domingo, 14 de novembro de 2021

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Esta semana, destacamos lançamentos de Banda Desenhada portuguesa, filmes de Ficção científica soviéticos, e tendências de capas. Fala-se de robots de companhia, os dilemas éticos das redes sociais, e a perenidade de tecnologias aparentemente extintas. Ainda se fala do afastamento lento e progressivo da Lua, curiosidades do mundo da arte e das estradas gronelandesas. Outras leituras vos aguardam, nas Capturas desta semana. 

Ficção Científica e Cultura Pop

Apocryphus – Monstro: Com o regresso do Fórum Fantástico, regressam também os lançamentos que estiveram adiados durante a fase aguda da pandemia. Regressa o sempre excelente projeto Apocryphus, que a cada volume reúne sob um tema alguns dos melhores criadores portugueses de banda desenhada. Pessoalmente, estou com imensa curiosidade sobre esta antologia dedicada a Monstros.

H-alt 10: Outro lançamento a ser efetuado no Fórum Fantástico, o projeto H-alt traz-nos a sua décima edição. Este projeto está pensado como espaço de publicação para os novos criadores, e poromete-nos novas histórias que mostram o potencial da novíssima BD portuguesa. A H-alt pode ser comprada em papel ou lida gratuitamente online.

O Jogo das Alterações Climáticas: Obra de Banda Desenhada de divulgação científica e comunicação de ciência “O Jogo das Alterações Climáticas”, de Bruno Pinto (argumento), Quico Nogueira (desenhos) e Nuno Duarte (cor), que conta com um prefácio de Filipe Duarte Santos, reconhecido especialista no tema das alterações climáticas. foi apresentada dia 7 em Lisboa, e esta BD didática já deve estar a chegar às livrarias.

Os Pescadores de Pérolas, de Franco Caprioli: Se é interessante o revisitar de trabalhos esquecidos, este fanzine não é muito acessível. E, também, a forma como é editado parece algo questionável em termos de propriedade intelectual.

João Barreiros: A Arder Caíram os Anjos: Recordar uma das obras significativas daquele que, sem dúvida, é um dos maiores escritores portugueses de Ficção Científica.

13 cómics clásicos de ciencia-ficción que merecen ser adaptados al cine o la televisión: Bem, merecedores de atenção são, mas há que temer a qualidade e fidelidade das adaptações. Até porque suspeito que nos dias de hoje, nenhum estúdio ou canal se atreveria a não diluir o fortíssimo lado político de Eternauta, Tank Girl chocaria as audiências, e uma adaptação fiel de Transmetropolitan seria imediatamente condenada em toda a linha por conservadores e progressistas.



Johnny Bruck’s cover for Atlan #589: Das Zeittal: Ovnis em aproximação. 

11 filmes de ficção científica soviéticos que inspiraram Hollywood (beirando o plágio!): Confesso que vi muito poucos, mas são filmes que na prática os fãs de ficção científica conhecem pela sua iconografia e influência cultural. 

A Lenda de Adora 1: Apesar de fantasia épica não estar entre os meus géneros literários favoritos, a maturidade do estilo gráfico e o currículo do criador despertaram a atenção.

Behold, the Book Blob: Quem gosta de livros depressa aprende a topar esta idiosincrasia. O design de capas vive de modas, de repente, todos os livros parecem ter o mesmo estilo visual, até ao momento em que nos apercebemos que a moda mudou e todos os livros passaram a ter um outro estilo visual, igualmente homogéneo.

Tecnologia

'Speaking Portraits' Make It Unsettlingly Easy to Turn Still Photos Into Animated Deepfakes: Mais uma machadada no real? O problema não é a tecnologia em si, mas a criatividade malévola de muitos dos seus potenciais utilizadores.

An Inconvenient Truth About AI: Muito resumidamente: há sempre humanos no laço.

TICO Robot Plays Tic-Tac-Toe by Drawing on a Tiny Whiteboard: Um projeto divertido entre arduino e impressão 3D. Pessoalmente, fico mais curioso pelo mecanismo que permite executar o desenho.

What if the internet failed?: Seria uma calamidade. Não pela chatice de não poder ver as novidades nas redes sociais. A conectividade e os serviços distribuídos na nuvem tornaram-se infraestrutura na economia digital. Falhar a internet implicaria falhas em cascata nos sistemas logísticos, financeiros e de saúde, entre outros.

textfiles: Fui recordado por uma newsletter deste arquivo clásico. Aproximem-se com cuidado, isto vem dos tempos de uma internet mais crua e aberta do que aquela a que estamos habituados hoje. 


Before Astro, these were the robots people invited home: Se o Astro da Amazon não está a despertar a reação wow pretendida (e, note-se, precisamos mesmo de mais um dispositivo intrusivo da Amazon nas nossas casas?), pelo menos tem o condão de nos recordar outros projetos percursores que exploraram o conceito de robot-companheiro. Pessoalmente, sempre quis experimentar um Aibo. E quanto aos Pepper, sempre que os vi em contextos onde havia crianças, fiquei espantado com a forma calorosa como as crianças reagiam ao Pepper.

The Turbulent Past and Uncertain Future of Artificial Intelligence: Recordar a evolução da Inteligência artificial, entre as suas diferentes vertentes e conceitos de desenvolvimento.

Amazon is hijacking our emotions to put robots in our homes: A nova proposta de robótica caseira da Amazon pode não ser especialmente sofisticada, mas está a gerar discussão, e a recordar a nossa curiosa propensão para estabelecer relações afetivas com máquinas. 

Hemos subido una foto de 108 megapíxeles a Instagram, Facebook y Twitter: así la han destrozado: Certo, soa horrível, perceber que uma imagem de alta qualidade partilhada em redes sociais é comprimida, com perdas, ao extremo. Mas façamos uma inversão do raciocínio. Reparem que raramente as partilhas em redes atraem atenção que se meça em para lá de poucas horas, não faz sentido económico e ambiental ter capacidade de armazenamento para que todas as imagens sejam em megapixels (especialmente sabendo que poucas horas depois da sua publicação, ficam esquecidas para sempre). Nem a qualidade das imagens que as redes sociais atraem merece isso. O melhor mesmo é usar serviços dedicados para publicar imagens de alta qualidade na web.

Streaming Was Supposed To Put A Pause On Piracy: Momento só que não, ou no shit, sherlock. A razão está na fragmentação de serviços pagos, para poder ver as excelentes séries que estão a ser produzidas, ou ao cinema em casa, é preciso subscrever um número elevado de serviços. Ou seja, a conta ao fim do mês fica alta. É curioso notar como fragmentação está na génese das decisões de criação de serviços de streaming audiovisuais, com aposta na exclusividade de conteúdos. Um contraste direto com os serviços de streaming musicais, cuja aposta é inversa, no deter as maiores bibliotecas musicais possíveis. Notem que se a pirataria de filmes e séries disparou com o streaming, a de música caiu para níveis irrisórios. Se calhar, o problema está no modelo de negócio e não na honestidade dos utilizadores. 

La explosión de la robótica y la domótica refuerza a un gran tapado de la educación: la FP de Electrónica: Uma interessante visão do sistema de ensino profissional espanhol nas áreas de eletrónica e robótica, com problemáticas e desafios que não estão muito longe dos que sentimos por cá. Entre currículos que necessitam de ser atualizados, o elevado custo dos materiais e a necessidade de formação contínua de professores (muitos dos quais poderiam ter empregos mais bem pagos na indústria) em tecnologias que evoluem com enorme rapidez. 

Technology Isn’t As Neutral As We Want It To Be: Os benefícios e programáticas trazidas pela explosão das tecnologias digitais recordam a história do martelo - tanto pode ser usado para pregar pregos, como para esmagar cabeças. Sublinha-se que a neutralidade da tecnologia recai sobre quem decide as formas como é usada. 

Extinct: Um fascinante ensaio sobre tecnologias extintas, que entre outras coisas, nos mostra que apesar da evolução tecnológica parecer implacável, muitas tecnologias consideradas obsoletas são ainda muito usadas, pela simplicidade e fiabilidade que adquiriram ao longo do seu uso.

Before 3D Prints There Were Plaster Copies: A antiga história das reproduções de obras de arte, algo que hoje se faz com digitalização e impressão 3D, mas já se fez com moldes de gesso.

Facebook, WhatsApp and Instagram are slowly returning. Why did they disappear to begin with?: Confesso que o grande e traumático apagão das redes sociais me passou completamente ao lado. É sempre fascinante ver como pequenos erros técnicos podem ter enormes consequências.

Kobo Sage y Kobo Libra 2: estos nuevos eReaders no solo montan una pantalla más rápida, sino que também tienen Bluetooth: Como leitor inveterado e muito fá de ecrás e-ink, estes novos Kobo despertam a atenção. Mas depois olho para o preço, e vejo que estão mais próximos de um tablet do que de um leitor acessível.

For Much of the World, Facebook Going Down Is a Disaster, Not a Joke: Nem reparei. Mas também não dinamizo nenhum negócio que dependa das redes sociais para vendas, ou uso intensivamente serviços de mensagem instantânea. A paragem da rede social, e serviços conexos, mostra o quanto esta se integrou como parte da infraestrutura da economia contemporânea.

The Facebook whistleblower says its algorithms are dangerous. Here’s why: De facto, o surpreendente é surpreenderem-se por esta rede social otimizar-se constantemente para obter o máximo lucro, sem prestar mais atenção aos danos que provoca do que algumas fingidas declarações de falsa preocupação. Talvez o pormenor digno de nota é a forma desestruturada como o faz; não há aqui arquiplanos do Zuck e companhia para determinar o sentido da opinião pública; apenas um imperativo de lucro, e equipas de desenvolvimento que implementam técnicas e algoritmos para o maximizar, de forma independente apesar de interdependente. Soa chocante, até porque o Facebook cooptou o espírito original de construção de comunidades online que nos vem dos tempos de uma internet mais livre e promissora. Mas não é nada de novo, o jornalismo passou pelo mesmo, hoje o tipo de jornalismo amarelo e sensacionalista de há 100 anos atrás (quando editores de gabavam de criar guerras para vender jornais) oscila entre o impensável e o mal visto. Houve evolução legal e em códigos de ética, talvez aquilo que precisamos de implementar nas redes socias, para começar a divergir de um ambiente onde discursos tóxicos são incentivados para garantir atenção e maximizar lucros.

Modernidade

Greenland Is Aiming To Build Its First-Ever Road Between Cities: Mas não esperem uma auto-estrada de doze pistas. É mais caminho de terra batida nalgumas zonas, mas fazê-lo deverá ser uma experiência assombrosa, nas paisagens desoladas da Gronelândia.

Uh Oh – A Looming Book Shortage?: Não. Não! NÃO!!!! Naaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaão! Efeitos secundários dos movimentos dos mercados. Olhando para o recheio da minha estante da vergonha, fico um pouco mais aliviado, tenho ainda bastante material para alimentar o vício.

On the Downfalls of Progress and the Utopian Promise of Fueled Abundance: Os historiadores do futuro vão escrever resmas de teses a tentar interpretar a obessão do século XX com os combustíveis fósseis.

The Moon Is Leaving Us: Curiosidades da mecânica orbital. E... lentamente. Muito, muito lentamente. Nada tipo o cenário Espaço: 1999, em que a Lua viajava à deriva pela galáxia. 

This Day In History: Germany's First Successful V-2 Rocket Test: Um dos momentos marcantes da aurora da era espacial, apesar de ter sido criado como uma arma capaz de elevada letalidade, como os londrinos vieram a descobrir durante a II Guerra. 

The Myth That Democracies Bungled the Pandemic: A suposta capacidade de governos autoritários em dominar a pandemia graças à sua facilidade de imposição de medidas draconianas tem sido uma das narrativas prevalentes nestes tempos. Mas o que é que os dados realmente dizem? Bem, primeiro há que discutir a fiabilidade de dados apresentados por regimes autoritários. À parte isso, apesar dos falhanços estrondosos de algumas democracias, e da dificuldade de controlo pandémico com restrições (numa ditadura podemos enfiar os negacionistas na cadeia, numa democracia, temos de os aturar), a verdade é que as democracias tem conseguido combater a doença, e sido bem sucedidas na vacinação. Até arriscaria dizer que o caso português é um desses excelentes exemplos.

Afghan Art Is Going Underground: Como reagir quando os zelotas do obscurantismo tomam o poder? Ir para o secretismo, tentando proteger o património cultural. O Afeganistão é o exemplo mais recente de momentos de conflito ou regimes repressivos que obrigaram aqueles que acreditam na cultura a tomar medidas extraordinárias.

Dubai hides Michelangelo's penis: Dubai, 2020, sintomas do progresso.

Munch Created a Chaste Version of His Infamous ‘Madonna’ Painting Hidden Beneath the Racy One He’s Famous For: Afinal, o quadro original de Much era mais casto do que a versão final. É este o encanto das técnicas de imagiologia aplicadas à história de arte, permitem ver o invisível.

“Three-Body Problem” Author No Longer Sure Humankind Would Unite Against Hostile Aliens: E não consigo deixar de imaginar os negacionistas, que negariam a existência das naves alienígenas mesmo que estivessem por cima deles. 

COVID-19 Is A Scary Preview of How We Might Handle Climate Change: Bem, imagino que um americano tenha especiais razões para ter medo, basta traçar um paralelo entre a estupidez evidenciada durante a pandemia (cujo custo se mede em vidas) e a forma como se está a reagir perante o aquecimento global. Um ponto de vista europeu seria menos pessimista. Mas a verdade é que estamos todos no mesmo barco, e de pouco serve dois terços do mundo se organizarem para responder aos problemas do aquecimento global mas um terço persistir em manter os níveis de poluição. Aquecemos todos, levamos todos com instabilidade dos sistemas climatéricos, subida do nível das águas do mar, secas,etc.. E o risco destes problemas incentivarem a subida ao poder de autoritaristas ainta agudiza mais a situação.