Esta semana, destacamos o 1º Congresso Internacional What if? no Porto, o fim de Doctor Who, os mistérios de Primo Levi, arquiteturas de doença e a boa televisão que se lê. Redescobrimos o infelizmente ainda não exterminado Clippy, os enviesamentos da Inteligência Artificial e o escândalo Pegasus. Ainda se fala de drones de combate, ou das perspetivas perante o tempo livro. Outras leituras vos aguardam, nas Capturas desta semana.
Ficção Científica e Cultura Pop
Art by Bob Layzell: Cenas submersas.
1st International Conference of ‘What if?...’ World History: Uma excelente notícia, o congresso portuense sobre ficções especulativas internacionalizou-se. Visitem o link para conhecer o âmbito do congresso, bem como condições e datas. É bom ver este evento crescer e ganhar novas dimensões.
THE REALISM OF OUR TIMES: KIM STANLEY ROBINSON ON HOW SCIENCE FICTION WORKS: Apesar de respeitar a sua qualidade e importância, confesso que nunca fui grande fã da escrita deste autor. Não deixa de ser uma das mais importantes vozes da ficção científica, e a sua intuição, do género como um novo realismo, que se atreve a olhar em frente e a especular, é um excelente ponto de vista.
Exterminate! Exterminate! Why it’s time for Doctor Who to die: Como whoviano confesso, devo dizer que as primeiras linhas deste artigo me fizeram aquecer o sangue. Colocar um ponto final no lendário Doctor Who? Como se atrevem, sequer, a sugerir? Mas na verdade até faz sentido. Por excelentes que sejam as séries e personagens, temporadas muito longas acabam por torná-las algo repetitivas, ou demasiado parte da paisagem mediática. Acontece a todas as séries demasiado longas. E aquelas que ficam na memória são as que tiveram temporadas curtas. Não é por acaso que Star Trek TOS ou Firefly se tornaram séries de culto - o seu fim prematuro estabeleceu a iconografia mas estimula a imaginação dos fãs.
Let’s Visit The Exclusive Disney Store Where No Tourists Are Allowed: Bem, os fãs dos gadgets demasiado caros com o logotipo da Disney irão ficar a salivar com a ideia de lojas exclusivas para os empregados da empresa, onde estes podem comprar as bugigangas a um custo muito baixo. O interessante no artigo é o vislumbre aos armazéns onde antigos adereços ficam guardados.
Until Proven Safe: É sempre interessante ler Geoff Manaugh, com a sua visão ballardiana sobre a arquitetura, e saber que tem um livro novo sobre infraestruturas pandémicas desperta a curiosidade. Mais curioso ainda, o livro começou a ser preparado bem antes do planeta mergulhar na pandemia de covid.
Peter Andrew Jones: Visões clássicas.
Primo Levi’s Last Moments: Um mistério psicológico e literário. A morte do escritor Primo Levi sempre foi considerada um suicídio, mas a análise dos acontecimentos mostra que talvez existam outras explicações, e que os preconceitos sobre a história de vida do escritor tenham levado os investigadores a aceitar a hipótese traumática.
“The Shadows of Lazarus”: Continued Steps in Horror Writing: Este foi um dos mais interessantes, e tenebrosos, livros de literatura de terror escritos por autores portugueses. O seu autor fala-nos um pouco do seu processo de criação.
Five SF Stories About Raising the Children of the Future: Cinco livros, verdadeiramente clássicos, que colocam a ideia de família no centro das suas premissas. Sendo clássicos, parte deles imagina crescer num mundo moldado pelo átomo.
Odyssey: Part 1 and 2 by Joan Piqué Llorens: Futurismos contemporâneos.
SurrealEstate a Supernatural Hidden Gem (So Give It a Chance, SYFY): Uma equipe de agentes imobiliários que se especializou em casas assombradas? Há aqui material para uma divertida série. Será que chega ao Syfy Portugal?
Estive a Ler: As Armas Secretas: Contos de Cortázar, autor argentino cuja obra está largamente editada por cá.
Mike Hinge: High tech.
The joy of metafiction: É um dos artifícios muito usados nos comics, o momento em que as personagens quebram a barreira com o leitor. Pode ser um recurso banalizado, ou uma forma de explorar a profundidade deste meio de criação.
The Rise of Must-Read TV: Já se tinha notado. Para alimentar a voracidade por séries, os produtores de televisão estão a virar-se para a literatura, especialmente para o tipo de livros que formam grandes arcos narrativos, divisíveis em formato episódico. A melhor televisão, hoje, lê-se primeiro.
Tecnologia
Watch Robots Make Pizzas From Start to Finish at an Automated Pizzeria: Bem, é o chavão clássico da automação e robótica. Para todas as tarefas que possam ser reduzidas a um conjunto específico de ações sequenciais, haverá robots para as desempenhar. Até mesmo fazer uma pizza.
Galileo the Science Publicist - Issue 103: Healthy Communication: Um ponto de vista inesperado. Galileu como divulgador científico, uma espécie de Carl Sagan ou Neil DeGrasse Tyson do renascimento. Porque insistiu em publicar as suas descobertas não no latim institucional, mas na língua que todos falavam, e concebeu um projeto de espalhar telescópios pela nobreza europeia, para os despertar para as maravilhas da ciência. Soa familiar? É o mesmo tipo de discurso das iniciativas STEAM, que cruzam tecnologia e educação.
Europa: Below the Impact Zone: Um termo curioso - paisagística por impacto, ou o ato de modelar uma paisagem através das colisões cósmicas.
Pornhub Is Now Offering Virtual Museum Tours: Er... é assim tipo Playboy, que obviamente era uma revista que se lia pela qualidade... literária dos artigos? Ainda por cima com atores a... representar ao vivo as cenas dos quadros dos museus. Nem sei muito bem como qualificar esta iniciativa.
Google Meet is getting a wider rollout on Google Glass: Uma notícia interessante a dois níveis: a sobrevivência do Glass como tecnologia de nicho, e o uso de videoconferência em ambientes de realidade aumentada trazido pela combinação Meet-Glass.
High-Tech Analysis Of *Exactly* How Museumgoers Look At Art: Utilizando câmaras, os museus italianos vão começar a analisar a forma como os visitantes dos museus reagem às obras de arte. Com isso, esperam ganhar conhecimento sobre o que atrai os visitantes, bem como formas de melhor gerir a exposição de obras.
Holly Herndon Deepfaked Herself Into a 'Digital Twin' That Sings Any Song In Her Voice: Um projeto intrigante, que cruza inteligência artificial, música pop e as novas possibilidades criativas trazidas por estas tecnologias.
Lost in Space: Olhar para o divertimento dos bilionários nas corridas espaciais, entre modelo de negócio, ideologia, pós-colonialismo, ambição e crescimento do fosso de desigualdades.
New Pentagon policy to accelerate use of 3D printing amid fresh cyber concerns: Tem se falado pouco de impressão 3D e tecnologias aditivas por aqui. Há uma razão para isso, a tecnologia saiu do deslumbre que era há poucos anos atrás, e normalizou-se, tornou-se mais uma ferramentas com diferentes vertentes, da caseira à industrial. É o paradoxo das forças realmente transformativas: quando desempenham o seu papel, tornam-se invisíveis.
MAGA “Freedom Phone” Is Actually a Cheap Chinese Phone With a Huge Markup: Há coisas que nem a ficção inventaria. Como este telefone direcionado ao mercado dos lunáticos trumpistas (essa epidemia difícil de erradicar), vendido como livre de censuras e interferências estrangeiras. Mas é feito na China, essencialmente um stok android low cost, ou seja, é exatamente aquilo que os trolls desta estirpe mais temem... ou temeriam, se tivessem neurónios para perceber realmente como funciona a intrusão, vigilância e cibercrime. Como luminárias é coisa que o público alvo deste dispositivo não são, está até a ser vendido pelo quádruplo do seu preço de custo. Mas essa lição, vem da Apple.
Google Maps Provided Users With a ‘Potentially Fatal’ Hiking Trail on This Mountain: Não há grandes novidades aqui, o Maps é terrível para orientações pedestres em zonas não urbanas. Já o senti na pele, ao perder tempo desnecessariamente à procura de uma anta neolítica numa serrania, com o Maps a indicar-me que o local estava mesmo em frente, e eu só via matagal intransponível. Dei com o sítio, com ajuda do Maps: desliguei as orientações de percurso, sobrepus a vista de satélite, manualmente pesquisei sobre o local. Descobri logo uma série de caminhos rurais (alguns vestigiais) que me levaram à anta. A lição aqui, que os caminheiros que se metem em percursos de fazer tremer cabras montesas aprendem de maneiras bem mais duras que a minha? Não depender de instruções automatizadas de caminho, cruzar os dados dos mapas com a geografia da zona onde estamos. O GPS, e a facilidade do Maps em mostrar-nos a geografia das zonas que visitamos é incrivelmente útil, mas há que saber usá-los, e não confiar cegamente na voz da máquina.
2021/07/12 DARPA Announces Researchers to Exploit Infrared Spectrum for Understanding 3D Scenes: O objetivo é o de desenvolver técnicas de visão computacional noturna para navegação de veículos autónomos, incorporando infravermelhos na captação de imagem 3D.
Revealed: leak uncovers global abuse of cyber-surveillance weapon: Na verdade, não há aqui grande novidade. O uso de ferramentas avançadas de vigilância por parte de governos com fama duvidosa em termos de direitos humanos é algo comum. Nem a extensão destas ferramentas surpreende. O que não significa que não se deva apontar estas situações. Mostram o quanto a sociedade digital é frágil, que as nossas ideias de privacidade e liberdade são facilmente derrubadas, graças a sofisticadas ferramentas de intrusão.
Imágenes con «superzoom» a superresolución mediante refinamiento iterativo: Graças a estes algoritmos, estamos mais próximos daquele sonho clássico da ficção científica - a capacidade de ampliar uma imagem, sem perder qualquer detalhe ou qualidade.
What the latest Pegasus spyware leaks tell us: Essencialmente, que não vivemos num mundo inocente, de busca pelas liberdades e garantias. Haverá sempre forças repressivas, e empresas com o conhecimento técnico para aproveitar as valências do digital, dando aos que querem enfraquecer a democracia e a liberdade novas ferramentas opressivas.
AI and Robots Are a Minefield of Cognitive Biases: Resumindo, projetamos as nossas expetativas e imaginação perante as reais capacidades dos robots. Especialmente quando nos surpreendem com uma ação muito bem feita, mas temos tendência a esquecer que a sua programação não lhes dá a mesma flexibilidade de ação que as capacidades humanas. Parte do discurso sobre robótica e automação é afetado por este viés conceptual.
A robot collision sparked a fire at the UK's top online grocer: Falámos aqui recentemente do espantoso armazém automatizado da Ocado. A mostrar que a lei de murphy está viva e se recomenda, não resisto a partilhar esta notícia de acidente com robots. Não num sentido de superioridade perante a máquina, apenas sublinhando que estas coisas acontecem, não são extraordinárias, apesar da tecnologia que as sustenta o ser.
Blue Origin takes its first passengers to space: Certo, o lado de brincadeira de bilionários não abona muito a favor disto, mas na verdade, os voos da Virgin Galactic e Blue Origin representam passos no sentido de uma maior acessibilidade do espaço, embora apenas no domínio do turismo. Posto isto, o New Shepard tinha mesmo que ter aquele aspecto de pénis erecto?
Brokered cell location data led to the outing and resignation of a Catholic official: Só para recordar que as aplicações que usamos divulgam, e muito, os nossos dados pessoais. Para mais, há empresas especializadas em recolher esses dados e lucrar com isso, mesmo que o custo se meça em vidas.
One of the biggest myths about EVs is busted in new study: Mesmo em países cuja infraestrutura energética ainda seja mairotariamente dependente de combustíveis fósseis, há um impacto positivo medível do uso de veículos elétricos.
Modernidade
La Guerre Aérienne 2.0: Este artigo vem da edição em papel da mais recente Fana de l'Aviation, e é fascinante. Normalmente concebemos os cenários de guerra futura como dependentes de sistemas de armas complexos e de alta tecnologia. A recente, e curta, guerra entre a Arménia e o Azerbeijão pelo controlo da zona do alto Karabakh mostra outra tendência: uma força armada capaz de vencer um adversário militarmente superior, graças ao uso judicioso de tecnologia, e objetivos de guerra bem definidos. Outro pormenor curioso, ambos deixaram de reserva os meios aéreos tradicionais. Os militares azeris destacaram-se pela forma como usaram drones de baixo custo para lançar ataques aéreos sobre tanques, posições de artilharia, concentrações de tropas e outros alvos. Uma estratégia que se revelou eficaz, e mostra que nestas coisas da guerra, por muito que os sistemas avançados sejam fascinantes, a capacidade trazida pelos drones de ter armas ofensivas de muito baixo custo, e capazes de atacar em enxame, sobrecarregando defesas, traz novos perigos. Ah, um pormenor admirável: outro truque inesperado - oa azeris transformaram velhos Antonov AN-2 em aviões remotamente pilotados, colocando explosivos neles, criando aquilo que o artigo apelida de "míssil de cruzeiro dos pobres".
LICENÇA PARA ODIAR: COMO NASCE UMA FILIAL DOS PROUD BOYS EM PORTUGAL: Nada como começar um novo projeto de jornalismo online com uma investigação explosiva, infiltrando-se num dos mais recentes movimentos extremistas que congrega falhados da vida e homens sem grande capacidade cerebral. Assusta saber que por cá também há proud boys, não só pela idiotice pegada das suas ideologias, mas também pela propensão para a violência destes rapazolas, que se orgulham de não terem sido bafejados com algo mais do que neurónios funcionais.
This Is Bad: A Swath of the Amazon Is Now Actually Harming the Planet: Sinal de doença no pulmão do mundo. A destruição progressiva da selva amazónica tem o bónus adicional de gerar zonas de savana, onde os incêndios se sucedem, contribuindo para a libertação excessiva de CO2 e outros efeitos nocivos na atmosfera.
A Brief History Of Gasoline: How Standard Oil Built Its Toxic Monopoly: No final do século XIX, as grandes empresas aprenderam a usar as táticas mais obscuras e longínquas dos conceitos de ética para dominar o mercado. Algo que ficou entranhado no ADN da economia global.
Why Your Leisure Time Is in Danger: Se valorizamos o tempo livre não por si só, ou pelos benefícios que nos dá, mas porque nos torna mais produtivos, não estamos a fazer bem a coisa.