Jane Foster: Valquíria, Vol. 1: O Sagrado e o Profano (Valkyrie: Jane Foster #1) by Jason Aaron, Al Ewing, Cafu (2020). Jane Foster: Valquíria, Vol. 1: O Sagrado e o Profano. São Paulo: Panini.
Quando o universo Marvel destituiu o clássico ícone de masculinidade que é Thor, colocando no seu lugar uma mulher, as hordes de fãs mais conservadoras rugiram com a indignidade cometida ao seu másculo herói. Polémicas à parte, a temporada de a Thor foi uma lufada interessante que refrescou os comics. Tinha o lado progressivo, colocando uma mulher como personagem central de aventuras que cruzam os antigos mitos nórdicos com as narrativas de super-heróis, e esse lado progressivo alimentava quer elogios, quer as chamas das culture wars. Mas acima de tudo, alicerçava-se numa excelente personagem: Jane Foster, uma médica que sofria de cancro, a quem o martelo de Thor considerou ser a única pessoa digna de o empunhar. Com um pormenor especialmente sacrificial: sempre que se transformava numa deusa para resolver qualquer das crises que normalmente só afetam super-heróis, como invasões alienígenas ou monstruosos super-criminosos, os efeitos da medicação anti-cancerígena e quimioterapia desvaneciam-se. Assumir o manto de Thor condenava, a cada nova aventura, Jane Foster à morte. Algo de insustentável, uma espécie de temporizador colocado pelos argumentistas para nos recordar que este estado das coisas seria sempre temporário, que eventualmente Thor voltaria a ser o musculado deus nórdico que, durante a temporada de Foster, se arrastava de tasco em tasco consumido pela sua indignidade.
A Marvel nunca desperdiça um bom personagem. Após o final do arco narrativo de Jane Foster enquanto Thor, insuflou nova vida como Valquíria, tornando-se a sucessora das guerreiras asgardianas capazes de acompanhar as almas dos guerreiros. Este Sagrado e Profano é uma clássica história de origem, mostrando-nos os primeiros passos titubeantes de uma nova heroína, insegura, desconhecedora da real extensão das suas capacidades, consciente da herança pesada, a ter de gerir uma vida dupla como médica e heroína, e ainda a ter de lidar com um cavalo alado falante, algo complicado para quem vive em apartamentos quando não está a incorporar o seu alter-ego. Apesar disso, mantendo-se uma figura feminina fortíssima, longe dos estereótipos sexistas pseudo-eróticos habituais nos comics, algo que o estilo gráfico da ilustração ajuda a sublinhar.
Robert Hickman, Pepe Larraz (2020). X-Men: Dinastia X / Potências de X, Vol. 2. Panini Comics.
No segundo grande arco narrativo de House of X/Powers of X, Hickman revela-nos um dos pilares da sua visão para os X-Men. Pega numa personagem importante, mas secundária, Moira McTaggart, e coloca-a no centro da narrativa, revelando que a geneticista amiga e antiga amante de Xavier é, também, uma mutante. Das primeiras, e com um poder estranho: vive sucessivas vidas, recordando sempre as vidas que viveu. O seu poder é viver as múltiplas possibilidades temporais, e depressa percebe que e escolher as pessoas certas, pode influenciá-las a mudar o futuro dos mutantes, evitando os piores futuros possíveis.
Robert Hickman, Pepe Larraz (2020). X-Men: Dinastia X / Potências de X, Vol. 3. Panini Comics.
Construir um novo futuro faz-se à custa de sacrifícios. No terceiro arco narrativo da série, os X-Men terão de ir ao espaço para eliminar uma forte ameaça, um sentinela controlado por inteligência artificial que está a ser construído por cientistas vindos das mais diversas organizações. Serão bem sucedidos, mas morrerão, o que nos revela outro dos segredos de Krakoa: os poderes combinados da ilha, de alguns mutantes, da base de dados de adn mutante coligida pelo vilão Sinistro e as capacidades de Charles Xavier permitem a ressurreição dos X-men, em corpos clonados. Também ficamos a conhecer o papel de Cifra, o mutante capaz de traduzir qualquer língua e que vive em simbiose com um alienígena tecnorgânico, tem no estabelecimento de uma comunicação entre os mutantes humanos e a ilha mutante.