Arthur Miller (2019). The Artist in the Machine: The World of AI-Powered Creativity. MIT Press.
O autor está claramente fascinado pelas possibilidades criativas das máquinas, dos algoritmos, como entidades autónomas. Tão fascinado que talvez lhes atribua maiores capacidades criativas do que aquelas que realmente têm, com um entusiasmo e deslumbramento que talvez ainda não se repercuta (ou o venha sequer a fazer, futuramente) no corrente estado da inteligência artificial, que, recordemos, é inteligente num sentido muito restrito, por muito surpreendentes, cativantes ou impressionantes que sejam os seus resultados. Miller sente um claro deslumbre pelo mito da máquina pensante e autónoma, ser artificial.
Taylor analisa, sem ir muito a fundo, o trabalho de artistas e investigadores contemporâneos que se dedicam a explorar estas tecnologias como ferramenta criativa. Em diferentes vertentes, desde as mais superficiais - usar GANs para gerar imagens e despertar o hype nos media, por exemplo, às que aprofundam a ideia de criação artística como algoritmia com métodos, passos, sequencias e variações, e que agora pode ser feita mediada por Inteligência Artificial, o que permite explorar novas vertentes e obter visões surpreendentes. Aqui, talvez a música seja a área onde isto se manifesta de forma mais profunda.
Há um intrigante elemento comum à maioria dos artistas/cientistas abordados neste livro: o seu caráter verdadeiramente multidisciplinar, o serem pessoas formadas em computação mas que de desde cedo também exploravam vertentes artísticas, desistindo ou mudando de áreas por perceberem que a sua intuição, de que as tecnologias de computação também poderiam ser ferramentas de expressão plástica, era demasiado estranha ou ainda não aceite. Esse lado seduziu-me, o de especialistas em IA que nunca perderam a ligação à pintura ou à música, e que agora usam as ferramentas algorítmicas para mesclar os mundos da computação e da arte.