavões educativos contemporâneos, o "há professores que pela maneira como ensinam, poderiam ser substituídos por rogpt".
Jim Burns: Visões clássicas.
British Royal Disses William Shatner’s Spaceflight: A grande parvoíce deste tipo de declarações é a ideia que ir ao espaço e salvar o planeta são mutuamente exclusivos. Não são, mesmo que a motivação de alguns dos envolvidos pareça ser encontrar formas de escapar aos problemas terrestres. A estupidez fica ainda mais sublinhada se se observar que quem faz estas declarações é um membro da família real britânica, alguém que o que faz na vida é aparecer para ser fotografado em eventos e vive da riqueza acumulada, mas não da geração de riqueza.
Ataegina Awards – The Best Short Stories in bilingual editions: Uma iniciativa conjunta da Imaginauta, Fórum Fantástico, Portuguese Portal e (extinto, a ficar esquecido) Sci-Fi Lx, que atribui prémio aos melhores contos submetidos, dando voz aos novos autores da Ficção Científica e Fantástico portugueses.
Horror Abstrato: É, de facto, a melhor característica do auge cinematográfico de Dario Argento, a forma como a estética do terror se torna uma espécie de abstracionismo surreal. Contrariando o Lorde Velho, também sou da opinião que isso se encontra de forma magistral em Suspiria, com a forma vibrante, arrojada e inesperada como usa e abusa das cores saturadas.
Bruce Pennington: Miragens.
Revista Magazine de Ficção Científica nº 9: O Sci-Fi Tropical restaura mais uma edição da versão brasileira da venerável FC & F, e ganhamos todos os leitores, de ambos os lados do Atlântico.
William Shatner Tried to Tell Jeff Bezos About the Glory of Spaceflight, But Bezos Interrupted Him to Spray Staff With Champagne: O Capitão Kirk foi ao espaço, e regressou depressa. Há aqui uma curiosa ironia na forma como a aventura terminou, com a rudeza do bilionário a sobrepor-se à emoção do icónico ator.
The Most Influential Science Fiction Books In History: Confesso que fiquei com dúvidas sobre a real influência de algumas das obras salientadas no artigo, parecem-me demasiado recentes ou relevantes em contextos muito restritos.
Tecnologia
Cuando crear tablas era cuestión de años: de las tabuladoras de Hollerith al nacimiento de IBM: Recordar que a automatização do processo de análise de dados em tabelas foi uma das vertentes que desaguaram na computação digital.
Is Email The Worst Form Of Communication Ever?: Confesso que entender o email como negativo por estimular as pessoas a escrever. Por outro lado, se já tentaram ou estão envolvidos em gestão de projectos em que os intervenientes prefiram usar mensagens instantâneas, sabem o inferno que isso é. Por muito chato que seja o dilúvio de emails, as rajadas de mensagens no Signal, messenger ou Whatsapp são indutoras de desejos de adquirir uma caçadeira e experimentar os prazeres do assassinato em série.
The Real Problem Of Instagram: Bem, convenhamos, a censura a nus não é bem o pior problema que o instagram tem. Influencers vácuos, enviesamentos e projeção de imagens corporais inatingíveis e por isso traumáticas para adolescentes são questões bem mais gravosas.
Hannes Bajohr: “Só uma Inteligência Artificial Fraca pode produzir uma verdadeira novidade”: Uma interessante discussão sobre o potencial da inteligência artificial na arte, como ferramenta nas mãos dos artistas.
The Very First Video Game Was Released Exactly 50 Years Ago. Here’s Why It Never Caught On: Demasiado precursor, também mais mecânico do que digital, Space War foi o primeiro daquilo que se veio a tornar uma das maiores forças culturais contemporâneas, os videojogos.
Core might be the Vegas of the metaverse: O intrigante nisto é ver como o conceito essencial de mundo virtual se mantém igualzinho desde sempre. Continua a metáfora da transposição de arquitecturas reais, interação por avatares. Hoje usa-se webgl ou unity como há dez anos se usava o Second Life (recordam-se?), ou há vinte o VRML. Até mesmo o nome dado à tecnologia, continua decalcado da visão irónica de Neal Stephenson no clássico Snowcrash.
The Responsible Technology Playbook (free download): Porque ser maker não se limita a fazer e construir, há que pensar na ética e sustentabilidade.
This CAD Program Can Design New Organisms: CAD para biologia sintética? Deveras, estamos mesmo no século XXI.
Google brings its 3D ‘Pocket Gallery’ art exhibition experiences to the web: O Google Arts and Culture dá mais um passo na integração de tecnologias XR, trazendo experiências museológicas em 3D.
US Officials Shocked by Chinese Missile Test That Went All the Way Around the Earth: Um teste chinês de armas hipersónicas, que mostra o avanço do país nestas tecnologias.
Scientists Use AI, 3D Printing to Uncover Hidden Picasso Painting: Usar raios-x para analisar pinturas e descobrir variantes, versões iniciais, rascunhos ou outras pinturas que o artista apagou e reaproveitou a tela já é uma técnica normalizada em história de arte. A novidade aqui foi o terem usado um algoritmo treinado na obra de Picasso, para especular sobre o estilo desta obra que o pintor nunca chegou a concretizar.
UK schools are using facial recognition to take pupils’ lunch money: Coisas boas do Brexit - já não precisam de se preocupar com empecilhos do tipo ética no uso de tecnologias com impactos que vão bem além da sua restrita utilização. Se as crianças crescerem habituadas a vigilância permanente, tornar-se-ao adultos que nem sequer sonham com ideias do tipo privacidade.
Review: The Field Guide to Understanding ‘Human Error’: Erro humano é, na verdade, uma forma das organizações descartarem as suas falhas e processos incorretos, apontando para pessoas específicas quando algo corre mal.
Have we evolved to trust machines?: Por estranho que pareça, a nossa propensão para confiar em máquinas e mecanismos tem um nome, enviesamento mecanicista.
Modernidade
Remystifying Supply Chains: Leitura longa, que nos leva a refletir sobre a complexidade, interrelações e fragilidades das redes globais de fornecimento e comércio de materiais.
Why Everything is Suddenly Getting More Expensive — And Why It Won’t Stop: Os custos das alterações climáticas começam a reflectir-se nos sistemas económicos.
A POST-NEOLIBERAL REGULATORY ANALYSIS FOR A POST-NEOLIBERAL WORLD: Talvez focar o desenvolvimento global apenas no desempenho económico seja um erro, discute este texto. Será? Bem, olhando para o crescimento das desigualdades, o resvalar do progressismo em direção ao autoritarismo, ou os problemas trazidos pela alterações climáticas induzidas pelo sistema económico que se foca no crescimento e lucro contínuos... bem... "talvez"?
Human History Gets a Rewrite: Uma forma abrangente de olhar a História, desafiando a linearidade a que estamos habituados.
World’s oldest ghost found on back of cuneiform tablet: Uma divertida história de fantasmagorias vinda da antiga Suméria, numa tabuinha que descreve um ritual de exorcismo, e nos mostra a assombração a exorcizar.
The future of remote work is text: Telepresença? Avatares 3D em ambientes virtuis? Ou, simplesmente, escrever e comunicar de forma assíncrona? Uma visão funcional do trabalho remoto e colaborativo, que assenta na documentação e partilha escrita, em vez de sobrecargas de videoconferências e agendas carregadas.
Deepfakes — The End Of Truth?: Bem, na verdade os deepfakes são apenas mais uma variante de uma tendência muito, muito antiga, a de criar informação falsa para direcionar a opinião pública.